Estrela

104 12 11
                                    



Setembro de 2015

Gabriel caminha pela estreita rua, segurando um buquê. Ele já sabe bem para onde está indo e seu corpo responde à expectativa, revelando um incessante tremor nas mãos. Seus passos são cansados, descrevendo no chão, lentamente, seu sentimento de derrota.

O céu é de um entardecer romântico, e uma luz maior se revela pela primeira vez, timidamente, em algum ponto distante. Ela é quase imperceptível, mas por alguma razão, Gabriel a sente.

A rua quase chega ao fim, e seu tremor começa a aumentar, no aguardo de uma cena familiar. Não importa quantas vezes a imagine, ele sempre teme por ela. Caminha naturalmente agora, em meio à dúvida de adiar aquela tortura ou acabar com aquilo de uma vez.

No final do trajeto há apenas uma esquina. Fecha os olhos e respira fundo, apertando o buquê contra si. Ele então se vira em direção ao já conhecido destino.

Lá está ela. Sara o encara com um sorriso, como se já o esperasse há tempos. Em seguida, um rapaz surge por trás de Gabriel, trazendo uma escuridão, complementada por nuvens arroxeadas, e vai em direção à garota.

Ele tenta avançar, mas Sara o impede.

- Não, Gabriel... Não.

Reconhece aquele olhar de pena e recua. Como aquilo dói, pensa.

O rapaz misterioso, por sua vez, se vira para ele com um sorriso de desdém, aproxima-se da garota e a beija, apaixonadamente. No mesmo instante, Gabriel sente o asfalto se partir sob seus pés e um ruído ensurdecedor toma conta de sua mente.

Ele apenas mantêm os olhos fixos em direção à cena, entretanto seu olhar é distante, como se não percebesse nada daquilo. Seu semblante, já cansado, parece questionar quando aquela cena terá fim. E finalmente, como se suas preces fossem ouvidas, o despertador toca.

Ele se ergue da cama, rapidamente e permanece sentado por um tempo, recuperando o fôlego. E de repente deita-se novamente, com um suspiro. Não suporta mais acordar assim todos os dias.

Finalmente se levanta após alguns minutos e como se ainda estivesse dormindo, caminha pelo quarto. Precisa se recompor e, ainda que seja apenas uma manhã, ele sabe que lá se vai o resto do seu dia, destruído por um único pesadelo.

- Você tá horrível. - Andrew entra na pequena cozinha do apartamento.

Gabriel apenas se manifesta com algo semelhante a um grunhido, enquanto termina de beber sua caneca de café.

- Perdeu a festa de ontem. – continua. – Olha só o que consegui.

Gabriel ergue o olhar, ainda indiferente para as mãos do amigo.

- Um celular?

- Pelo amor de Deus, cara. Tô falando dos números de telefone. Consegui dois ontem à noite. - ao se decepcionar com a falta de energia do amigo, Andrew insiste. - Sorte minha você não ter ido.

Gabriel sorri fracamente, o olhar fixo na caneca. Seu sucesso com o público feminino era incontestável mas, por alguma razão, aquilo não lhe despertava orgulho. Seu jeito quieto e decidido era apontado como um charme, o que o fazia chamar a atenção das garotas com quem se relacionava. Era engraçado, a seu ver, que elas pensassem que sua personalidade fora criada para fins de conquista.

Entretanto, por mais que fosse considerado por muitos um mulherengo, jamais quis magoar as mulheres com quem saía. Era exatamente por isso que nunca enganava nenhuma delas, deixando bem claro desde o início que não era o tipo de cara para namorar. Na verdade, hoje em dia já não se fazia necessário esclarecer essa cláusula de sua vida. Qualquer garota que o conhecesse naquele campus sabia muito bem que sua vida não estava aberta a romances. Não mais. E nunca fora necessário partir o coração de alguma delas para provar algo. Sua consciência estava limpa quanto a esse assunto.

A Estrada PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora