Capítulo 6

90 5 0
                                    

Este planeta era repleto de surpresas. Não me cansava de o observar, este mostrava-se através das paredes estranhas do meu quarto. As nuvens que me davam privacidade abriam-se esporadicamente e deixavam ver uma paisagem lindíssima diferente de tudo o que já tinha visto.

As cores deste mundo encontravam-se entre os rosas, os lilases e os vermelhos, em tantas tonalidades como a imaginação conseguia criar, com uns raros apontamentos de verdes e azuis que serviam unicamente para sobressair a beleza das outras cores.

Árvores, flores, montes e montanhas, oceanos e rios, ribeiros e planícies, um quadro se desenhava contra o negro da noite que caia. Um quadro estranho para os meus padrões, mas fascinante na sua diferença. Tinha aprendido há muito tempo a aceitar as diferenças entre os povos e os mundos que visitava e pensava, erradamente, que me encontrava imune a todas as novidades que universo tinha para oferecer.

Este planeta por alguma estranha razão não me deixava indiferente. Os seres que o habitavam eram belos aos meus olhos, da mesma forma que as suas paisagens e os animais que pareciam pulular felizes estas terras que deus tinha forjado. Sentia-me nele tão integrado como no planeta que me tinha visto nascer, sentia que dele fazia parte.

As coisas não se estavam a passar como eu queria, e esta missão parecia-me cada vez mais estranha. Não conseguia tirar aquela estranha criatura da minha cabeça, o seu sorriso discreto e envergonhado, entrava sem ser convidado vezes sem conta na minha cabeça.

Afastei os meus receios e segui a serviçal que me veio buscar para o jantar. Embora comêssemos todos na mesma sala, a confecção das refeições tinha sido feito na cozinha da nave para cada uma das espécies distintas que ali se encontravam e encaminhada para a sala de jantar. Esse costume estava a muito enraizado, cada um era responsável pela sua alimentação, esta não precisava ser motivo de conflito. Existia uma regra de ouro que todos seguiam, nenhum comentário era feito sobre a alimentação de cada povo, para além de ser considerado de má educação porque as necessidades eram de acordo com cada espécie eram diferentes, poderiam também gerar conflitos desnecessários.

A sala para a qual fui encaminhado, não era impressionante como o tinham sido a sala do conselho ou o meu quarto, mas o cuidado em imprimir ao ambiente, através da iluminação difusa e suave, uma sensação repousante era completada pelas inúmeras almofadas azuis e verdes espalhas pelo chão a volta das mesas baixas de cobre talhado. Este material não era oriundo do planeta mas o seu brilho e a sua cor, tinha tornado este metal o mais procurado nas trocas com os planetas vizinhos.

Fui encaminhado para uma mesa e convidado a sentar-me. As nossas anfitriãs ainda não tinham chegado e aproveitei para conversar com meu tenente, que tinha acabado de entrar no aposente junto dos restantes membros da minha tripulação. Olhei-os e vi neles a minha família, éramos tão diferentes, mas tínhamos aprendido ao longo dos anos a respeitar e a gostar de cada uma das nossas diferenças.

As nossas anfitriãs entraram e cumprimentaram cada um dos presentes com uma graciosidade que só podia advir da dignidade que o alto cargo que ocupavam lhes tinha conferido. Entre elas a Alta Sacerdotisa do Akasha destacava-se, por ser uma mulher madura, graciosa e serena, tinha a aura de uma mulher poderosa. Ninguém podia duvidar por um segundo quem era a líder desta comunidade.

Cada uma das cinco Altas sacerdotisas se sentou na mesa que para nós estava reservada e uma conversa informal começou a desenvolver-se devagar, todos tinham consciência de que ainda não tinha chegado o momento de abordar o tema que nos tinha trazido até ali.

Os meus companheiros foram divididos pelas outras mesas, quatro no total e emparelhados com as grandes sacerdotisas e sacerdotisas em treinamento.

Antes de chegar a este planeta tinha-me munido de todas as informações necessárias para compreender o seu povo e a sua hierarquia. Esta era simples, o que não deixou de me surpreender, um planeta governado por cinco mulheres e cuja história não continha qualquer registo de um conflito interno. Todas as civilizações que tinha conhecido tinham a dado altura da sua existência testemunhado um conflito qualquer a nível de liderança, mesmo os que hoje eram exemplo de pacificidade, o que não deixava de ser estranho. Ia divagando entre estes pensamentos e a conversa que se desenrolava a minha mesa. A Alta Sacerdotisa de uma forma ligeira informava-me dos desenvolvimentos que tinham acontecido no planeta nos últimos cinquenta anos, e do apoio que tinham recebido dos planetas vizinhos. A ligação entre eles tinha-se tornado uma importante fonte de conhecimento e desenvolvimento. Mas fiquei com a nítida sensação que de alguma forma esse desenvolvimento estava travado porque não encontrava a minha volta nenhum sinal de que ele tivesse acontecido. O ambiente era sumptuoso mas não havia qualquer sinal de tecnologia, o que não deixava de ser estranho quando ela estava disponível para ser aproveitada por qualquer pessoa e implementada. Fiquei intrigado, mas guardei as minhas desconfianças, porque de qualquer forma o intuito da minha visita não era a de anexar este planeta a aliança.

Parei bruscamente de prestar atenção ao que me dizia a Alta Sacerdotisa da Salamandra quando senti a sua presença na sala. Virei-me e cruzei por um instante o meu olhar com o dela, lá estava novamente aquela força poderosa que parecia querer nos unir. Acompanhei-a com os olhos até que se sentasse precisamente atrás de mim. Ficamos de costas voltadas, o que infelizmente me impedia de a ver. Mas podia senti-la ...ela estava a meros centímetros de mim. Nada poderia ser mais perturbador. Mas este momento era importante por outras razões e precisava abstrair-me desta sensação estranha que começava a representar um verdadeiro problema. Felizmente a minha momentânea distração não foi notada pela minha interlocutora e consegui seguir com a conversa de uma forma perfeitamente normal.

A Alta sacerdotisa foi a única que não se deixou enganar, parecia munida de um sexto sentido relativamente a esta aprendiz de sacerdotisa em particular.

O jantar decorreu de uma forma agradável, o assunto principal era o conflito que se tinha instalado no quadrante oeste da galáxia. Nessa zona a aliança não tinha qualquer representação. Os povos que lá existiam eram tecnologicamente evoluídos mas careciam de capacidades de socialização, o que fomentava guerras, algumas das quais duravam a mais tempo do que aquele que eu tinha de vida.

A aliança só interferiria no caso de esta lhe ser expressamente solicitado, mas nunca sem antes avaliar a situação. Ela ocupava-se dos seus. O intuito da sua criação tinha sido o desenvolvimento de uma comunidade em que as diferentes espécies pudessem ir buscar e partilhar sabedoria, para além da proteção e resguardo que todos juravam providenciar no caso de um dos nossos serem atacados. Em um lugar longínquo da minha existência tinha ouvido uma frase que se adequava ao intuito da aliança "um por todos e todos por um". Apoiava incondicionalmente esta premissa, todos os seres do universo formavam um todo, éramos todos iguais dentro das nossas diferenças. Sei que esta minha forma de pensar não era generalizada, mas era partilhada por muitos dos meus pares.

Tinha dezoito anos quando decidi alistar-me para fazer parte da frota explorativa da Aliança. Os meus pais não ficaram nada satisfeitos e opuseram-se a que o seu único filho se aventurasse até aos confins do universo, já que o meu destino tinha sido traçado desde a mais tenra idade. Oriundo de uma família de importantes embaixadores, estava a ser moldado para ser um deles.

Pertencia a classe dos afortunados cujo intuito era fazer a ligação entre as várias civilizações, de maneira a desenvolver uma relação harmoniosa entre os povos. Essa ligação era estabelecida quando a representatividade de um povo em um determinado planeta não colocava qualquer perigo. Essa fase da relação não oferecia qualquer perigo ou sentido de aventura, o que não me atraia. Dez anos depois sabia que tinha feito a escolha correta, vivia uma vida em que os dias que me eram dados a percorrer eram todos diferentes e cheios de novidades. Hoje estava numa galáxia amanhã ia para uma outra constelação.






Universo sem fim ( completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora