O Homem

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Setembro de 2015

A rua está diante dele de novo. Lá se vai mais uma noite... Gabriel caminha com seu buquê em mãos, devastado, desviando seu olhar do céu. Hoje, ele não pretende admirá-lo. Nessa noite, tudo o que faria seria adiantar a dor.

Anda, decidido, em direção à curva, no final de seu destino, e vira-a, deparando-se com a costumeira cena. Sara está à espera de alguém. E Gabriel apenas a encara, esperando pelo rapaz, o qual chega prontamente, aproximando-se de sua estrela e beijando-a novamente, com a mesma intensidade de sempre, enquanto ele desvia o olhar. Procura desligar sua mente por alguns segundos e esperar que o sonho tenha seu fim. Sabe que logo estará acordado.

Sente sua consciência se aproximar e aguarda, pacientemente, que a mente o traga de volta à realidade. Está quase chegando ao fim, pensa. Mas uma voz o surpreende antes que recobre a consciência. "Você é bom." E então ele acorda.

__________

- Aí está você!

Tom exclama ao encontrar Luna no corredor da universidade. Já era manhã e os alunos preenchiam os prédios do campus, relembrando a noite anterior, calorosamente.

- Tom... Como vai?

Ela não sabe bem como agir diante do rapaz. Seu último encontro não fora muito convencional e o ritmo com o qual ele tentara conduzir a conversa a intimidara um pouco.

- Melhor agora. – ele se inclina na parede, em uma postura mais íntima, fazendo-a corar.

- Você fez falta ontem. – sussurra. - Mas espero ter a oportunidade de te recompensar pelo incidente da piscina. – ele continua, ignorando sua timidez.

- Bem... – começa, buscando por alguma palavra. O que deveria responder àquilo?!, questiona-se.

- Por isso acho que devíamos almoçar juntos hoje. – interrompe, sorridente. – Posso contar com um sim?

Céus, como ele era rápido!, Luna conclui, analisando-o finalmente. Sua camisa branca realça seus músculos e seus braços cruzados lhe dão uma aparência ainda mais bruta. Ele realmente é bonito. Mas havia um outro alguém que ficava melhor com aquela roupa e a pose rude. A diferença era que esse outro alguém não sorria daquela maneira e aparentemente não ficava muito feliz ao vê-la pelo campus, lembra-se.

- Tudo bem. Nos vemos depois da aula. – sorri.

- Ótimo. – conclui, triunfante. – Te espero na porta do prédio.

E então ele se afasta. Luna finalmente recobra seu censo crítico e agora se pergunta por que aceitara com tamanha facilidade o convite. Talvez o fato de ter desviado seus pensamentos a Gabriel a tenha feito buscar uma fuga, aceitando as tentativas de Tom.

Se fosse realmente sensata não perderia seu tempo pensando em um cara que a repudia e a trata como uma criança. Gabriel não devia fazer parte de seus pensamentos. Aquilo estava errado, a seu ver. Ele não tinha o direito de invadir suas lembranças daquela maneira... Mas como se esquecer de seu semblante triste na noite passada? Como ignorar a visão que tivera de um garoto tomado pela dor ir embora, sozinho, pela noite, invadido por memórias tão misteriosas...

Como se o próprio ouvisse suas reflexões, eis que surge seu triste menino pela porta do primeiro andar. Ele anda lentamente, concentrado em seus tênis, com o cenho franzido. Sua vontade era de fugir agora, ou simplesmente desaparecer como num passe de mágica. Mas uma força interior a mantinha ali, fixa ao chão, sem qualquer capacidade de se mover. Encara-o, inevitavelmente, e se assusta ao vê-lo erguer a cabeça.

A Estrada PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora