A Luz

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Outubro de 2015

O céu mais uma vez adquiria uma tonalidade arroxeada, convidando a escuridão a lhe acompanhar. Aquilo já não deveria assustá-lo mais, mas por alguma razão, nos últimos tempos aquele pesadelo andara sofrendo modificações, as quais Gabriel não sabia explicar. Por isso, manteve seu olhar direcionado para aquela imensidão de estrelas quase opacas enquanto buscava a resposta para suas perguntas. Por que estava tudo fora de lugar naquela noite? E que sensação de presença era essa que estava sentindo? Resignado, seguiu em frente, enquanto olhava ao seu redor, confuso. Seu trajeto teve o costumeiro fim ao revelá-la, sorrindo mais uma vez, naquela curva. Sara mantinha seu sorriso encantador, o qual fora tantas vezes direcionado a ele. Gabriel, mais uma vez, dá passagem ao jovem rapaz que surge em meio ao cenário prestes a beijá-la, e por alguma razão, há ainda um silêncio. O caos demora a surgir desta vez e lhe parece mais suave. A estrada começa a se partir, e o céu se torna revolto como um mar mas, aquele medo e a sensação de pânico já não são iguais a antes. E ele olha mais uma vez ao seu redor, captando uma luz misteriosa que parecia envolvê-lo. Sua atenção é então voltada para o caminho aparentemente sem fim que o asfalto fazia. Entretanto, agora podia jurar que começara a ver uma extensão daquele chão cinzento para além do "fim". Ele tenta se aproximar mas, a luz que nascera timidamente se torna cada vez mais intensa, quase a cegá-lo, impedindo-o de manter os olhos abertos. Uma linda voz de anjo toma conta do lugar, revelando-se em uma canção que lhe era conhecida, acalmando-o, como se tentasse garantir que tudo ficaria bem. E o calor que aquele clarão lhe oferece, o faz cair de joelhos em redenção, quase aliviado, puxando-o para fora dali e fazendo-o finalmente abrir os olhos para o novo dia.

__________

- Foi a alguma festa ontem? – Andrew acabara de se servir de uma caneca de café, quando Gabriel adentrou a sala.

- Não.

- É que chegou tarde. – ele diz, desconfiado.

- Fiquei do lado de fora, esperando o sono vir. – dá de ombros.

- Hum. – hesita. – Aquele carinha que veio aqui no fim de semana... Como ele se chama?

- Louis.

- Ah sim. – assente, casualmente. – Vocês são bem próximos pelo visto, não é?

- Aonde quer chegar? – pergunta, impaciente.

- É só que... Eu pensei que ele fosse... Você sabe.

- Gay? – rebate, com naturalidade. – Sim. Ele é gay pra caralho. E daí?

- Eu só... Não sabia que você era assim.

- Assim como?

- Tranquilo? – sugere. – Mente aberta.

- Andrew... Eu não tenho nada com o Louis se é o que pensa. – repreende.

- Sim! Claro. Só estou um pouco surpreso. – explica-se, constrangido. – É legal saber disso. – sorri, por fim, aparentemente aliviado.

Gabriel apenas assente. Poderia deixar-se passar a manhã mal-humorado mas, por alguma razão, sentia-se bem. A luz do sol entrava no apartamento calorosamente, abraçando-o. A atmosfera que o envolve faz jus ao seu estado de espírito e parece que nada poderia arruinar seu momento. Queria entender porque as coisas mudaram tão repentinamente mas talvez tivesse a resposta para aquilo, reflete. Talvez uma doce voz estivesse ainda cantando para sua alma como fizera na noite passada.

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