Um Novo Outono

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Setembro de 2015

As árvores bloqueiam o sol do entardecer ao longo do passeio emoldurado por um belo gramado coberto por folhas secas. O verde se manifesta, cercado por jovens, cada qual abraçado pela natureza, como em um toque final ao cenário do campus da "University Of Central Florida", em Orlando. E a passos largos, uma silhueta triste percorre a bela paisagem, com o olhar preso a seus pés. Os músculos ressaltados em sua camisa parecem não condizer com a postura tímida e recolhida do grande corpo.

Logo a metros de distância, uma multidão toma conta do silêncio natural, em meio a gritos e risadas. O rapaz da silhueta para e ergue a cabeça. Franze o cenho, na expectativa de captar a alegria que aquela visão tem a lhe oferecer. Nada. Nada lhe acontece. Ele não sente nada.

- Parece que os calouros chegaram. - Andrew surge, interrompendo a concentração do tímido rapaz.

- Sim. - é a única resposta que dá ao amigo.

- Quer dar uma olhada nas garotas?

- Pode ir na frente. Vou te dar um tempo de vantagem.

- Então eu e meu amigo – Aponta para baixo. – Vamos dar as boas vindas agora. Até mais tarde.

Ao ver o colega se afastar, ele volta a se concentrar na "festa". Há muitas bebidas erguidas em direção ao sol, como numa oferta inconsciente à atmosfera. Pode ver garotas completamente embriagadas, sendo convencidas por seus veteranos a compartilhar o número de telefone. E balança a cabeça com desdém. Como pode não desejar estar no meio deles? O que há de errado com ele? Lembra-se de uma época em que até mesmo a tempestade de um dia obscuro lhe trazia conforto. Que idiota ele é, constata. 

Gostaria de um dia ser capaz de se reerguer em seus constantes pesadelos e decidir acordar com um pulo da cama, em direção a um recomeço. Mas ele não podia, percebe. Era um fraco. Além do mais, prometera a si mesmo deixar que as coisas se acertassem sozinhas. Garantira à própria consciência que o tempo os ajudaria e, bem... Receava ter se enganado.


Dezembro de 2014

- Stinky, o café tá na mesa! – Minha irmã grita da sala.

Levanto entre resmungos, sentindo um grande peso em minha cabeça. Qualquer energia que poderia me erguer daquela cama foi embora nessa noite. A sensação que predomina em mim é a de ter sido pisoteado no peito. Merda. Não imaginei que era assim que as coisas acabavam. Pra mim, aquela história de dor no coração e nó na garganta era só dramatização. Coisa de poeta. No entanto, acabo de descobrir da pior maneira o quão real isso pode ser. O sono não amenizou as coisas, como eu previra e, a cada segundo que passa, sinto como se revivesse aquele momento. Como se aquela foto estivesse diante de mim em cada lugar para o qual eu olho.

Caminho para a sala sem nem me dar ao trabalho de lavar o rosto ou escovar os dentes. Não tenho disposição, nem força e muito menos vontades. Sento-me, absolutamente calado, à mesa. Katherine me observa, com uma expressão de curiosidade. Ela sabe que algo aconteceu, pois me conhece bem. Minha irmã e eu temos quase a mesma idade, o que nos permitiu criar uma proximidade inabalável. Ainda que não possamos nos comunicar por telepatia, conseguimos interpretar um ao outro com certa facilidade e, por isso, ela não ousa me perguntar nada na frente de nossa mãe, a qual nota meu desânimo imediatamente.

- Dormiu tarde, meu bem?

- Insônia. – Dou de ombros, fingindo indiferença.

Percebo as duas se olharem. Aquela clássica conversa entre olhares. Odeio isso. Começo a colocar o café na xícara, enquanto ambas comem silenciosamente.

A Estrada PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora