Capítulo 31

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As juras de amor trocadas e sentidas prepararam-me para enfrentar o que se seguiu. Eu sabia que precisaria dessa força para poder fazer o que tinha que fazer a seguir....matar.

Seria a primeira da minha espécie a ter que proceder a esse ato horrendo que consistia em tirar a vida a outro ser. O facto de saber que a essência desse ser iria permanecer e continuar, e a certeza de que no momento da morte apenas assuma outra forma, não fazia com que tirar uma vida fosse encarado de uma forma mais leve pelo meu povo. Porque embora a energia fundamental persistisse outras coisas se perdiam para sempre como por exemplo a possibilidade de manter as mesmas relações, as emoções, as ligações.  E tudo marcava a energia e a moldava, as vezes para melhor outras ...nem tanto...

O transportador aéreo  pousou e fui obrigada a sair do meu devaneio. Passado poucos segundos vimos sair uma tropa de cerca de cinquenta indivíduos, armados e atentos ao que acontecia ao seu redor.  Foi necessário um segundo olhar mais  atento para perceber que no centro da comitiva se encontravam um grupo de três DarKWhites com um aparência  assustadora. A frieza que emanavam podia paralisar qualquer um de medo. Fiz um sinal ao meu companheiro que compreendeu que o nosso alvo tinha sido identificado. Ao longe a poeira levantada pelos veículos que os iriam transportar até ao local da assinatura do contrato de venda denunciava a sua chegada...tínhamos menos de dez minutos para neutralizar o grupo todo, antes de eles terem essa possibilidade de escapar. O que não pretendíamos permitir.

O ataque seria desenvolvido em duas frentes. Parte do contingente atacaria o transportador aéreo para impedir qualquer hipótese de fuga e a outra parte dedicaria-se a atacar e  neutralizar a comitiva. Não seria fácil ...mas preferia libertar a minha essência a deixar estes seres tomar conta do universo e escraviza-lo. Levei a mão até a minha arma tazer...nunca tinha usado uma antes, preferia a minha espada, mas teria que a usar porque o inimigo estava muito longe do alcance da minha espada ...pelo menos para já...

Tinha recebido um treino muito rudimentar de como manusear esse aparelho que ceifava vidas com tanta facilidade, mas esperava conseguir utiliza-la sem problemas.

-Pronta?- Inquiriu o meu companheiro de vida com o seu semblante sério. Sentia todo o receio que lhe cobria a  alma.

-Sim.- Sorri-lhe para lhe transmitir uma confiança que eu estava longe de sentir.- Lembra-te do que me prometeste...quando te pedir ...corre.

-Não te preocupes ...- Ele voltou- se então para o Kerck e fez-lhe um sinal de assentimento e nesse instante o ataque começou.

Corajosos cada um de nós corria  para acabar com a ameaça que pendia sobe as nossas cabeças. Quando o sinal foi dado, de arma em punho comecei a atirar, inicialmente sem procurar fazê-lo com grande precisão mas  quando se fizeram ouvir as primeiras rajadas de tiros em nossa direcção e vi um dos nossos ser atingido no ombro, coloquei mais precisão no que fazia.

Vários minutos se passaram sem que nenhum dos dois campos fizesse qualquer esforço para mudar de posição, o que achei estranho porque o nosso inimigo encontrava-se em campo aberto e depressa sob o nosso fogo caiam inertes. O transportador aéreo permanecia no mesmo lugar, os nossos homens devagar mas sem grande esforço se aproximavam da nave, até mesmo os DarkWhites protegidos no meio das suas tropas não indicavam sinais de querer fugir ou de se protegerem.

Estranho ...tudo muito estranho ...e nesse momento percebi....tínhamos sido enganados, este não era o grupo que devíamos estar a dizimar.  O verdadeiro contingente devia estar no lugar da assinatura do contrato. Senti uma negridão turvar a minha visão, a essência do planeta tinha mudado ligeiramente...o contrato tinha sido assinado.

O meu companheiro sentindo a minha aflição veio ter comigo e olhou interrogativo.

- Fomos enganados ! Este não é o local...eles já estão a concluir o trato.- Disse com um peso enorme no meu ser. - Temos que partir já e impedir esta catástrofe!

-Senti o mesmo, tens ideia de onde pode estar a acontecer.

-A norte..é a norte- Disse olhando nessa direcção.

Kerck chegou nesse momento , ele também tinha percebido que algo não estava certo. O meu capitão colocou-o a par do que estava a acontecer .

-Mas não percebo! ...tu leste a informação deste local daquele traidor.

-Sim, mas acho que ele era unicamente uma medida de segurança, colocado tanto para te espionar como em caso de ser descoberto oferecer falsas informações. -Respondi...esta era a única explicação lógica que encontrava para o caso.

-Grrrr....como pude ser tão enganado por aquele maldito....E agora o que fazemos.- A irritação dele era muito clara para todos.

-Primeiro temos que descobrir onde eles estão. Segundo a Suniza o local encontra-se a norte daqui.

-É muito vago, não consegues me dar mais nenhuma indicação?- A preocupação estava estampada na face de Kerk. Tinha consciência que ele estava a sofrer, mas admirava a sua força e a coragem que ele estava a demonstrar. Seria um grande líder para o seu planeta  quando essa situação estivesse finalmente resolvida.- Precisamos  lá chegar o mais depressa possível. Se eles se deram ao trabalho de nos enviar para outro local agora é porque este é momento em que esta a acontecer.

-Tens razão, estava a pensar exactamente a mesma coisa.- Afirmou preocupado o meu companheiro. Ambos olharam para mim a procura de mais respostas, mas eu não sabia de mais nada.

- Dêem-me um instante. - Afastei-me, precisava me concentrar e com eles a olhar para mim seria impossível. Encontrei refugio debaixo de uma árvore e sentei-me ao seu pé colocando as minhas mão de cada lado do meu corpo  apoiada no chão, precisava de sentir a força do planeta, só ele me poderia guiar. Fechei os olhos e concentrei-me na essência que emanava do planeta. Seria  a primeira vez que iria experimentar varrer a essência de um planeta inteiro a procura de discrepâncias e sabia que iria exigir muito de mim.  Foquei a minha atenção a norte de onde nos encontrávamos e a medida que me focava mais e mais nesse ponto mais e mais a escuridão se fazia sentir, cheguei ao ponto onde a podia quase tocar. Nesse momento analisei a essência do que se encontrava a volta e consegui criar uma imagem de cores na minha mente que depressa se transformou como numa fotografia do lugar. Satisfeita mas completamente esgotada do meu esforço, levantei-me com dificuldade, e sentindo que não seria capaz sequer de sair do lugar encostei-me na árvore e literalmente gritei telepaticamente para o meu companheiro de vida.

Passado alguns instantes vi-o chegar acompanhado por Kerck , a tempo de amparar a minha queda. Estava tão cansada que já não conseguia aguentar com o meu próprio peso, mas ainda assim comecei a falar antes mesmo de eles me perguntarem alguma coisa.

-Fortaleza de três torres, porta de entrada e madeira preta com um brasão ....- descrevi baixinho.

-É fortaleza onde o meu pai está!!

- Eles estão a nossa espera...

- Acredito que sim ...- O meu companheiro olha para nós e propõe com um sorriso de gozo que começa a rasgar-lhe o rosto.-Que tal os atacarmos com as suas próprias armas.- disse dirigindo o seu olhar para a nave que se encontrava parada bem a nossa frente.




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