- Mira, finalmente chegaste, minha filha.
- Desculpa mãe, foi o último dia de instrução, e o nosso preletor parecia que nunca mais acabava com as suas recomendações. Mas Mãe estou tão feliz parece até que vou arrebentar de tanta felicidade. É amanhã mãe, finalmente vou embarcar no transplanetário e em seis meses estaremos juntas pela primeira vez.
- Eu sei querida, também estou ansiosa, não penso noutra coisa ultimamente. Quero tanto te ter em meus braços, cobrir-te de beijos e tocar-te novamente. Sinto falta dessa proximidade física, como do ar que eu respiro, falar contigo todos os dias não chega minha filha, fazes-me muita falta parece que uma parte de mim esta longe faltando. – Vi uma lágrima solitária descer pelo rosto querido da minha progenitora.
As palavras da minha mãe eram o reflexo dos meus sentimentos. Queria conhecer essa criatura maravilhosa, linda e delicada que me tinha trazido a este mundo. Não deixava nunca de ficar deslumbrada com a beleza dela, os seus cabelos cor-de-rosa claro eram compridos que chegavam quase a seus pés, era alta e curvilínea com um corpo simular aos humanoides, seios grandes e uma cinta fina seguida de uma anca larga e pernas intermináveis, fariam qualquer mulher terrestre roer-se de inveja. Até a tonalidade de pele diferente aumentava o seu encanto, lilas, mas muito claro, salpicada por umas pintas de um roxo mais escuro, tal como as pintas de leopardos, que formavam uma fina linha que percorriam o seu corpo, delineando o contorno da sua teste, criando um arco entre o cabelo e a pele que se vinha encontrar na base do seu pescoço e descia pelas suas costas e abrindo-se para percorrer todos os seus membros, acabando no contorno do dedo anelar das mãos o mesmo acontecendo nos pés.
Sempre que a via uma única palavra surgia na minha mente, fada, a minha mãe parecia uma fada, mesmo não tendo asas, era um ser etéreo e nunca poderia recriminar o meu pai por se ter apaixonado por ela. Ele nunca me disse, mas não devia ser fácil ter escolhido uma vida em que a presença constante da sua família lhe estava vedada. Via a esposa sempre que lhe era possível passar uns tempos no planeta dela, entre as muitas viagens que ele tinha de fazer ao serviço da aliança intraplanetas o que se tornava cada vez mais raro a medida que ia subindo na sua carreira de oficial. Eles estariam para sempre juntos e para sempre separados. Unidos por um amor enorme e separados pelas obrigações da vida.
De minha mãe tinha herdado várias características. Os nossos cabelos eram iguais. Ele já era comprido quando nasci e acompanhou o meu crescimento até a idade adulta, nunca foi cortado, pelo simples facto que não ser possível. A avó tinha-o diversas vezes tentado, mas sempre sem sucesso, as laminas não tinham nenhum efeito. A cor era outro problema, e ela fez-me passar um estranho ritual que tinha acabado há dois anos. Todos os meses desde o meu nascimento pintei os cabelos de castanho, dizia a avó que era mais fácil pintar do que contar, mas quando cheguei a puberdade, ter o cabelo de cores diferentes tinha-se tornado moda o que me permitiu deixa-los ao natural. Mas para além do cabelo agradecia aos céus ter recebido a dádiva das suas curvas voluptuosas, não que eu fosse vaidosa mas não via problema nenhum em ter sido beneficiada com esta vantagem. Do meu pai recebi a sua cor de pele, dos olhos e o espírito rebelde, o que ajudou na integração na minha vida na terra.
No momento em que os meus pais tiveram de decidir onde é que eu seria criada, este fator foi determinante. Eu tinha que ser capaz de passar despercebida em qualquer uma das culturas, para não levantar suspeitas. E acharam que era mais simples colorir o cabelo do que a pele inteira. Soube mais tarde que possivelmente herdaria as pintas também, mas essas só viriam quando atingisse a minha maturidade sexual e talvez a sua longevidade, que mesmo no povo dela não era comum.
As sacerdotisas de Atalaya, planeta da minha mãe, tinham o percurso traçado desde a nascença, herdeiras de uma linhagem que flui através do seu sangue. Filhas de altas sacerdotisas, eram treinadas desde a mais tenra idade para serem grandes sacerdotisas e depois da morte das suas progenitoras assumirem o seu lugar de Altas sacerdotisas. Só as meninas tinham direito a essa honra. A sociedade a que a minha mãe pertencia era matricial, os homens eram valorizados mas o poder da magia encontrava-se nas mãos de umas poucas mulheres que eram adoradas e veneradas como verdadeiras Deusas.
A minha Avó materna era a Alta Sacerdotisa do Akasha ou seja o quinto elemento cósmico, o espírito. Corria no meu sangue o poder do espírito e só esse me tinha sido transmitido e poderia por sua vez transmitir. Todos os elementos tinham a sua representação numa Alta sacerdotisa, salamandra para o fogo, silfos para o ar, ondinas para a água e gnomos para a terra. E a todas, sem exceção, eram proibidas as saídas do planeta.
Falava com a minha avó materna, uma vez por mês, desde que tinha chegado a idade de um ciclo, ou seja dez anos. Isto porque deveria começar o meu treino como sacerdotisa o mais cedo possível. Estava muito longe e a instrução devia ser feita por via hológrafo, o que condicionava grandemente a minha aprendizagem.
Ela era uma fiel defensora do sistema e não me deixava esquecer as minhas origens e o meu futuro. Eu era a legitima herdeira do seu lugar e do lugar que seria de minha mãe depois dela, esse era o meu destino. Ainda tinha algum tempo para viver a minha vida de humana, mas deveria assumir as minhas funções quando atingisse os dez ciclos, a mesma idade em que ela e a minha mãe tinham assumido as suas funções.
Entristecia-me o fato de que iria sobreviver a minha família terrestre, mas não podia fazer nada. Amava o meu pai profundamente, admirava o seu caráter e a força que permitiram que ele enfrentasse junto do amor da sua vida uma sociedade com valores profundamente enraizados. A diferença de longevidade foi preponderante para a aceitação da sua união, já que dela não se esperava prol. Os anos que sobrariam a minha mãe para ter uma filha de uma outra relação, desta vez com um da sua espécie, eram mais do que suficientes e por isso deixaram que eles vivessem o seu amor.
Sei que essa permissão teve um sabor agridoce, deixavam-no ficar com a mulher que ele amava porque ela tinha tempo de vida suficiente para poder casar e ter filhos com outro quando morresse. Segundo a minha mãe ele não hesitou, decidiu que de qualquer forma o amor deles era mais forte do que qualquer coisa e que de iriam encontrar uma forma de combater o tempo. E conseguiram. Ela acredita que terá sido essa fé cega no seu amor que fez com que eu viesse ao mundo. Eu era o fruto de um amor impossível.
- Mãe, sei que hoje gostarias de me dar algumas indicações sobre as minhas faculdades mas em vez disso podias contar-me novamente a minha história.
- Porquê? – Estranhou a minha mãe
- Não sei explicar, mas neste momento preciso disso. Amanhã vou enfrentar pela primeira vez o universo e sinto que preciso dela para me ligar a este.
- Queres desde o início ou a partir do casamento.
- Do início, sempre do início.
- Tudo bem, senta-te aos meus pés – Disse sorrindo e indicando com a mão o local onde ela queria que me sentasse, fiz o que pediu sem demora e a sua voz suave e delicada começou o raconto mais importante da minha vida, ou seja a minha história.
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Universo sem fim ( completo)
Science FictionExistem historias que são tão grandes que não podem viver somente num unico mundo... Neste universo sem fim exitem almas que foram feitas para se encontrarem. Entre guerras e conflitos o amor florece e se fortalece enfrentando tudo e todos. A histor...