O jantar chegou ao fim sem nenhum incidente e quando a Alta sacerdotisa se colocou de pé, todos a seguiram até uma outra sala.
A mesma sumptuosidade simples revestia-a, almofadas coloridas bem maiores do que aquelas que nos tinham servido de apoio para o jantar se encontravam agrupadas de forma a criar vários ambientes. Nunca tinha tido oportunidade de ver o material com o qual elas tinham sido confecionadas. Uma mistura de plástico com lá, de cores suaves mas que corriam todas as tonalidades de um arco iris com um toque aqui e ali de dourado.
As paredes altas encontravam-se revestidas do que a primeira vista pareciam cortinas. Longos pedaços de tecidos que flutuavam ao sabor de uma leve brisa que se fazia sentir em todo o recinto, mas que para minha surpresa trazia reconforto e relaxamento. Mas a sua textura parecia diferente aos meus olhos, sem que eu soubesse explicar porquê. Elas pareciam uma representação viva do fogo, tinha as suas cores e o seu desenho e o mais estranho pareciam mexer-se como se estivessem vivas.
Do amarelo dourado quase branco na sua base, a medida que as labaredas iam subindo a sua cor alaranjada ia intensificando-se até se tornarem em um vermelho vivo que parecia lamber o teto negro que nos cobria.
Tudo aqui era surpreendente, se algum dia me pedissem para descrever o paraíso, com certeza iria tomar Atalaya como ponto de referência.
Uma nativa conduziu-me a uma almofada e as bebidas foram servidas. Esta sala era dedicada ao relaxamento, tudo nela o indicava. Este costume de descansar ou até mesmo de divertir-se depois da refeição da noite há muito tinha caído em desuso no meu planeta. Até mesmo as reuniões ou festas como muitos gostavam de lhes chamar tinham sempre o intuito de estabelecer laços comerciais ou discutir assuntos que embora importantes não precisavam de um ambiente mais pesado para que fossem tratadas.
Dos relatórios que tinha lido, sabia que a Alta Sacerdotisa estava a espera de uma mera visita de cortesia, de onde nada de relevante podia surgir. O desenvolvimento tecnológico não apontava em outro sentido. Infelizmente o assunto que me levava ali era outro e tinha a sensação que a minha proposta não seria bem-vinda.
- Diga-me então jovem o que o trás até ao nosso planeta.
- Pensei que queria esperar pelo nosso encontro de amanhã.
- Essa era efetivamente a minha intenção inicial, mas cada vez que olho para si não consigo deixar de pensar que os motivos que vos trouxe cá desta vez não são os mesmos dos seus antecessores. Estarei enganada?
- Infelizmente não. Esta visita não é de cortesia, e preferia reunir-me com sua alteza num ambiente mais privado para discutir o assunto, já que este reveste de alguma importância e não é passível de ser adiado por muito mais tempo.
A Alta sacerdotisa deve ter pressentido alguma da urgência na minha voz, e sem demora colocou-se de pé fazendo-me sinal para que a acompanhasse.
Fui seguindo-a através da sala, não sem provocar um certo alvoroço, que mesmo contido, não me passou despercebido, e automaticamente deduzi que este não era um comportamento normal na minha anfitriã que devia normalmente respeitar certas regras que estariam agora a serem quebradas.
Atravessamos o corredor e entramos num aposento em tudo similar a um escritório. O ambiente era pobre quando comparado a sumptuosidade que tinha encontrado nas outras dependências do palácio. As paredes brancas encontravam-se despidas de qualquer adorno, a secretária era feita em madeira nobre num corte clássico em tudo similar ao que podia ser encontrado na terra no século dezoito. Reconheci o estilo pelos muitos museus que a minha mãe me tinha obrigado a visitar.
A Alta sacerdotisa esperou que eu entrasse e fechou a porta atrás de mim indo depois sentar-se a sua mesa convidando-me a fazer o mesmo. Não pude deixar de ficar impressionado com a força que emanava daquela mulher, nesse momento voltei a infância, sentia-me como um garoto pronto a receber um raspanete por uma travessura qualquer que tinha acabado de cometer.
- Diga-me o que o trás por cá, já que me parece de que não se trata dos mesmos assuntos triviais que os seus antecessores trouxeram –O seu olhar perscrutante e o som da sua voz imperiosa, não me deixaram duvidas, soube que não podia florear ou tentar amenizar a gravidade do que estava para acontecer, mas não o pude evitar.
- Sua Alteza fui encarregado pela Aliança para a alertar para um fenômeno que se tem vindo a propagar pelo seu sistema solar e consequentemente oferecer-lhe a nossa proteção e ajuda, que como sabe nunca é posta a disposição sem ser solicitada, mas o caso é de tal forma grave que temos que impedir que se alastre para os sistemas solares adjacentes. Devemos conter imediatamente a sua progressão sob pena de suas consequências serem devastadoras para o universo e para a humanidade.
-Sim, sim.- Disse, a sua voz denotava alguma impaciência – Diga-me logo do que se trata, estes seus rodeios não estão a ajudar em nada.
-Peço desculpa, não era a minha intenção alongar-me desta forma...mas não sei como colocar o assunto.- parei um segundo e continuei, pois sabia que não mais podia adiar.- Sua alteza, tomamos conhecimento de que um grupo de indivíduos tem vindo a sequestrar fêmeas de diversas espécies para fazer delas escravas sexuais em bordéis espalhados pela galáxia. Como sabe o cruzamento natural entre espécies não é possível, mas isso não invalida a possibilidade de existir envolvimento sexual. A procura por novidade tem fomentado e aumentado o número de raptos detetados ultimamente. O que começou com um evento pontual está a tornar-se um verdadeiro drama. Filhas arrancadas do seio de suas famílias para servir os seus compradores sem possibilidade de um dia virem a ser libertadas e quando finalmente se encontram esgotadas são mortas e abandonadas como se de animais se tratassem. A fiscalização que estamos a levar a cabo não está a produzir efeitos. Os donos dos bordéis parecem conhecer todos os nossos movimentos. Quando detetamos que num deles existe esse tipo de ofertas corremos para desmantelá-la mas, quando lá chegamos, já fizeram desaparecer qualquer vestígio da presença das meninas. Estamos impotentes e por isso foi decidido ir a raiz do problema procurando proteger os planetas que poderão ser alvos de investidas.- fiz uma pausa - O que nos leva ao seu, por este ser o alvo perfeito para um ataque. As vossas fêmeas são lindas e serão certamente alvo de cobiça, o vosso planeta carece de um desenvolvimento tecnológico mais avançado e nenhuma força militar, o que faz com que tudo somado, sejam perfeitos para um ataque. – Parei para observar a minha interlocutora.
Esta permanecia quieta, com uma expressão impassível. O que tinha acabado de lhe contar parecia não ter tido qualquer efeito. Não existia nenhum sinal de alarme ou preocupação, o que achei muito estranho. Sabia que essa passividade devia significar alguma coisa, só não sabia o que era...
Comecei a desconfiar que haveria algum segredo, ou algo nos estava a ser escondido.
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Universo sem fim ( completo)
Science FictionExistem historias que são tão grandes que não podem viver somente num unico mundo... Neste universo sem fim exitem almas que foram feitas para se encontrarem. Entre guerras e conflitos o amor florece e se fortalece enfrentando tudo e todos. A histor...