Capítulo 20

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Achei melhor continuar com as minhas explicações, tanto para justificar o  que acabava de afirmar como para 0 distrair.

-Nesta época do Tupi-garani, estação do ano em que geralmente acontecem os acasalamento temos uma grande cerimonia que equivale ao vosso casamento. Todos os que viram as suas pintas amadurecerem são colocados em frente as sacerdotisas menores que abençoam as uniões feitas nas suas ordens. Se o acasalamento não acontecer depois da bênção e antes do fim do tupi-garani, o vinculo perde-se para sempre, e ficamos condenados a viver sem companheiro.

- Pensei quando inicialmente falaste que já estava tudo perdido para ti.Tenho então até amanhã para decidir se te condeno a solidão ou se recebemos a bênção.- Afirmou mais para ele mesmo do que para mim.- Quando é que acaba o tupi-garani?

- Dentro de uma das vossas semanas.

Ouvi-o soltar um suspiro de alivio.

-Então ainda temos tempo.  Não me interpretes mal Suniza, não é que não te queira, muito pelo contrário é só que ...

- Eu sei- interrompi-o.- Num dia conheces-me e no outro tens de assumir um compromisso para a vida...ainda por cima com uma fêmea de outra espécie....com costumes e crenças diferentes...

- Sim, mas o meu receio vai para além disso. A nossa união não seria bem vista, seria mesmo considerada anti-natura. Sabes que este tipo de relação não é aceite e teria que ser do conhecimento de muitas poucas pessoas.- Vi o seu rosto mudar de cor antes de dizer.- Até no seio da aliança, ela teria que ser escondida.

- Compreendo. - Algumas lágrimas soltavam-se dos meus olhos. Tinha sempre me considerado uma pessoa forte, mas neste momento face ao tamanho do dilema que enfrentávamos sentia-me pequena...esgotada...fraca.

Sentindo a minha debilidade, ele abraçou-me.

Havia mais mas receava dizer-lhe, o meu coração sangrava com a injustiça que estava a cometer. O capitão não tinha que carregar com o fardo do meu futuro. Esta questão biológica não devia interferir na vida dele, mas sim condicionar apenas a minha.

- Há mais, não há? - Disse ele depois de me observar.

Será que seria o vinculo a falar?

Ele tentou procurar-me com o olhar mas desviei o meu, envergonhada e magoada por ter de impor a minha presença na vida de outrem.

Hesitei, não lhe queria contar, mas já o conhecia o suficiente para saber que não o podia enganar. Normalmente com os da minha espécie o vinculo permitia sentir, pensar e agir em sintonia com o outro. No nosso caso não sabia até que ponto as coisas iriam, mas tinha certeza que ele me conseguia ler melhor do que qualquer outro ser. De qualquer forma se ele tivesse que ser o meu companheiro, ele tinha que saber tudo.

-Não te quero pressionar, mas se decidires não ficar comigo, não fico só condenada a solidão mas perco também o meu destino. Eu nasci da grande sacerdotisa e devo ocupar o lugar dela quando os seus olhos se fecharem para a eternidade e se juntar a nossa grande mãe Libéria. Se não me for possível ter filhos, o que acontecera se eu não tiver um companheiro, outra terá que tomar o meu lugar .-Não lhe quis explicar como isso se faria, e que o processo seria extremamente doloroso para mim tanto física como psicologicamente , mas acho que ele suspeitou de algo e por isso me abraçou  e nesse momento outra grande verdade me atingiu. - Mesmo que ficássemos juntos seria impossível eu engravidar não éramos da mesma espécie...Comecei a chorar como se me tivessem arrancado toda a esperança de ter uma vida normal e o capitão para me acalmar voltou a procurar os meus lábios que ele devorou com uma paixão redobrada tentando assim distrair-me da profunda tristeza que me assaltava. Estava condenada de qualquer forma. Mas esses pensamentos pouco tempo tiveram para me invadirem....por um frenesim cresceu em mim.

Pela primeira vez soube o que era sentir um corpo a querer abrir-se para receber o outro ser. O estimulo que percorria o meu corpo era tão grande que beirava a dor. Sentia o corpo a arder de uma ansia insatisfeita a medida que a exploração que a sua boca fazia na minha se aprofundava. As mudanças no meu corpo aconteciam a uma velocidade vertiginosa.

Micheal mais ajuizado de que eu quebrou o vinculo antes que ambos nos perdêssemos definitivamente. Pude sentir o quanto este passo tinha sido difícil para ele.

-Podemos acabar o acto antes de receber a bênção? -Perguntou ofegante e com a voz embargada.

-Não sei...mas acho que não... precisamos da bênção para finalizar a transição dos nossos corpos. - Demorei a perceber a pergunta e a responder. A minha mente neste momento não queria pensar em outra coisa sem ser em trazer a satisfação que o meu corpo clamava com tanta sofreguidão.

-Óptimo. Assim evita-me a tentação, já que nada pode acontecer mesmo! O que não impede que eu te beije e te mime a minha vontade....certo? - Nem me deu tempo para responder porque nesse momento ele voltou a depositar uma serie de beijos a volta do meu rosto antes de tomar posse da minha boca novamente. As suas mãos ganharam vida própria e começaram uma dança própria, explorando cada recanto do meu corpo. Sabia que estava entregue, que não poderia fazer nada contra essa vontade que se sobrepunha ao meu próprio ser. Só agora começava a compreender  o que era ter um companheiro do vida, deixamos de ser um e passávamos a depender do outro para existir.

Infelizmente horas depois tive que sair dos seus aposentos para voltar para os meus.  Deixar os seus braços foi provavelmente a coisa mais difícil que eu tinha feito na vida. A noite tinha sido mágica e não me cansava de estar com ele e de descobrir pouco a pouco todas as nuançes da sua personalidade, que me fascinava cada vez mais. Ele acabou por me dizer que também sentia um vinculo estranho comigo, porque soube mesmo antes de entrar no aposento que eu estaria a sua espera. Não falamos mais na decisão que ele tinha que tomar. Porque as suas implicações seriam maiores do que aquilo que já tínhamos conversado. Ficou no entanto decidido que no dia seguinte iríamos procurar os sábios conselhos da minha mãe. E só depois ele tomaria a sua derradeira decisão. O que Michael me garantiu foi que a sua decisão se basearia somente no  que fosse melhor para mim...E acreditei nele.

O simples facto de encarar a minha progenitora e confessar-lhe o que se estava a passar era assustador, não pela reacção da minha mãe que eu sabia me iria apoiar em qualquer circunstancia, mas sim pelo facto de ter que encarar as outras sacerdotisas que teriam que obrigatoriamente serem colocadas a par do que estava a acontecer.

Quando me estendi finalmente no meu leite nessa noite,  tinha uma única certeza... o dia seguinte seria o mais importante da minha vida. Só esperava que a grande Deusa soubesse o que estava a fazer....




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