As Nuvens

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Outubro de 2015

- Gabriel... Levante.

O rapaz continua ajoelhado, encarando-a, inconformado.

- Gabriel. – Luna perde a batalha contra suas próprias lágrimas e sente-as rolarem, desenfreadamente.

- Não posso te deixar se machucar de novo

- Não entende que é você quem está me machucando?! – exclama e o vê se retrair. Gabriel abaixa a cabeça, envergonhado. As poucas palavras o atingiram no peito e se embolavam em sua garganta, como a lhe formar um grande nó.

- Me desculpe. – murmura em um fiapo de voz. – Nunca foi minha intenção. Eu... Sempre quis te ajudar, proteger e... Andei estragando tudo. – sua mente é preenchida por sentimentos e frases incompletas, fazendo-o hesitar antes de continuar. – Assim como acabei de fazer. – conclui, com um suspiro.

Um silêncio se faz presente na pequena sala, enquanto Luna tenta conter a respiração ainda ofegante. O corpo antes tão tenso se desliza, ainda encostado à porta. Deixa-se cair sentada no chão lentamente e dobra os joelhos, abraçando-os, enquanto encara o rapaz.

- Você não estragou tudo. – ela sussurra. Sua voz é fraca e quase inaudível. - Você me ajudou naquela noite da briga e cozinhou para mim quando desmaiei.

- Aquilo foi o mínimo que eu deveria ter feito.

- Mas ninguém mais fez. – garante. – Só você.

Por alguma razão, ouvir as últimas duas palavras fizeram com que Gabriel sentisse o coração de aquecer.

- E faria quantas vezes fosse preciso.

- Não duvido. – suspira. 

- Por isso preciso que confie em mim.

- Acho que não sou eu quem precisa dar um voto de confiança a alguém. – rebate, magoada.

- Luna. Eu tô tentando, vai por mim. Confio em você. Eu juro. – e após procurar por palavras e não encontrar o suficiente, desiste. - Não sei como explicar.

- Você nunca sabe. – amargurada, ela suspira ao pender a cabeça para trás. Em seguida, sente uma mão quente tocar a sua.

- "Não saber" pode ser algo bom. – Gabriel se explica, docemente. – Pelo menos é o que penso.

- Mas não é o suficiente. – ergue-se num rompante, fazendo com que o rapaz tome a mesma atitude, surpreso.

- Luna...

- Por favor, Gabriel. Vá embora. – interrompe-o.

- Não me diga que vai ignorar o que acabei de te dizer. – alega, boquiaberto.

- Quem me dera poder ignorar. – ri exasperadamente, enquanto tenta enxugar as lágrimas. – Está tudo aqui. – aponta para a cabeça. – Se repetindo, palavra por palavra, mas é sempre o mesmo discurso. Não aguento mais esse discurso. – a voz falha.

- Você fala como se tivesse algum tipo de medo. Medo de mim

- Não tenho medo de você. Tenho medo de mim mesma, do que faço e penso toda vez que está por perto e dos erros que cometo quando você me beija. Tenho medo de tudo isso.

- E por que?

- Porque nunca me senti assim! – exclama. Pela primeira vez na vida sentira-se conectada de verdade a alguém e, ao contrário do que os livros diziam, aquela nova sensação não lhe parecia nada agradável.

A Estrada PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora