Capítulo 30 - Balbúrdia

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- O que será isso? - André perguntou, parando o carro no acostamento. Nós chegamos perto das pessoas e perguntamos. Uma senhora baixinha se prontificou a nos deixar por dentro do assunto.

Basicamente, o nosso vizinho da esquerda, filho da dona da casa que alugamos, estava criando o maior barraco com a vizinha da direita. Tínhamos que ficar hospedados bem no meio?

A rua em que nos encontrávamos era bastante simples, embora ao mesmo tempo bastante organizada. E as casas pareciam pequenas e extremamente coladas umas nas outras.

Os curiosos formavam uma parede em torno da confusão, o que não nos permitia enxergar o que estava acontecendo de verdade, apenas ouvíamos a vizinha da casa da direita gritar coisas muito indecentes para o garoto, que, por sua vez, respondia algo como "internem ela" ou "eu não aguento mais".

- Que pervertida! - eu falei, meio abismada. - É muita falta de respeito. Essa mulher deveria passar alguns anos na cadeia pra ver se toma jeito.

- Luana é o nome da garota. E embora a mãe não admita isso, ela é esquizofrênica - a senhora fofoqueira sussurrou, me olhando com julgamento.

- Ah! - me arrependi de todas as palavras que eu havia acabado de proferir e não soube mais o que falar, então me calei. A senhora saiu de perto de nós e foi "curiar" mais.

A passagem para a "nossa casa" estava livre, já que o barraco se desenrolava na frente da casa do garoto insultado, mas não podíamos entrar, pois as chaves ainda não se encontravam em nossas mãos.

- E agora? - Pedro perguntou como se fôssemos os donos de todas as respostas.

- Ahn... Vai lá - falei. - Não podemos ficar aqui esperando até essa balbúrdia acabar.

- Quem fala balbúrdia? - ele indagou, levantando uma sobrancelha.

- Eu falo, uai. Quem que não fala balbúrdia?

- Eu não falo balbúrdia.

- Continuem aí nessa discussão empolgante que eu vou lá resolver isso - André disse, passando pelo meio das pessoas. Eu fui atrás e Pedro nos seguiu.

Os policiais estavam afastando as pessoas dali e um deles segurava a tal da Luana pelos braços. Confesso que se não fosse de dia eu teria ficado com medo do que vi. A garota pareceu que tinha saído de um filme de terror qualquer, já que usava um vestido branco abaixo do joelho (o que deveria ser proibido, pois assusta), os cabelos eram negros e longos e ela agora direcionava o olhar para mim. Havia cerca de vinte pessoas ali e ela tinha que olhar justo para mim?

Acho que desde que saí da minha tranquila e pacata cidade, virei uma espécie de ímã para confusões (balbúrdias).

Luana tentava se desvencilhar das mãos do policial para voar em cima da minha pessoa e eu estava rezando para que o homem fosse forte o suficiente e não a largasse de modo algum. Ela me olhava como se eu fosse a inimiga.

- Ela é a inimiga! - a garota gritou.

- Ah, mas que ótimo! - falei baixinho e fiquei bem acomodada atrás de André. A imagem dela era assustadora. - Resolvam isso logo e vamos sair daqui, por favor. É só isso que eu peço.

- TEM ALGUMA TEREZA AQUI? - Pedro gritou por cima do barulho que se infiltrava no local.

- Eu sou Tereza. Quem me quer? - uma mulher de peitos caídos e pele enrugada deu dois passos à frente.

- Ahn... Olha, eu só queria mesmo a chave da casa - Pedro fez questão de deixar aquilo bem claro, apontando para a residência que ficaríamos. - Eu sou o cara que falou com a senhora agora a pouco. Irei alugar a casa por um dia.

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