Capítulo 21

52 5 0
                                    

O dia seguinte amanheceu glorioso, os raios dos nossos sois adentravam pela minha câmara iluminando o aposento e a minha vida. Mas desde o momento em que coloquei o pé fora do meu leito as coisas  começaram a correr mal.

Soube que Michael tinha sido chamado a partir subitamente até ao planeta vizinho onde tinham  raptadas todas as femeas em idade reprodutora de uma aldeia. O aumento destes raptos era preocupante e demonstrava que o grupo por detràs destes crimes estava cada vez mais organizados e destemidos. O facto de se encontrar perto deles um contigente da Aliança não os preocupava ou continha  minimamente nos seus intentos o que era so por si assustador. 

Não o podia condenar, o dever passava antes de todas as nossas questões particulares, apenas não sabia como enfrentar a minha mãe sozinha. Não que eu tivesse medo ...era apenas desconfortavel e muito ...muito estranho.

Sabia que nada do que tinha feito estava errado...ou quase. Ir para a câmara de repouso dele não tinha sido o mais apropriado mas não tinha tido outra opção, e não me arrependia nada de o ter feito. Decidi falar com  a minha mãe antes de ir para o treino. Durante todo o caminho que me levou até a câmara do concelho onde sabia que ela estava a aquela hora do dia repassei sem cessar todas as palavras que lhe ia dizer e chegando a porta parei respirei fundo e sem perder a coragem bati e entrei.

O que me esperava do outro lado não era bem o que eu estava tinha antecipado... A  minha mãe estava reunida com as sacerdotisas de todas as ordens no que parecia uma reunião importante, e mal me viu entrar fez-me sinal para me juntar a elas.

-Ainda bem que chegaste, estávamos a tua espera Suniza. - Nada poderia ter-me deixado mais surpreendida do que aquela declaração, mas o que a minha disse a seguir deixou-me completamente estarrecida. - Todas nós percebemos o teu amadurecimento e precisávamos de resolver certas questões antes da cerimónia de acasalamento de logo. Este é um acontecimento único na tua vida e de muita importância na vida da próxima Alta sacerdotisa de Atalaya.

Ups e agora...

- Verdade ...era precisamente por isso que pretendia falar contigo hoje ...- Hesitei. - Poderíamos falar apenas as duas...

-Nada do que tenhas a dizer deve ser escondido das sacerdotisa sabes perfeitamente que somos uma única unidade. - Censurou docemente a minha mãe.

-Sei sim , mas o assunto é delicado ....- Levantei os olhos para encarar a minha progenitora mas essa continuava a espera que eu falasse... certo unidade...- A questão é que ...amadureci...-hesitava em todas as palavras, todo o discurso que eu tinha preparado tinha desaparecido da minha cabeça e lutava para encontrar cada uma das palavras que devagar iam saindo da minha boca. - O ...meu...companheiro de vida...não é...- Parei novamente, as palavras pareciam confundir-se na minha mente.- Não é ...não é ....

-Sim filha ...não é o quê?

-Atalayano! - Finalmente soltei.

Todos os olhares da sala fixaram-me aturdidos com o que eu acabava de dizer. O silencio na sala foi de morte e pela primeira vez na vida que eu vi a minha mãe sem saber o que dizer.

- Mas....

- Eu sei, mãe! Nunca aconteceu antes ...mas é o que está a acontecer agora.- Finalmente o meu discernimento tinha voltado e comecei a falar. - Quando a transformação tomou conta de mim nem quis acreditar. Não podia ser verdade, mas os fatos estavam todos lá e confesso que demorei  a aceitar. No que me diz respeito, como vocês sabem, não posso impedir esta mudança, nem escolher outro companheiro de vida. O que me preocupe é como ele  não é da nossa espécie não tem que aceitar a bênção, nem ser meu companheiro de vida se não o quiser. E todas sabemos o que se passara se ele não me aceitar...

A minha mãe continuava sem saber o que dizer. Mas as outras sacerdotisas decidiram tratar do assunto elas mesmas. A sacerdotisa de Silfo foi a primeira a perguntar.

-Suniza falaste com ele?

-Sim...expliquei-lhe o que significava e as implicações de ser um companheiro de vida e como se procediam as coisas.

-Óptimo. E ele o que achou de tudo isto?

- Ficou confuso ...acho.

-Mas deu-te alguma indicação de que iria ficar contigo?- Desta vez foi a Sacerdotisa de Salamandra que perguntava.

-Acho que sim.- A incerteza era patente na minha voz.

- Certo menina, podes nos deixar por favor? Temos muito o que falar e temos de observar o futuro para conhecer a decisão a tomar. Voltaremos a chamar-te.- Desta vez foi a minha mãe que falou recuperando do seu mutismo.

- Mãe antes de eu ir não queres saber quem é o meu companheiro?

-Não é necessário  dizê-lo... só pode ser o capitão Michael...

- Sabias!! - Exclamei

-Desconfiava, mas esperava sinceramente que não fosse. Fiquei um pouco chocada com a confirmação de que  aquilo que eu mais receava estava realmente a acontecer...Agora vai criança. A nossa grande mãe Libânia tem um plano para ti, não sei ainda qual ..mas vai, que temos muito aqui que falar...

Sabia que não adiantava teimar em ficar,  seria novamente chamada quando a hora chegasse. Por isso sai e fui juntar-me ao meus companheiros de treino e embora não conseguisse me concentrar devidamente atormentada por questões para as quais não tinha nenhuma resposta, a manhã foi produtiva. Aprendi várias técnicas de combate que juntas das minhas habilidades em caso de batalha seriam destruidoras. Pena que não podíamos revelar aos nossos visitantes a plenitude das nossas capacidades. Acho que até nós nos espantaríamos a nós próprios numa situação de luta real....

Aproximava-se a hora da pausa para a alimentação quando uma das secretárias da minha mãe veio chamar-me. O meu mundo virou novamente e completamente aterrada fui ao encontro do meu destino.

Entrei na câmara apreensiva e com muitas poucas certezas, e encontrei para minha grande alegria apenas a minha mãe que me esperava sentada num banco almofadado perto de uma das janelas . Esta convidou-me a sentar-me ao seu lado e carinhosamente pegou nas minhas mãos que apertou docemente. Este gesto teve o efeito oposto ao pretendido, não me ofereceu conforto nenhum...muito pelo contrario plantou uma semente de medo no meu coração. Sentindo esse meu repentino receio a minha mãe tratou logo de me acalmar.

-Calma filha...o futuro que para ti vimos é longo e prospero e será com o teu capitão. Essa união estranha tem mesmo de acontecer porque dela depende muita coisa... coisas que não te posso contar sob pena de elas mudarem ou nunca virem a acontecer ...como bem sabes. Concordamos todas com essa união porque mesmo que na eventualidade de não nascer uma criança dela, poderás mais tarde unir-te a outro ser e conceber. Só te posso assegurar que terás descendência, - Nesse momento a minha progenitora soltou um suspiro profundo e continuou. -  A bênção acontecerá esta noite como prevista pela grande Deusa, apenas não será feita durante a grande cerimonia do jubilo. A tua união será conhecida de poucos, não porque ela seja vergonhosa mas porque assim tem de ser...pelo menos por agora... Gostava de te dizer mais...mas para já só te peço que sejas forte e quero que saibas que tenho orgulho de ser tua mãe.

Fui dispensada depois dessas palavras e parti sem saber o que pensar, mas sentia um estranho aperto na minha essência.  Vi o que me pareceu uma grande tristeza misturada com pena no ultimo olhar que me dirigiu a minha mãe... o que não agourava nada de bom. Será que o fardo que estava presta assumir seria tão difícil assim, que até a minha propria mãe estava a sentir pena de mim.



Universo sem fim ( completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora