Entre As Estrelas

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Outubro de 2015

- Depois que você fechou a porta, eu nem sabia o que fazer. – Gabriel se explica, cabisbaixo. – Clair parecia não querer sair de lá, mas acabei dizendo que tinha me esquecido de resolver alguns problemas na faculdade. Acho que ela não acreditou mas pelo menos foi embora. E eu fiquei sem saber como reagir a partir dali.

Luna olhava-o, completamente chocada. Ele só podia estar rindo dela, constata. Recusava-se a acreditar que aquele rapaz pensasse que realmente a convenceria com uma história tão estranha assim. Tudo bem que a parte em que Clair se declarava era fácil de entender mas o resto... O resto só acontecia nos filmes.

- Não acredita em mim, não é? – ele ergue a cabeça. Seus olhos estão tristes.

- Terá de contar uma história melhor. – cruza os braços, tentando esconder as mãos trêmulas. Estar ali no alto, ao lado dele, fazia com que desejasse que a vida fosse simples. Os dois estavam tão perto. O banco não era largo e Gabriel ocupava boa parte dele, o que fazia com que seu braço tocasse o dela constantemente. A sensação que aquela pele lhe causava deixava-a arrepiada. – Porque me parece que não teve tempo suficiente para inventar uma boa desculpa. – sua voz sai mais amargurada do que imaginara.

- Eu juro que estou te dizendo a verdade. – esfrega a cabeça, inconformado. - Por tudo que é mais sagrado nesse mundo. Pelo meu avô.

Mais uma vez, ela vacila. Aquele juramento não podia ser contestado. Não quando envolvia alguém tão importante para Gabriel. Isso faz com que se sinta quase aliviada por começar a se convencer de que poderia ter presenciado um engano.

- Nós realmente não temos nada garantido. – continua. – Mas o que aconteceu hoje me fez me sentir errado. Como se tudo estivesse fora de lugar, e a culpa fosse toda minha.

- Também me sinto assim. – suspira. – Não devia ter feito mal ao Tom. Ele sempre foi tão bom comigo. Tenho me sentido um monstro cada vez que me lembro de tudo o que aconteceu pelas costas dele.

Gabriel sente a irritação tomar seu corpo mais uma vez.

- Tom merece coisa pior.

- Gabriel! – ela o repreende.

- Eu deveria te provocar mais vezes. - comenta, reprimindo o riso ao vê-la de cenho franzido. – Sei que não gosta quando falo do seu namorado, - enfatiza com desprezo. - Mas só estou sendo sincero.

- Por que nunca gostou dele? Desde o início me disse pra tomar cuidado, mas nunca me explicou a razão disso.

- Ok. – ajeita-se no assento, esticando o braço sobre o mesmo. – Vamos lá. Por onde começo? – e seu rosto demonstra um divertimento, ainda que sarcástico. – Tom é um filhinho de papai que nunca soube respeitar uma mulher. Ele dorme com todas as garotas que encontra pela frente, e as convence de que é o príncipe encantado. Dá o fora depois que se cansa delas, e parte pra outra plebeia.

- Eu sou uma "plebeia"? – fita-o, indignada.

- Meu Deus, não! Não é isso que estou querendo dizer! – corrige, irritado. – Será que pode prestar atenção na parte que realmente importa?!

- O que importa para você? – surpreende-se pela segurança que sua voz aparenta.

Gabriel a encara, boquiaberto. Mil palavras poderiam lhe vir à mente agora mas nenhuma seria realmente pronunciada. Porque ainda que soubesse o que lhe importava, não conseguia dizê-lo.

- Por que não gosta do Tom? – ela insiste.

- Eu... Só não acho que mereça sofrer por ele. Pessoas como você não merecem sofrer por amor. – seus olhos tão azuis parecem opacos e repletos de memórias.

A Estrada PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora