Universo sem fim ( completo)

Capítulo 35

Carreguei com um orgulho imenso o corpo desanimado da minha mulher. Esta criatura extraordinária, dotada de poderes ainda mais extraordinários e de uma sensibilidade que ia para além da própria vida tinha-me escolhido para ser seu parceiro, seu companheiro de  vida como ela carinhosamente dizia.

Depositei-a no leito da mesma câmara onde a tinha tentado prender quando chegamos ao planeta. E fiquei ali observando-a, protegendo-a. 

-Capitão estamos prontos para descolar, quais são as suas ordens ?

-Vamos embora Anton.- respondi olhando para o meu imediato que não largava a mão da sua Ephy.

Enquanto se afastavam ouvi-o dizer.

-Não minha querida, é ele que tem de tomar conta dela.

Os meus homens assumiram a nave, eles não precisavam de mim para isso. Antes de deixarmos o Kolomona tinha-me despedido de um Kirck exultante e de um planeta que festejava uma liberdade recém adquirida mesmo sabendo que o caminho para a reconstrução seria longo. Mas antes de partir ele disse-me, afastando me dos outros

-A profecia estava correta...-Olhei para ele sem entender, até que me veio a mente aqueles versos que ainda pouco sentido faziam para mim. -Mas sinto que esta incompleta...a parte da semente não me sai da cabeça. Enfim acho que um dia haveremos de entender. -E sem mais deu-me um abraço e foi embora deixando-me intrigado.  

Quando comecei esta viagem não sabia que iria ajudar a salvar um planeta e muito menos que eu iria encontrar a minha mulher. Sabia que tudo o que nos tinha acontecido ia contra as próprias leis da natureza...dois seres de espécies diferentes não podiam se juntar, viver e procriar...esse pensamento tinha me assaltado quando a vi iluminar-se e destruir o exercito inimigo...

Tudo entre nós tinha acontecido rápido demais...num momento começava a apaixonar-me e no seguinte estava ligado para sempre. Não que me queixasse....ela era divina mas estaria eu a altura de tal criatura...não deixava de ser um simples humano, sem grande relevância na própria hierarquia da união e na ordem do universo...banal.

Ouvi um gemido e  voltei a realidade, depois de me assegurar que tudo estava bem com ela e que não iria levantei-me e observando o firmamento escuro pontilhado de estrelas deixei-me levar pelas divagações até só uma certeza habitar no meu coração. Não podia viver sem ela.

Horas passaram antes  da minha jovem esposa voltar a si. Estávamos no palácio,  nos aposentos que como jovem casal iríamos partilhar. Quando chegamos a Alta sacerdotisa, minha sogra,  encontrava-se a nossa espera e pouco ou nada tive de explicar acerca do que  tinha acontecido. Ela apenas me pediu para nos reunirmos quando Suniza voltasse a si, o que depressa concordei em fazer, já que tinha imensas perguntas para que precisavam ser respondidas. Mas antes de se despedir ela ainda me disse.

-Não se preocupe tanto com o futuro...apenas confie...nada do que aqui aconteceu foi por acaso.

-Mas ...

-Depois falamos...apenas descanse que bem precisa capitão. E...obrigado por amar e  proteger a minha filha. - A mãe da minha mulher deixou pela primeira vez cair o véu que escondia os seus verdadeiros sentimentos, e pude ver nos seus olhos todo o amor que ela sentia pela sua cria.

Acordei, e o horror do que tinha feito voltou até mim. O fato de saber que tinha sido a unica solução e que aqueles seres malvados não se teriam vergado perante outra coisa não era fator de consolo e imediatamente comecei a chorar aniquilada por aquilo que eu era capaz de fazer.

Não fiquei surpresa quando me vi no maio dos braços confortáveis do meu companheiro de vida. A intensidade dos meus sentimentos devia ter chegado até ele e a sua serenidade pouco a pouco acalmou o meu coração ferido.  Completávamo-nos. Precisava dele para encontrar o meu centro. 

-És a minha vida

-E tu a minha. Só não sei como vamos conseguir manter essa união! 

-O que queres dizer com isso?

-Eu sou um oficial da Aliança, a minha vida é viajar a menos que venhas comigo não sei como faremos.- Disse desolado, porque sabia o  isto significava para a minha mulher. Ela encarou-me e ia responder quando ouvimos uma coisa batida a porta da sua câmara, que se abriu logo de seguida deixando passar a grande sacerdotisa. Esta adentrou no aposento é veio sentar-se em toda a sua majestade no assento que se encontrava junto do leito onde a minha amada se encontrava ainda deitada e onde  me tinha recostado.
- Vejo que te encontras recuperada, minha criança. - e devagar acariciou-lhe a cara com a mão. - vim falar com vocês os dois porque agora que as coisas se acalmaram por uns tempos algumas  decisões têm de ser tomadas. O que aconteceu aqui não pode para já ser partilhado.
Assentimos os dois com um ligeiro movimento da cabeça.
-Sei que é vos pedir muito mas não temos outra escolha, o universo não é esta preparado para um casal de misto e tudo o que isso implica. Capitão podemos confiar na sua tripulação para manter o segredo?
-Confio neles como em mim mesmo.
- Ótimo. Então proponho o seguinte: enquanto estiverem no palácio aqui em Atalaya poderão viver como um casal, quando estiverem perante os olhos do mundo irão se comportar como amigos ou até meros conhecidos. Que me dizem?
-Acho que é a solução ideal, mas pelo menos é para já. - Afirmou o meu companheiro de vida rapidamente.
-Mas mãe nós só nos vamos encontrar aqui, não tenho intenção de partir ... Alias não posso como bem sabes.
-Podes por um tempo limitado. Estás ligada a essência deste planeta mas isso não invalida que possas passar algum tempo afastada. Dois anos... Podes sair daqui por dois anos sem colocar nada em risco. Que diriam de partir numa lua de mel por esse tempo.
Olhamos um para o outro e sem precisar de palavras chegamos a mesma conclusão.
-A Suniza tem de ver o universo para saber o que é que ela acabou de salvar. Vamos aproveitar essa oportunidade para o fazer n e agradecer a para desenvolver os laços que nos unem.
-Suniza, e tu minha criança?
-Sabes que concordo!
-Então está tudo decidido!

Partimos pouco tempo depois, durante essa viagem concebemos a criança mais especial do universo inteiro.