A Estrada Partida

Eu Não Choro

Outubro de 2015

Quase um mês se passara e o campus parecia ter voltado ao normal, assim como o céu, a brisa do outono e os pesadelos constantes. Para Gabriel, sua vida retornara à tão medíocre realidade, à qual vinha tentando, ainda que aos tropeços, se readaptar. Suas caminhadas ao campus se tornavam cada vez mais temidas e podia jurar sentir um par de pequenos e profundos olhos observá-lo algumas vezes, enquanto passava pelos corredores. "Ela" não era mais nada agora, garantira a si mesmo. Lembrava-se disso constantemente, a fim de não ser pego por sua própria fraqueza e abnegar do orgulho tão imponente que o assolava. Mas seus olhos lhe pregavam peças, atraindo-o para onde quer que "ela" estivesse.

Era uma pena não poder apenas apreciar aquela beleza sob o brilho do sol, como fizera durante os últimos tempos, lamentava-se. Era uma pena que tivesse de ver sua moça de cabelos dourados de mãos dadas a outro cara, sabendo que tudo o poderia oferecê-la era um passado repleto de mágoas. De fato, não havia como lutar contra o outro, reconhecia, ainda que relutante.

Acabara de chegar em casa e sentara-se na cama, com o grande violão em mãos. Permanece então de olhos fechados, na mesma posição, esperando que seus dedos se unam às cordas, trazendo-lhe conforto. Mas nada lhe vem à mente.

Então é isso.

Sua vida real estava mais que de volta.

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- Vai fazer compras com a gente? – Louis pergunta a Luna, ao passar pela grande porta.

A aula havia terminado e os três amigos deixavam o prédio. Já era sexta feira, e o calouro não podia estar mais que ansioso para a próxima festa do campus.

- Acho que não. Combinei com Tom de encontrá-lo no Andy's agora e depois vou estudar.

- Então a coisa está ficando muito séria mesmo, não é? – Karen parecia mais que curiosa ao olhar para a colega. Era como se torcesse imensamente pela amiga, e isso fazia Luna se sentir mais à vontade a seu lado.

- Parece que sim. – sorri, constrangida. – Mas, de qualquer forma, vamos acabar nos encontrando na festa, hoje à noite. – dá de ombros. – Então não terão tempo para sentir minha falta.

- Realmente! E é bom que você vá comigo ao shopping, Karen! Preciso estar impecável até o fim da madrugada. Até a última gota de álcool que eu ingerir. Ouviu bem?

- Meu Deus! Mas quem é que você está querendo impressionar?!

- Possíveis relacionamentos futuros, querida! Empreendimentos. Já ouviu falar?

- E qual é o investimento? – Luna se intromete, com um sorriso divertido.

- É melhor eu nem dizer.

- Pois parece que ele está se saindo um melhor empreendedor que eu, ultimamente. – Karen resmunga.

- É melhor eu ir então. Tom deve estar me esperando. Até mais tarde, meninos. – começa a se afastar.

- Meninas. – Louis a corrige, com uma piscadela.

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Luna faz a rota em direção ao Andy's, sentindo-se desanimada. Essa é mais uma sexta feira em sua vida, enquanto que para outros, é o dia mais esperado da semana. Gostaria muito de poder se juntar àquela alegria que lhe parecia tão contagiante entre os demais. Mas falta algo em sua rotina. E ela sabe muito bem do que se tratava.