O Beijo

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Setembro de 2015

O cenário reaparece em meio ao asfalto prestes a ser rompido. Gabriel percorre seu familiar caminho, observando atentamente cada pedacinho de céu que se revela diante de seus olhos. Pode ver uma luz maior no fim do trajeto, onde a curva se faz. O novo brilho surge silenciosamente e parece decidir se esconder novamente. Desiste então de decifrá-lo e continua a caminhar em direção à cena que já fora tão temida antes e agora era apenas uma imagem que lhe trazia conformidade e cansaço. Sua estrela permanece ali, à espera de um desconhecido rapaz. Gabriel assiste a tudo novamente e mantém-se firme enquanto sente o asfalto se quebrar e o céu escurecer cada vez mais. Ele ergue o olhar para cima e aguarda que algo novo aconteça. E gostaria que acontecesse... Pois sabia que ali havia um novo alguém.

- Aonde você foi àquela hora da noite?

Andrew estava na cozinha preparando uma omelete, quando Gabriel deixou o quarto, ainda pensativo sobre seu sonho.

- Precisava dar uma espairecida. Comecei a andar por aí. – dá de ombros.

- Você tá precisando de uma garota.

Gabriel o encara, desconcertado. Tudo bem que tinha o costume de sair constantemente com garotas sortidas, mas isso não queria dizer que aquilo se tornara uma necessidade em sua vida.

- Não estou... – resmunga. Sentia-se quase ofendido pela piada. Ele podia muito bem ser um cara bem sucedido na vida sem precisar de sexo casual a todo instante, afirma para si mesmo. Não era nenhum fracote para isso, a seu ver. – Só preciso de um pouco de descanso mental.

De repente a campainha toca.

- São oito horas da manhã. – ele diz, com uma careta. – Quem me incomodaria às oito da manhã?

Dirige-se então à porta e pergunta.

- Quem é? – e percebe que soara mais irritado do que esperava.

- Abre essa porta logo, Stinky! - Uma vozinha aguda exclamava do outro lado.

Ele a abre rapidamente, surpreso.

- Kate?!

Sua "irmãzinha" estava diante dele, com uma grande mala em mãos, sorrindo.

- Bom dia pra você também.

- O que faz aqui?

- Sei que a manhã não é seu momento preferido do dia, mas podia tentar ser legal. Eu me contentaria com a tentativa... Na boa.

- O que faz aqui? – repete, impaciente.

Kate apenas o ignora e entra no pequeno apartamento. Ela então percebe Andrew, sentado à mesa em frente à cozinha, olhando-a com certo constrangimento.

- Ah... Bom dia, Andrew. – sorri. – Quanto tempo...

- Sim... Muito tempo, não é mesmo? – ele responde e agradece a si mesmo por não ter gaguejado. – Que tal um café?

- Que tal me explicar essa visita surpresa? – Gabriel ressurge, de braços cruzados.

Kate revira os olhos.

- Obrigada... Mas não pretendo roubar a comida de vocês assim, logo tão cedo. – brinca.

Andrew ri e bebe um último gole de seu café.

- Bom... Tenho que ir! Já estou um pouco atrasado... Por favor, não repare. – sorri para Kate.

- Boa aula.

A Estrada PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora