Capítulo 4

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Os nossos convidados chegaram num lindo entardecer, no preciso momento em que as três luas de Atalaya escondiam-se atrás das montanhas da cordilheira central que dividia naturalmente o planeta em duas zonas distintas. O céu pintava-se devagar das cores do anoitecer, mesclando tonalidades de vermelho e negro com uma pincelada de branco, o que representava um bom augúrio. Raramente o céu assumia essas cores de fogo, o preto do universo adotava depressa o seu lugar quando a noite chegava deixando pouco espaço a que o vermelho das luas com ele se misturasse, mas hoje era diferente, o meu coração sabia-o.

A nave na qual vieram não era especial, de pequenas dimensões era um transportador voador como já tinha visto alguns ao longe, a grande diferença era que este servia para trazer para terra os visitantes a quem tinham sido atribuídas as funções de embaixadores, exploradores e conciliadores da aliança. Apreendi ao longo dos ciclos que os delegados da aliança, tinham várias funções, o que lhes permitia fazer uma análise rápida das potencialidades de cada planeta sem interferir com o desenvolvimento natural de cada um deles.

Segundo aquilo que nos tinha sido dito, o propósito das suas visitas era o de recrutar e formar alianças com povos evoluídos que pudessem ser de mais-valia para a aliança, esta em contrapartida comprometia-se a dispor de toda a sua frota para combater qualquer inimigo que um dia pudesse vir a ameaçar a vivência pacífica que se desenvolvia no seio de cada um dos planetas aliados.

Sabia que no nosso pequeno planeta perdido nos confins do universo nunca seria do interesse dos dirigentes da Aliança. A nossa cultura não estava dirigida para a evolução tecnológica que eles tanto ambicionavam, porque, simplesmente não precisávamos dela. A nossa existência pacífica tinha como único intento manter o equilíbrio da essência e para isso não precisávamos de mais nada do que a força e poder das nossas sacerdotisas.

Mas por alguma razão esta visita embora com o propósito aparentemente igual a anterior seria muito diferente. Nós tínhamos percebido que o equilíbrio tinha sofrido algumas pequenas alterações, mas nada de verdadeiramente significativo e que merecesse a nossa preocupação ou mesmo atenção. Mal sabia eu que a minha vida iria sofrer uma grande alteração por causa dessa flutuação.

Depois de terem pousado a nave no centro de aterrissagem, os nossos visitantes foram conduzidos até a sala do conselho, esta situa-se no edifício que domina a cidade central. Encontrava-me a espera, com o coração palpitante, cheia de uma ansiedade inexplicável, sentada a direita da minha mãe, como todas as filhas devem se encontrar.

Entraram sem nenhuma formação específica, a curiosidade estampada nos rostos de feições para nós estranhas. Não deixava de ser irônico o que se passava neste momento, nós observávamos os visitantes com a mesma curiosidade com que eles tentavam absorver toda esta nova cultura que se lhes desvendava. Podíamos ser todos diferentes mas algumas características eram transversais a todas as espécies.

E como todos os outros, observei cada um deles detalhadamente. A comitiva era composta por dez pessoas que provinham de diversos planetas. As suas fisionomias não poderiam ser mais distintas umas das outras, mas tinham em comum a aparência humanoide. Um tronco do qual saiam membros, em geral quatro, encabeçados por um apêndice redondo que servia de centro de comando para o todo. Era uma descrição pobre para a grande variedade de seres que derivavam de uma mesma forma, mas não me ocorria melhor maneira de descrever as nossas similitudes.

Reconheci dois Tiwazianos, eram de um verde escuros, como o pântano de onde vinham, o cabelo eram como lianas que desciam entrançadas por suas costas largas, eram criaturas poderosas e tendencialmente hostis, as suas feições eram muito parecidas com as nossas, o que me conferia um certo conforto.

Do planeta das águas eternas seguiam três indivíduos cobertos de escamas que variavam entre o azul-escuro e o branco azulado, as suas faces eram uma mistura homogênea entre os peixes que existam nos nossos oceanos e as do meu povo. Estranhos de olhar, sem nariz, tinham o que pareciam ser guelras que ocupavam grande parte de uma cabeça que assentava num tronco largo sem recurso a um pescoço, não tinham cabelo o que deixava a mostra o seu dispositivo respiratório. Este era peculiar, a primeira vista ele possuíam apenas guelras, mas sabia através da minha instrução, que eles tinham desenvolvido a capacidade extraordinária de conseguirem retirar do ambiente onde se encontravam, qualquer que ele fosse, as substâncias necessárias para respirarem. Este povo era conhecido como os Katarãs, filhos de Katar.

O mais bizarro, pelo menos para mim e para os da minha espécie, era o insectroides que os acompanhava, para além de terem um exosqueleto preto, tinha na mandíbula duas presas que serviam, como viria a ver mais tarde, para ajudar empurrar a comida para dentro da cavidade que lhes servia de boca.

Os outros quatros elementos eram bastante similares entre si, julgo que um era Serpenses, um Corvéus, estes da constelação de Virgem e dois terrestres. Todos tinham uma pele e cores similares. A natureza da essência era comparável nesses planetas o que permitiu que os seus habitantes tivessem uma evolução semelhante.

Estava tão absorta na minha análise das criaturas que se apresentavam a minha frente que fiquei surpresa quando aquele que parecia o seu líder tomou a palavra. A sua voz era profunda e cadenciada e provocou uma profunda impressão em mim.

Dirigi-lhe um olhar mais atento e a medida que o observava ficava cada vez mais fascinada. Ele era um terrestre, e como tal, tinha uma pele de uma tonalidade creme, uma cor suave que traduzia paz, seus olhos eram azuis, cuja cor se assemelhava a da flor de Pávia, símbolo da nossa civilização. Os contornos do seu rosto era masculino mas harmonioso, testa alta, nariz aquilino, um queixo quadrado e forte, se a sua cor de pele fosse a de um Atalayano diria que era um exemplar perfeito, atraente de morrer por mais. Os seus cabelos eram dourados, essa cor era nova para mim, sabia que existia noutros mundos mas não passava de uma lenda que era contada aos nossos jovens. O homem era muito alto mesmo para a sua espécie, devia medir mais do que dois metros de altura e a sua constituição era robusta, cada um dos seus músculos era facilmente observável, pois encontravam-se desenhados contra a fina película azul que cobria o seu corpo e que fazia vez de uniforme.

Ele falava, eu sabia que ele o fazia, mas eu não ouvia uma única palavra que saia da sua boca formosa, estava absorta na minha demanda. Estava decidida em não deixar fugir nenhum detalhe da sua fisionomia.






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