Capítulo 5

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- Suniza, leva os nossos convidados até aos seus aposentes, eles precisam se refrescar depois da viagem que fizeram.- As palavras de minha mãe mal conseguiram cortar e penetrar a barreira da minha consciência. Afastei o olhar do objeto do meu fascínio muito a contra gosto para dirigi-lo para a minha progenitora que me chamava pela segunda vez nada satisfeita.

- Desculpa.

- Acompanha por favor os nossos convidados

- Sim, claro – Inclinei a cabeça ligeiramente em sinal de reverência e virei-me para encarar a comitiva. Vi com prazer que o homem de quem ainda não conhecia o nome, olhava-me com o mesmo fascínio que eu acabava de demonstrar.

- Por favor – disse levantando graciosamente a mão, num claro sinal para me acompanharem.

Comecei a andar dirigindo-me para a ala do edifício do conselho destinado ao repouso. Este era composto por câmaras individuais que permitiam o recolhimento e o desenvolvimento de outras atividades que eram consideradas privadas na nossa sociedade. Não ousei falar, este não era de qualquer forma o papel que tinha acabado de me ser atribuído. Eu seria a guia e só deveria falar quando algo me fosse perguntado ou tivesse que transmitir alguma informação específica.

A medida que ia percorrendo o corredor que se abria perante mim, sentia o peso dos seus olhos nas minhas costas. Sabia que era ele. O meu corpo encontrava-se consciente da sua existência. Cada fibra o conseguia sentir perto de mim.

Não percebia o que estava a acontecer e fiquei assustada. Nunca tinha tido este tipo de reação a outro ser, seja da minha ou de outra espécie. Devagar uma dor de cabeça foi-se desenvolvendo a medida que a tensão que eu sentia ia aumentando.

Indiquei a cada um dos membros que compunha a comitiva os aposentos que lhes tinham sido destinados. O líder do grupo ficou para último e para ele  a minha mãe tinha reservado o aposento da Deusa, era uma representação da sala do conselho com algumas diferenças, as suas quatro paredes eram de nuvens e as suas dimensões eram bem mais comedidas, já que se destinava a albergar no máximo duas pessoas. A porta enorme abriu-se perante mim, e ofereci a passagem ao seu destinatário para este entrar.

- Este é o aposento que lhe foi atribuído, espero que seja do seu agrado - Consegui falar sem olhar uma única vez para ele. – E esta é a sala das águas, onde poderá se refrescar da sua longa viagem – Avancei para esta dando-lhe a indicação da sua localização, que não era óbvia por se encontrar alocada numa das nuvens que circundavam o recinto.

Senti um toque, o seu toque, não pude deixar de saltar afastando-me com o susto que apanhei.

- Desculpa, não devia tê-la tocado – Disse afastando a mão que pelo espaço de um segundo tinha segurado o meu braço.

Ali estava novamente aquela voz profunda que tanto me desorientava. Estava perdida, precisava sair dali o mais rapidamente possível, mas em momento algum podia deixá-lo perceber o quanto me perturbava. Não era normal, nada disso era normal. Decidi fixar o meu olhar no dele, enfrentá-lo de uma vez, o que implicava enfrentar-me. O azul dos seus olhos tocou naquele momento a minha alma e o meu mundo parou, respirei fundo para afastar o torpor que me invadiu e falei.

- Não é necessário pedir desculpa, eu é que não estava a espera que me tocasse.

- Espero não a ter ofendido, não conheço os costumes do seu povo e não sei se é politicamente correto tocá-la.

- Nós só nos costumamos tocar nos momentos reservados para o prazer físico. – Expliquei corando, o que para nós significa adquirir uma tonalidade ligeiramente azulada. Esse era outro costume que estava a quebrar, não falávamos desses momentos que embora fizessem parte integrante de uma existência saudável, eram privados.- Não me senti ofendida, mas não posso deixar de pensar que não é apropriado. Compreendo que para si e para o seu povo, o toque seja um procedimento comum, mas por cá o contacto entre dois seres representa um grau de grande intimidade que não existe entre nós.

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