Cicatrizes

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Outubro de 2015


Abraçados um ao outro, sentiam a discreta brisa da madrugada envolvê-los. Já haviam perdido a conta de quantas vezes se olharam e conversaram com pequenos gestos e leves sorrisos. Não havia palavra alguma a ser dita ali. Tudo de que precisavam eram os olhares que, intensamente, juravam um amor que nenhum dos dois era capaz de compreender ainda. O silêncio que pairava sobre a cama apenas os unia ainda mais, permitindo-lhes um momento único, dedicado exclusivamente às descobertas. Decifravam os suspiros e gemidos cada vez mais, a cada toque, e os beijos que distribuíam sempre se encaminhavam para um final redentor no qual, novamente ofegantes, atingiam o êxtase. Esqueceram-se do pudor durante aquelas poucas horas, assim como da insegurança e dos medos. E quando a calmaria começara a se aproximar, após mais um momento de clímax, Gabriel puxara Luna para junto de si novamente, aninhando-a em seu peito. Ali ela permaneceu em silêncio, sentindo sua respiração se tornar profunda e tranquila, até que desejou ouvir a voz do rapaz.

- Está dormindo? – sussurra.

- Não. – responde com um leve riso. – A última coisa que pretendo fazer nessa noite é dormir.

A resposta a faz se aconchegar ainda mais no quente abraço, encostando seu rosto na pele dele. 

- Gosto do seu xampú. – a voz rouca do rapaz lhe causa arrepios. – Tem algo de nostálgico nisso. Algo que me acalma.

- Gosto do seu cheiro.

- Meu cheiro

- Sim. É algo só seu. É convidativo, acolhedor.

- Eu esperava algo do tipo "sexy".

- E sexy. – ela ri. – Muito sexy.

- Isso é bom. – deposita-lhe um beijo na fronte. - Nunca conte a Kate o quão sou grato a ela, agora.

- Não contarei. – garante entre risos. – Apesar de que você deveria ser grato ao Andrew também.

- Nem me lembre. – balança a cabeça, furtivamente. - Vamos pensar em outra coisa.

- Certo. No que quer pensar?

- Em como o céu ficou bonito desde que entramos nesse quarto. – aponta para a janela.

- Está lindo. – concorda.

- Olhando para ele e te abraçando desse jeito, sinto como se estivesse segurando um pedacinho de tudo aquilo.

- É clichê eu dizer que me sinto da mesma forma? Parece incompleto quando admiro daqui mas, quando olho pra você... É como se encontrasse a lacuna que ficou faltando nele.

- Então concordamos mais uma vez. Aliás, nos refletimos. – corrige-se. - Que nem um espelho. – ele sorri, e seu olhar se torna distante.

- O que foi? – Luna apoia-se com os próprios braços, encarando-o.

- Nada. – ajeita uma mecha rebelde do rosto da moça. – Só estou pensando em uma nova música.

- Uma música alegre?

- Sim. – ele ri. – Com toda a certeza.

Mais uma vez tocada pelo novo sorriso do rapaz, ela segura a grande mão que acariciava seu cabelo e nota uma pequena cicatriz no início dedo mindinho, quase atingindo a palma da mão.

- O que houve? – observa, curiosa.

- Ah, isso foi o resultado de um ato de rebeldia de um garoto de 8 anos, que queria muito ter seu próprio canivete.

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