Capítulo 22

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A cerimonia do jubilo há muito tinha acontecido. A comemoração essa continuava na grande sala. Eu, por meu lado tinha-me recolhido aos meus aposentos onde aguardava pacientemente que alguém me chamasse prevenindo-me da chegada do capitão. 

Os festejos estavam praticamente extintos quando o senti chegar, mas o meu coração sofreu um aperto estranho e a angustia e estranha sensação que me tinha acompanhado desde a conversa que tinha tido com a minha progenitora  intensificou-se. Sai correndo para ir encontra-lo. Tinha que estar perto dele ...era importante....fundamental mesmo....

Cheguei a plataforma no mesmo momento em que o transportador da Aliança pousava. Passado alguns minutos que me pareceram infinitos vi Anton sair correndo  para vir ter comigo. Do canto do olho vi uma maca que saia com um corpo estendido e inerte e senti a vida a abandonar-me...ele estava a deixar-me.

- Alteza

 Anton ainda tentou me parar mas os meus pés voaram até ele....meu companheiro ...e finalmente confessei-o a mim própria ...ao meu amor

O que eu vi dilacerou-me...O meu capitão estava ensanguentado, muito machucado e extremamente pálido....mas felizmente  ainda vivo. 

- Tragam-no imediatamente para a câmara do conselho.- Comecei a dar ordens que foram imediatamente executadas. Dirigi-me de seguida a Anton que já se encontrava ao meu lado.

-O que aconteceu?

-Foi uma emboscada alteza. Não entendo... eles estavam a nossa espera... não têm qualquer medo da Aliança, atacaram-nos com a clara intenção de nos matar a todos. O capitão adiantou-se e protegeu-nos, eles apenas o apanharam quando o phazer dele ficou sem carga. Apenas conseguimos chegar onde ele estava a tempo de evitar a sua morte. Mas não sei por quanto tempo...

Só havia uma forma de o salvar...

A escolha que estava a espera que ele tomasse... foi decidida por ele, só esperava que me perdoasse. Sabia que a decisão que tinha acabado de tomar iria acarretar grandes perguntas por parte do contingente, mas não tinha escolha, não podia deixar o meu companheiro morrer.

-Anton quer que o seu capitão viva?

-Que pergunta absurda...- Mas vendo que eu falava muito sério,  retomou. - Mas sim quero que viva e se for preciso darei a minha própria vida  para quer isso aconteça.

-Agradeço, mas não preciso de nada tão drástico...preciso de algo completamente diferente na verdade...preciso da sua descrição e da dos seus homens. Nada do que acontecer aqui esta noite poderá ser nunca relatado. Pode me prometer isso?

-Evidentemente. Se se tratar de salvar a vida do nosso capitão pode contar com a nossa lealdade e o nosso silêncio.

Quando cheguei a porta da câmara do conselho, a minha mãe ja se encontrava a nossa espera, e soube, mesmo sem necessidade de trocar palavras que já estava tudo preparado, e que tudo o que estava a acontecer esta previsto.

Os homens do capitão depois de depositarem o seu corpo inerte  no centro da sala foram convidados a saírem todos, com excepção de Anton.  O que fizeram depois de consultarem este ultimo e evidentemente muito contrariados.

As cinco sacerdotisas entretanto se aproximaram  do corpo inerte e formaram um circulo a sua volta, enquanto a minha mãe me fez um ligeiríssimo gesto de cabeça indicando que estava tudo pronto. Sem demoras virei-me para o segundo do capitão e pedi-lhe.

- Anton preciso do acordo de alguém da mesma espécie do capitão para poder realizar a cerimonia que permitira lhe salvar a vida.

- Antes de dar  o meu acordo  preciso saber exactamente o que vão fazer?

-Sim...claro...- hesitei procurando as palavras adequadas para explicar uma coisa que para os humanos não seria fácil de entender- Basicamente as sacerdotisas vão nos casar e as nossas energias de vida serão partilhadas.

-E mesmo necessário vos casar para isso?

-Sim... não existe outra forma..

- Mas podem se separar depois ...

- As coisas não funcionam assim para a minha espécie ...o casamento é para toda a vida por causa do laço que se cria...mas mesmo assim não acredito que possa ser pior destino do que a morte  do capitão!

-Sim... tem razão.- Respondeu hesitante e não completamente convencido. Nesse momento o capitão gemeu e soltou um suspiro assustador, parecia que a vida estava prestes a abandona-lo.

-Antom...por favor....

O homem pareceu desnorteado durante um micro segundo, mas recuperou imediatamente e afirmou convicto.

- Alteza consinto no casamento.

Nesse momento saindo do que parecia um bolso no fato do capitão apareceu uma bolinha cor de rosa ensanguentada que gemendo saltou para o chão e procurou refugio no ombro de Antom. Embora desnorteada por mais esse inexplicável acontecimento sabia que não tinha tempo a perder e virando-me juntei-me ao circulo ocupando o lugar que me estava reservado e peguei nas mãos geladas do capitão que segurei com força junto ao peito.

A minha mãe suavemente começou a entoar o que parecia uma canção de embalar recitando palavras que para outros para alem de nós pareceriam sem nexo. Pondo as suas mãos em concha levantou-as e levou-as até ao céu para depois voltar a baixa-las deixando pela primeira vez um estranho ter um vislumbre dos poderes de alguns seres minha espécie. No centro da concha via-se uma luz intensa que pouco a pouco tomou conta de todo o corpo da minha progenitora para transforma-la num ser de luz. A transformação concluída ela estendeu os braços e deu a mãos as outras sacerdotisas que passaram uma de cada vez pela mesma transformação.

Normalmente o meu companheiro estaria de pé e estaríamos de frente um para o outro e a luz da  vida, fruto da junção dos elementos passaria por nós no momento em que fossemos tocados pelo circulo da união, nome que dávamos ao  circulo formado pelas sacerdotisas. Eramos colocados assim por causa da força do impacto da luz que nos unia por um ínfimo instante num único ser.

Hoje teria que ser forte , iria suportar o impacto da luz sozinha e seria seu veiculo para o capitão. Nada me poderia nunca ter preparado para a força que senti quando fui atingida, o meu corpo desabou e caiu deitado sobre o corpo inerte do meu companheiro de vida e senti a minha carne deixar de me pertencer e outra essência ocupar o seu lugar.

Unia-me a ele e ele a mim...éramos um...

Uma fraqueza extrema me devastou e por um segundo senti-me ser empurrada para a orla do esquecimento e senti-me partir... partir para não voltar em direcção ao esquecimento sem fim ...e deixei-me ir para a imensidão....

Negridão....perdição.... escuridão...

Queria respirar e não podia...viver e não conseguia...já não conseguia....mas eu queria existir...

...queria....queríamos...sim...sim....finalmente o senti vivo em mim...senti o seu querer ...

Queríamos sobreviver os dois juntos como um só.

Senti a orla se afastar e a luz da vida voltar a brilhar.

Senti mil emoções e uma imensa gratidão. A minha querida Deusa tinha-se apiedado de nós e salvou  o meu capitão...

Sabia que ele tinha partido, que  tinha me deixado...eu quase fui com ele em direcção as terras do esquecimento...

Mas algo nos ajudou e nos puxou de volta e ele tinha conseguido voltar para mim.









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