Capítulo 29

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Senti o próprio Kierk recuar nesse momento com horror da criatura que foi até dez minutos atrás o objecto dos seus afectos.

Mas num rompante ele voltou a aproximar-se e desferre no rosto da criatura um golpe com o punho fechado abrindo uma ferida que  começa logo a sangrar e que por outro lado acalma o monstro.

- Cala-te ! como ousas ! aqui não tens direitos, aconselho-te a começar a falar rapidamente antes que não me consiga segurar mais e te mate com as minhas próprias mãos. - A voz de Kierk deixava transparecer todo o ódio que sentia nesse momento. Ele sentia-se enganado, traído, espezinhado por esta criatura que ele julgou amar e que notoriamente nunca o amou.

- Nunca !! vocês vão todos morrer! Este planeta é nosso. Os teus soberanos venderam-vos em troca de uma mão cheia de nada. Neste preciso momento os meus companheiros estão a aterrar para assinar o acordo. E não é na fortaleza do teu tio. -O riso lúgubre que ele soltou encheu a peça de terror.

-Onde ? Diz me onde ?- Kierk agarrou-o pelo colarinho e bateu-lhe várias com as mãos em punho. A cara do nosso inimigo estava cheia de sangue quando o meu companheiro conseguiu finalmente acalmar Kierk.

Decidi intervir e mostrar mais um pouquinho das minhas habilidades. Não queria fazer o que tinha que estava preste a fazer, mas não tínhamos grandes escolhas.

Ephy pedia-me...suplicava ....

-Companheiro, posso eu fazer as perguntas.- O capitão olhou para mim incrédulo mas fazendo um sinal desviou-se e deixou-me passar.

Coloquei as minhas mãos em ambos os lados da cabeça do Blackwithe e entrei na sua consciência. Vi o que Ephy tentou me explicar. Este ser não tinha alma. A sua mente era tão negra como a sua essência. Vi a morte e a devastação que esta criatura e os seus companheiros tinham causado noutras galaxis antes de chegar a nossa. Senti grossas lágrimas começarem a escorrer pelo meu semblante. A dor do universo fazia-se sentir no meu peito, e infelizmente tive de dar razão a pequenina ....ele precisava morrer, mas antes eu precisava saber.

Perscrutei a sua mente e vi ...vi tudo o que estava planeado, vi a paciência com que este plano tinha sido engendrado. Millenniuns tinham-se passado desde que a jornada de conquista tinha sido iniciada e o desfecho estava para breve.

- Eles vão pousar em duas horas numa clareira a cinco kilometros daqui. Precisamos impedir essa tomada de posse a qualquer custo. Amor, - disse virando-me para o meu companheiro e afastando as minhas mãos dessa criatura que  já não conseguia mais tocar, tal era a repugnância que ela me causava. - Eu tenho que lá estar senão vocês não vão conseguir detê-los .

Vi o seu rosto ser transfigurado pelo dor. Senti o conflito  em sua mente e em seu coração.

- Não temos escolha ...tenho que ir. - Sabia que o meu apelo de nada servia para acalmar o seu coração. mas poderia quem sabe...talvez...convencer a sua mente.

Estava tão distraída pelo combate que o meu companheiro travava que só percebi os movimentos de Kierk quando já era tarde de mais. Ele degolou o seu antigo companheiro de um único golpe, causando-lhe morte instantânea.

Soltei um grito de terror. Fui logo abraçada pelo meu companheiro que ressentiu toda a dor que tal gesto me tinha provocado. A morte era terrível. Sabia que se tratava apenas de transformação...a energia não se perdia...apenas mudava...e neste caso senti o ódio e a escuridão invadir o quarto. Essa energia seria sempre do mal.

-Desculpem-me mas tinha que o eliminar...esse monstro não merecia viver....nenhum deles merece.- E falando directamente para o Capitão disse-lhe - Pelo que percebi estás ligado a esta fêmea. E ela tem razão...ela tem de vir é a única a conhecer o local correcto do encontro.

-É a minha mulher!!E ainda não decidi se a vou colocar nesse perigo. É meu dever protege-la e assegurar-me que nada lhe aconteça.

-Compreendo amigo, mas todos temos que fazer sacrifícios...acabei de matar a criatura que mais amei neste mundo...E fi-lo pelo bem do meu povo... mas perdi o meu coração.- Vi uma lágrima escapar dos seus olhos, e que ele tratou de limpar antes que mais alguém visse.-Esta guerra não é só nossa é da aliança também. E pelo que eu vi a sua menina é capaz de se defender sozinha. Acho que até melhor do que qualquer um de nós. Nunca  vi ninguém com as habilidades que ela tem!

Era verdade o que ele afirmava, eu conseguia defender-me sem ter que me apoiar no meu companheiro de vida. Só esperava que este não tentasse me fechar outra vez. 

- Infelizmente tenho que reconhecer que tem razão, precisamos dela...mas ainda assim... ela e o povo dela não tem de ser envolvido neste conflito. Eles são um povo pacifico, nunca lutaram. A minha mulher nunca teve que enfrentar uma batalha, o stress da acção, a possibilidade de matar alguém... nem sei como ela ira reagir perante a morte de alguns dos seus companheiros...

-Confias nela ?

-Plenamente!

-É a única coisa que precisamos saber...todos temos que passar pela primeira batalha ...

Eu ouvia essa troca de palavras sem me pronunciar, de qualquer forma a minha opinião não seria certamente levada em conta. Foi nesse momento que ouvi a Ephy.

- Ephy sente...sente... tu precisas focar...futuro...para salvar capitão....

-Como?

-Perigo grande ...precisas ver...vê...- a vozinha dela na minha cabeça não me deixava em paz.

Nesse momento fomos interrompidas pelo meu companheiro de vida que a contra gosto parecia ter acedido ao que lhe pedia Kierk.

- Suniza promete que vais ficar sempre ao meu lado minha vida, promete que vais fazer tudo  que eu te pedir. - Ele olhava directamente nos meus olhos, implorando.- Sabes que eu não posso viver sem ti...estamos ligados um ao outro desde o primeiro momento...se te acontecer algo ....nem sei...

-Calma ...eu prometo - Estava a ser sincera, mas sabia que tudo poderia mudar de um momento para o outro.


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