Setembro de 2015
- Eu não disse que aquele cara não era legal pra você?
Tom estava sentado em uma das cadeiras da sala, com um cubo de gelo envolvido por um pano em mãos, colocando-o levemente sobre o canto dos lábios.
- Ele não é uma má pessoa. Só estava preocupado. Pensou que você estivesse fazendo mal a mim. – Luna insiste. E uma sensação de culpa começa a invadi-la ao perceber a grosseria com que tratara Gabriel. – Tenho certeza de que foi só isso que o deixou daquela maneira. Ele jamais te agrediria dessa forma em vão.
- Mesmo assim. – resmunga. – Já não gostava desse cara. Agora tenho bons motivos para odiar.
- Deixe isso para lá. Gabriel deve estar arrependido pelo que fez. – mente. Pelo pouco que conhecia sobre o rapaz, podia imaginá-lo bravo ainda, e desejando derrubar o grandalhão mais uma vez, caso uma oportunidade lhe surgisse. – E além do mais, ficar pensando nisso agora não vai te ajudar em nada. – conclui, caminhando em direção à geladeira, onde pega uma garrafa de água, servindo-o logo em seguida.
- Obrigado. De qualquer forma, pelo menos, consegui ficar por mais um tempinho a sós com você. – sorri fracamente, tentando esconder a dor do golpe. – Não estamos na minha casa, mas estamos na sua.
- Sim. – ela cora, olhando para baixo. Se aquilo a ajudaria a acalmar o rapaz, então entraria no jogo, decide.
- Luna.
A moça ergue a cabeça, estranhando o peculiar tom de voz. Tom está encarando-a com seriedade, e aquilo a assusta. Pela primeira vez naquele dia, ele não lhe lança um sorriso galanteador, observa.
- Eu... – continua. – Eu sei que não começamos da melhor maneira. Mas quero ainda poder consertar todas essas bagunças que acontecem toda vez que nos encontramos. Quero muito conhecê-la. – e a cada palavra mantém seus olhos fixos nos dela. – Só que, para isso, preciso que me permita fazê-lo. Será que poderia? – e finalmente um pequeno sorriso lhe brota. – Poderia abaixar a guarda só por um tempinho?
Uau. Ele nunca falara daquela forma com ela, reconhece. Sempre estivera claro a necessidade que o grandalhão tinha de agradá-la, mas nunca o vira agir assim, de maneira tão sutil. Talvez Karen estivesse certa sobre ele se importar com ela, considera. Parecia, a seu ver, que Tom estava de fato envolvido naquela relação que mal começara.
- Me desculpe. Eu... Não havia percebido que estava sendo tão difícil. – responde e agradece a si mesma por não gaguejar.
- Bem, eu gosto de garotas difíceis. – ele ri. – Mas em algum momento elas têm de facilitar as coisas, não é mesmo?
- Sim. – sorri, constrangida. – Está certo.
A diferença entre ele e Gabriel a impressiona. A última imagem que tivera do rapaz de olhos tristes fora a fúria. Uma fúria incontrolável, como um grito silencioso emitido a cada golpe que dera em Tom. Já o outro, apesar de nocauteado, estava diante dela com um sorriso, carregando uma serenidade aparente, e pedindo mais uma chance depois de tanto ser descartado. Por mais que estivesse preocupada com Gabriel, tinha de reconhecer o discrepante contraste. E percebia o quanto as coisas podiam ser simples ao lado do grandalhão.
- Adoraria manter meu convite para o cinema particular, mas acho que não estou muito em condições de te fazer companhia, não é mesmo? – brinca. – Podemos deixar isso para amanhã?
Luna pensa. Não sentia uma real vontade de encontrá-lo no dia seguinte, mas depois de tudo o que ouvira, achava que não faria mal "abaixar a guarda" pelo menos um pouquinho.
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A Estrada Partida
RomantikUma juventude repleta de sonhos acaba de ser corrompida com o fim de um primeiro amor. Gabriel, que pensara já ser um homem, se descobre apenas um menino solitário e frágil por trás de uma grande armadura física. O tempo, que deveria ser seu grande...