Capítulo 8

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O silêncio prolongou-se durante mais uns segundos, antes de ser quebrado pela minha interlocutora, cuja expressão desmentia, a profunda preocupação que se fazia ouvir na sua voz

- O que me informa é deveras preocupante, e deve ser parado imediatamente. O equilíbrio do próprio universo depende disso. Não podem existir seres que vivem escravizados, subjugados a vontade de outrem. E pelo que me diz, podemos mais cedo ou mais tarde ver planetas inteiros a viver em cativeiro. Realmente, as noticias que me trás são preocupantes.- Repetiu novamente. - Agradeço desde já a amável oferta da Aliança, mas terei que a declinar. Vivemos a milênios pacificamente e sempre fomos capazes de enfrentar e resolver os nossos problemas. – Esta última frase provocou um ligeiro sorriso num rosto que até então se tinha mostrado impávido. Tive a sensação pujante de que ela não me estava a contar tudo e por isso insisti.

- Sua Alteza, foram-me dadas instruções específicas. Devo permanecer neste planeta até que esta situação se encontre completamente controlada.- Disse com ar solene. Tinha muito orgulho da missão que me tinha sido atribuída. Esperava há muito tempo pela oportunidade de fazer a diferença, desta vez tinha a missão de proteger o bem mais precioso da humanidade, a liberdade.- Outras guarnições foram atribuídas e encontram-se agora a ser instaladas em todos os planetas susceptíveis de serem atacados. Como vê a Aliança está a utilizar todos os seus recursos na defesa de todos os que se encontram indefesos. É esse o nosso propósito.

- Meu jovem capitão, reconheço a importância da Aliança mas, eu sirvo e protejo o meu povo junto das minhas irmãs, essa responsabilidade foi-nos atribuída pela grande Mãe Libânia. No caso de este ser objeto de alguma tentativa de violação será minha missão defendê-lo ao custo da minha própria vida se necessário. Não posso delegar a ninguém o papel que me foi atribuído. O nosso povo não é guerreiro e nunca foi necessário lutar. Percebo que os tempos mudaram e que o fato de agora existir a possibilidade de percorrer o universo dentro de uma simples nave espacial, coloca o meu pequeno planeta ao alcance de outros povos que carecem da mesma pacificidade de que nós, mas tal não invalida que o meu papel permaneça o mesmo. Saberemos como sempre soubemos nos defender. – A força da sua voz refletia a força do seu caractere, não deixando dúvidas quanto a veracidade das suas afirmações. Mas ainda assim, o mesmo encargo me tinha sido atribuído e não deixaria o planeta até que o tráfico sexual estivesse completamente erradicado e este já não corresse perigo, tais tinham sido as minhas ordens e o meu sentido de honra não me deixaria proceder de outra forma.

- Sua Alteza, entendo a sua relutância em albergar estrangeiros no seu seio, e julgo que será a primeira vez que acontece e ainda por cima durante um tempo indeterminado, mas garanto-lhe que qualquer estranheza irá desaparecer em pouco tempo. O meu contingente é pequeno e está habituado a integrar-se a novas realidades, o que inicialmente parecer estranho rapidamente tornar-se-á habitual. A nossa presença ao fim de um mês já nem será notada.- Afirmei seguro de que seria a invasão da privacidade a causa de tanta reticência em aceitar a nossa ajuda.

- Desengane-se meu jovem, a razão pela qual não precisa cá ficar para nos proteger é a mais óbvia, nós simplesmente não precisamos de proteção.- Afirmou convicta.

- Não querendo ser desrespeitoso, mas o seu povo é pacífico, nunca lutou e não se encontra preparado para enfrentar uma qualquer crueldade, que inadvertidamente vos venha bater a porta. Proponho-lhe o seguinte, ficaremos cá até que tenhamos a certeza de que poderão defender-se sozinhos, sem a intervenção da Aliança. E para isso proponho treinarmos um grupo de seus compatriotas, por vós escolhidos, para que estes uma vez prontos possam, por seu turno, treinar um verdadeiro exército de guerreiros capazes de defender o vosso belíssimo planeta.- Estava firme na minha intenção de ficar e fixei o meu olhar na minha interlocutora. Passaram-se o que me pareceram vários minutos, a nossa linguagem corporal era clara, estávamos a medir forças, e pouco a pouco a vi cedendo, quando apareceram o que julguei serem os primeiros sinais de fragilidade, um ligeiro piscar de olhos e um certo relaxamento,  descontração se apoderou do corpo da minha adversária ou pelo menos foi o que me pareceu.

- Nós nunca precisamos de guerreiros para nos defendermos.- Afirmou numa última tentativa de afastar a nossa ajuda, mas não vendo qualquer sinal de abdicar da minha parte continuou – Mas vejo que não irá ceder e por isso dou-lhe um mês, um único mês para treinar um punhado de guerreiros que irei escolher. Percebo que não pode ir contra uma ordem que lhe foi dada e respeito a sua determinação por esta ser muito similar a minha.

- Sua Alteza um mês é muito pouco tempo, preciso de pelo menos cinco meses para treinar devidamente esses guerreiros, uma garantia lhe dou, não deixarei o seu planeta enquanto não tiver a certeza de que este se encontra devidamente protegido.- Afirmei, contente por finalmente ela ter capitulado.

- Meu jovem, admiro a sua perseverança mas detesto teimosia, especialmente quando esta é dirigida a decisões que só a mim cabe tomar. Cinco meses não serão com certeza necessários para preparar alguns guerreiros, dou-lhe três meses, mas simplesmente porque sei que qualquer aprendizagem se consolida através de repetições incessantes. O meu povo tem uma capacidade enorme para aprender como poderá comprovar por si mesmo e três meses serão mais do que o suficiente. Amanhã de manhã serão encaminhados para o nosso campo de treino onde estarão alguns dos nossos jovens mais talentosos - Dizendo isso levantou-se dando assim por encerrada a sessão, segui-lhe o exemplo saudei-a com um ligeiro aceno de cabeça e retirei-me.

Uma jovem estava a minha espera no corredor para me acompanhar, tinha a ligeira sensação de que os meus movimentos seriam sempre monitorados enquanto me encontrasse no palácio, faltava saber se o mesmo aconteceria quando me movimentasse pelo planeta. Não pude deixar de sentir uma ligeira irritação, sabia no entanto que era comum esse controlo por parte de quem não nos conhece quando estamos a invadir o seu espaço e esperava que a situação melhorasse com o tempo e que até lá teria que me conformar e seguir os preceitos estabelecidos. Mas não pude deixar de pensar que a ser-me atribuído um acompanhante não seria de todo desagradável que esta fosse Suniza.

O resto da noite que se seguiu representou uma verdadeira tortura.

Voltei para o salão e reuni-me com os meus homens que se encontravam a assistir a um espetáculo de dança levado a cabo em nossa honra. Não foi preciso mais do que simples sinal de cabeça para responder a pergunta muda que vi em todos os seus rostos. Sim, já estava tudo tratado. Iríamos fazer um breve breafing antes de nos recolhemos mas ficava já a indicação de que já tinha colocado a nossa anfitriã a par da situação e do que nos tinha levado até ai seu planeta.

Mal me acomodei numa das almofadas, uma das bailarinas chamou-me imediatamente a atenção. Não conseguia, por muito que o tentasse, afastar o meu olhar do corpo que ondulava a minha frente com uma graciosidade incomparável. Seguia embevecido todos os seus movimentos, que expunham o seu corpo sutilmente. As bailarinas estavam vestidas com um traje que mais revelava do que escondia, o top mal cobria os seios avantajados que eram característicos da fêmeas dessa espécie e a saia assentava no quadris com recurso a uma tira de  tecido que parecia que ia cair a todo o movimento feito pela bailarina. Passou a ser um jogo... apostava comigo quando é que finalmente iria acontecer. Mas esse jogo acabou depressa demais, não passaram dez minutos antes que elas se retirassem e não voltassem mais. A ansiedade passou a acompanhar todos os meus momentos, esperava que ela voltasse. O que não veio a acontecer.

Uma pergunta rodava incessantemente na minha cabeça – Quem seria ela?

Tinha-se colocado a direito da Alta Sacerdotisa no grande salão, o que noutras culturas costumava representar um vínculo com a família do governante, mas de seguida foi convidada a acompanhar-me, papel que normalmente era ocupado por um subalterno. Agora tinha-se tornado numa bailarina. Confusão... era esse o sentimento que tinha, não conseguia chegar a nenhuma conclusão e ainda existia aquela sensação de que a Alta Sacerdotisa a tinha em alta consideração. E esta obsessão por ela que não me deixava, estava a começar a deixar-me louco. Sempre vivi a minha relação com os seres que entravam na minha vida de uma forma pacífica e natural. A sucessão de seres enriquecia a minha vida e eram sempre bem-vinda, mas desta vez o impacto estava a ser mais profundo e intenso, ainda não me encontrava à vinte e quatro hora neste planeta e já a minha mente se encontrava completamente absorvida por ela.






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