Setembro de 2015
- Ele parecia muito debilitado, mãe.
Gabriel sentara-se na cozinha de sua casa, após a visita ao avô. Sentia-se inconformado pelo que vira. A breve conversa havia sido interrompida após Bill cair no sono, involuntariamente. Gostaria de ter esperado para vê-lo acordar, mas ficar naquele quarto causava-lhe uma dor com a qual não conseguia lidar. O medo da perda era enorme, ainda que tentasse se preparar a todo instante para aquilo. Estava cansado de perder as pessoas, reflete com pesar.
- Eu sei. – ela tem um olhar triste ao dizer. – É difícil ter de assistir a isso. Eu sinto muito, querido. – estende a mão, afagando-o nas costas. – Mas ele, com certeza, ficou muito feliz por te ver.
O rapaz apenas assente. Sua garganta está preenchida por um nó invisível, e os olhos insistem em marejar. Mas ele não iria chorar, garante a si mesmo. Chorar é para os fracos, seu pai dissera-lhe uma vez. E ele era forte o bastante para conter-se e provar a Randy que o filho dele era mais forte do que podia imaginar, conclui obstinado.
- Vou me deitar um pouco. – diz, erguendo-se imediatamente. Caminha, decidido, até o quarto, onde deixa seu corpo cair sobre a cama. Fecha os olhos, inspirando profundamente. Era assim que ele evitava perder o controle. Já aprendera aquela técnica há um bom tempo, mas parecia que quanto mais a praticava, mais difícil ela se tornava, observa.
Ao abrir os olhos, nota seu novo violão apoiado sobre a mesa do computador. E suas mãos imploram imediatamente por tocar aquelas cordas. A melodia sempre o tirava de seus pesadelos íntimos. Levanta-se então, pegando-o e em seguida, volta para a cama, posicionando-o sobre seu corpo inclinado. Seus dedos dançam sobre o instrumento, enquanto ele se lembra de como aquela casa guardava, a sete chaves, as boas lembranças. Há alguns anos atrás, jamais imaginaria que um dia seu lar se tornaria um dos últimos lugares aos quais gostaria de ir. Olha pela janela, e pode ver as árvores dançando em meio ao vento. Aquele som de farfalhar das folhas lhe trazia um sentimento de nostalgia, acompanhado de serenidade. Por que o tempo passara? Por que passara tão rápido?, ele se pergunta, inconformado.
Julho de 2012
Ela fica tão linda quando está lendo. Seu corpo parece uma escultura sobre o gramado, e minha vontade é agarrá-la ali mesmo, na frente de todo mundo.
- Não vai se deitar? – Sara se vira para mim, com um sorriso provocante que faz meu coração acelerar.
- Prefiro ficar sentado aqui. A vista é mais bonita. – pisco.
Ela ri. Cara, eu adoro esse sorriso.
- Estamos numa praça, em pleno fim de semana, com um sol lindo desses e você vai ficar na sombra? – ela continua.
Sorrio. Ainda que prefira a sombra, não resisto e me deito ao seu lado.
- Assim está bem melhor. – ela se inclina e me dá um beijo rápido.
- Sabe onde estaríamos bem melhor? – sugiro e vejo-a rir, erguendo uma das mãos para me dar um leve tapa no rosto.
- Você prometeu se comportar.
Beijo aquela mão e puxo seu corpo para mais perto.
- Estou me comportando.
Sara se aproxima mais e me abraça.
- É uma pena ainda estar tão cedo... Gostaria de poder olhar as estrelas com você assim. Ao ar livre.
- Podemos ficar assim até a madrugada, se quiser. – afirmo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Estrada Partida
RomanceUma juventude repleta de sonhos acaba de ser corrompida com o fim de um primeiro amor. Gabriel, que pensara já ser um homem, se descobre apenas um menino solitário e frágil por trás de uma grande armadura física. O tempo, que deveria ser seu grande...