Universo sem fim ( completo)

Capítulo 30

Não estava nada agradado com o novo rumo que esta historia estava a tomar. Alias, sentia um medo crescente encher a minha alma. Não podia deixar de pensar que num momento era um capitão da Aliança, solteiro, sem outras preocupações no mundo sem ser as de explorar e de vez em quando lutar umas batalhas. E agora sou um homem casado que tem de defender a sua esposa de um dia e defender um planeta de uma aniquilação certa.

Descobrir também que a minha  mulher, aquela que eu sabia que me tinha sido destinada, tinha umas habilidades todas especiais. Infelizmente essas mesmas habilidades ... mesmo a contra gosto ....obrigavam-me a envolve-la no que estava a acontecer. Sentia um medo crescente por ela...por nós. Queria mais tempo com ela.

A minha equipa tinha sido até agora a minha família, lutávamos lado a lado e cada um de nos estava consciente que cada dia podia ser o ultimo, mas estávamos habituados  a essa realidade. No entanto não conseguia ter esse mesmo sentimento de fatalidade em relação a minha esposa, o meu primeiro instinto era de a proteger, mandando-a de volta para o seu planeta enquanto este conflito não estivesse extinto. Mas....para minha grande revolta e fúria não o podia fazer. Ela tinha-se tornado imprescindível para esta missão e nada podia fazer para  mudar essa realidade.

Ainda não tinha tido tempo para assimilar o quanto especial era a minha companheira que já estávamos a caminho do ponto de encontro. Sentada na frente do primeiro transportador, ela guiava o piloto até ao nosso destino. Ela controlava perfeitamente toda a situação, como se o facto de estar prestes a entrar num confronto armado não a amedrontasse. Ela parecia preparada para o que iria acontecer. Dela somente emanava confiança, nesse momento um sorriso começou a desenhar-se nos meus lábios ...que mulher extraordinária era a minha. A conexão entre nos fez-se visível quando ela se virou na minha direcção e devolveu-me o sorriso para voltar rapidamente a encarar a estrada que de estendia a nossa frente.Ela tinha sentido o meu encantamento...era estranha essa conexão.

Desde a cerimonia do casamento que tenho sentido mais ...muito mais....agora sabia que era ela, as suas impressões, os seus sentimentos que chegavam até mim e que pareciam os meus próprios. Senti que ela esteve sempre comigo, mas que só quando nos vimos pela primeira vez é que o que para nos tinha estado escondido se tornou evidente, pertencíamos um ao outro. 

A paisagem desenrolava-se a nossa passagem, deserta inicialmente para pouco a pouco começar a se encher com plantas e árvores de todas as cores e espécies. Por um segundo...um único segundo esqueci-me das minhas preocupações e foquei-me somente na enorme beleza da paisagem... realmente...era uma bênção poder contemplar estas maravilhas do universo.

Demoramos menos de uma hora a chegar ao sitio que se tinha revelado a minha esposa. Ela ainda teria que me explicar como é que ela tinha conseguido fazer isso. Precisávamos nos preparar para receber as tropas do inimigo que iria chegar em pouco mais de trinta minutos.

O terreno não favorecia muito a preparação de uma emboscada teríamos que ficar a cerca de mil metros do local da aterragem do transportador para termos alguma cobertura e beneficiar das ligeiras colinas que ai despontavam para esconder um contingente, que a cada hora que passava me parecia mais pequeno.

Tínhamos decidido que vinte homens seriam suficientes para esta primeira etapa. Suniza tinha-nos dito em que local seria assinado o documento e a restante tropa se dirigia para lá, segundo ela este não era o local ideal para prevenir o que iria se passar. O que ela não quis explicar. Logo depois da morte do companheiro de Kerck ela tinha pedido para se afastar por uns momentos refugiando-se num dos quartos disponíveis da mansão. Os minutos de espera depois da sua saída tornaram-se intermináveis.  Kerck resmungava que precisávamos ir, que o tempo estava a esgotar-se rapidamente. Quando ela voltou para um observador menos atento ela parecia estar  calma, mas eu tinha sentido o seu medo, a sua aflição durante o tempo que ela esteve afastado. Senti uma enorme vontade de a abraçar e de a beijar o que fiz com uma paixão que me surpreendeu a mim mesmo. Nunca tinha sido dado a essas paixões e muito menos de as demonstrar em publico. Mas neste momento precisava do seu conforto, do seu amor...ou seria ela que precisava e eu apenas respondia a sua necessidade. Beijei-a e perdi-me nos seus doces lábios...O ardor que nos atingia cada vez que nos tocávamos voltou a surgir e não fosse pela tosse nada discreta do Kerck teríamos continuado até nos perdermos um no outro.

Agora que estávamos no lugar onde tudo se iria passar senti-a vir até mim. Fiquei a vê-la vir até mim, fascinado pela sua beleza como se fosse pela primeira vez. Mas não era o único, vários dos homens que faziam parte da nossa tropa pararam para a ver passar. A sua longa cabeleira rosa flutuava ao vento deixando passar alguns raios de sol que conferiam-lhe um ar etéreo. Ela parou a algum centímetros de mim inclinando-se  pegou na minha mão para a levar até aos seus lábios, beijou-a para depois a levar até a sua testa  e finalmente deixa-la cair devagarinho dizendo baixinho para que só eu ouvisse.

-Hoje dedico a minha vida a ti. Não deixarei que nada de mal te aconteça. Minha bênção te deixo e que a grande mãe Libania esteja  aqui para te e nos proteger.

Fiquei surpreendido com este ritual. E ainda mais surpreso com as suas palavras.

-Princesa nada de mal ira nos acontecer. Lutamos a guerra dos justos!

- Verdade....mas- Vi-a hesitar antes de levantar os olhos e dizer- Quero que me prometas uma coisa.

-Sim..tudo o que quiseres.

-Quando eu te pedir para correr....corre ...

Nesse momento chegou Kerck ao nosso lado para organizar e preparar os momentos difíceis que se avizinhavam. Mantive sempre ao meu lado e entreguei-lhe um phaser para a mão. Ela olhou-o e a contra vontade pegou nele.

-Eles estão a chegar...- Disse-me baixinho - Mais cinco minutos e estarão aqui.

-Amo-te...- deixei fugir

-Eu sei ....