Capítulo 9

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Antes de me poder retirar para a minha câmara, ainda teria que passar no alojamento de minha mãe, está tinha convocado a minha comparência durante o jantar.

Depois de bater a porta entrei e fui sentar-me a frente da grande secretária que dominava o quarto dela e esperei como de costume que ela se dirigisse a mim, pois só nesse momento é que teria autorização para dirigir-lhe a palavra. Poucas eram as conversas que mantínhamos como mãe e filha, debatíamos normalmente as questões relacionadas com o estado e o desenvolvimento do nosso mundo, tema ao qual raramente fugíamos, por ser esta a nossa preocupação constante. Os assuntos mais íntimos eram raramente abordados por serem motivo de grande desconforto entre nós.

Sem preâmbulos a minha progenitora começou.

- Suniza, ficou decidido com o Capitão Mikael que seria treinado um grupo dos nossos para que estes se tornem guerreiros. Ele julga importante que tenhamos um meio de protegermos o nosso mundo e a nossa gente no caso de algum ataque ocorrer. O treino começa amanhã e já procedi a convocação dos membros que farão parte desse novo grupo de servidores que vamos criar e que vai passar a fazer parte integrante da ordem do espírito. Reuni-me com as outras Altas sacerdotisas e todas concordamos de que chegou o momento certo para o surgimento dessa nova categoria de serviços. O nosso planeta está ao alcance de qualquer viajante e não podemos correr o risco de que o poder da Deusa seja conhecido. Devemos ter, pelo menos em aparência, um mecanismo de defesa considerado "normal". Ficou decidido também que este grupo ser-te-ia entregue, assumirás a sua liderança e o guiaras.

- E quais são precisamente as minhas obrigações como líder?

- Deveras cuidar para que o Capitão e os seus homens não se apercebem das nossas capacidades, sendo esta a tua prioridade absoluta. Deveras me fazer um relatório diário da evolução e alterações que devemos fazer aos mecanismos de defesa existentes. Tenta integrar-te e criar um laço de amizade com o grupo da aliança, precisamos saber o que eles consideram normal para nos conseguirmos adaptar. Mas acima de tudo usa o teu discernimento filha, os nossos homens irão seguir-te até a morte como bem sabes e é teu dever prepará-los e ao mesmo tempo cuidar para que nada de mal aconteça com o nosso povo, esta será a tua primeira missão como líder e deves provar que não é só a tua linhagem que faz ti uma herdeira digna da essência mas também a força do teu caractere, a tua coragem e capacidade de sacrifício. Este é o teu primeiro teste e...- neste momento a minha mãe parou e fez uma demonstração de carinho que me surpreendeu, pegou na minha mão e colocou-a entre as suas.- por favor, não me desiludas, todos contamos contigo.

- Não o farei- afirmei convicta- a que horas devo me apresentar amanhã?

- O treino está marcado para o décimo nano ciclo na arena, agora vai descansar e preparar-te. E que a Deusa te acompanhe minha filha.

- E contigo permaneça.

Sai da sala com a sensação de ter a cabeça a rodar de felicidade. Finalmente tinha chegado a hora de mostrar o meu valor. Sabia que tudo iria dar certo, como não poderia? E só nesse momento percebi outra verdade, iria estar todos os dias com ele, perto dele, esse pensamento assustou-me e alegrou-me. E tomei uma decisão, deixaria que a Deusa guiasse os meus passos e o que tiver de acontecer, aconteceria. Sei que estava ser fatalista mas a verdade é que quando as coisas estavam predestinadas a acontecer nada seria capaz de as parar.

Ele não era da minha espécie e por isso não poderia existir qualquer tipo de relação, por muito que a sua presença me afetasse como nenhuma outra. Em poucos dias essa sensação que me percorria sempre que o via iria desaparecer e cruzar-me com ele ou até mesmo estar na sua presença não passaria de um evento normal na minha vida, não me provocando mais nada. Estava convicta que esse fascínio se prendia a sua beleza, ele era sem sombra de dúvida o exemplar mais bonito do sexo oposto, de qualquer espécie, que eu já tinha visto. Era verdade que este era o meu primeiro contacto com outros seres, e esse encantamento pelo diferente não deixava de ser natural. Tudo o que um dia tinha aprendido através dos livros hoje encontrava-se a minha porta, e estava agindo como uma criança com um novo brinquedo. Mas não pude deixar de pensar na sua mão no meu braço e das emoções desconhecidas que tinham atravessado o meu corpo. Sabia que estava a chegar a época em que estaria preparada para a ligação sexual e essa emoção poderia estar ligada a este acontecimento. Essa maturidade bateria a minha porta quando encontrasse o parceiro que me estava destinado, era essa a nossa forma de escolher o nosso parceiro.

Normalmente quando o nosso parceiro entrava na nossa vida, tudo em nós se começava a preparar para a ligação. Não se tratava de uma escolha, mas sim de um destino. A relação seria abençoada num ritual no qual receberíamos a bênção da Deusa. Nós acasalávamos para a vida, embora quando um dos cônjuges falecesse a natureza tinha preparado um mecanismo que nos permitia escolher o nosso novo parceiro e ter descendência com este. Não sei como é que funcionava mas parecia que o nosso corpo, quebrada a ligação, podia estabelecer outra mas nunca poderíamos ter mais do que um parceiro de cada vez.

Nunca tinha acontecido que um dos nossos se ligasse a um ser de outra espécie e não fazia sentido que algo assim pudesse acontecer comigo. O que eu sentia era uma atração pelo novo, pelo desconhecido. Mas ainda assim quando deitei a cabeça na minha almofada nessa noite sonhei com ele e com a nossa família que incluía uma linda garota de cabelos cor-de-rosa e pele cor de mel.






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