Outubro de 2015
- Quer beber alguma coisa? – Gabriel oferece ao vê-la se sentar no pequeno sofá, ainda enrolada ao cobertor. Após caminharem lentamente para o alojamento e em completo silêncio, pensava em como deveria iniciar uma conversa. Luna lhe parece extremamente frágil e vulnerável agora, e isso o intimida.
- Não, obrigada.
O rapaz assente e pega uma das cadeiras para sentar-se de frente para ela.
- Eu... Não sei se quer falar sobre o que aconteceu mas, caso deseje, pode dizer. Estou aqui para te ouvir. – murmura, timidamente. - E saber o motivo pelo qual vou dar uma surra no Tom amanhã. – acrescenta.
- Você estava certo sobre ele. – responde num sussurro, a voz fraca denuncia o quanto havia chorado. – Mas por favor, não faça nada. Não quero mais ter de me lembrar de hoje.
- Sinto muito por isso. De verdade. – reconhece que por mais que desejasse vê-la longe do namorado, preferia que as razões fossem outras, apenas para não vê-la sofrer tanto.
- Eu não devia ter ido.
Por não saber como conduzir a conversa, Gabriel apenas estende a mão e deposita-a sobre o joelho da moça, afagando-a.
- Ele parecia tão diferente. – continua e tenta se conter para que o choro não volte. – Como se fosse um monstro.
- Mais monstruoso que eu? – dá um sorriso fraco ao tentar diverti-la.
- Você não é um monstro. – garante, ainda séria. – Você é tudo, menos um monstro.
- Se você diz...
- Onde está sua irmã? – ela observa ao redor.
- Saiu. – suspira. – Com o Andrew e o Louis.
- Ah...
- Sim, eu sei. Meu colega de apartamento provavelmente está ficando com a minha irmã e não há nada que eu possa fazer para impedir isso. – conclui, esfregando as têmporas.
Pela primeira vez, desde o início da noite, Luna sorri. Gabriel lhe parecia o cara mais fofo do mundo quando estava com ciúmes, mesmo quando não eram por causa dela, admira.
- Andrew é um cara legal. – murmura.
- É. Tanto faz. – dá de ombros e percebe que sua mão continua sobre o joelho dela. Uma dúvida cruel o invade por não saber se devia tirá-la dali, afinal Luna está frágil ainda, e não quer ser o "babaca" que se aproveita de uma garota deprimida. No entanto, mantém o corpo paralisado e, resignado, dá-se conta de que não havia nada naquele mundo que o impedisse de tirar as mãos dela, a não ser ela mesma.
- Queria que meu irmão fosse assim. – é a vez dela suspirar, enquanto se perde em pensamentos.
- Desajeitado e problemático? – ergue a sobrancelha, curioso.
- Pare de se xingar! – exclama e, em um ato quase reflexo, deposita sua mão sobre a dele, a qual segurava seu joelho, apertando-a. Recebe como resposta um meio sorriso, acompanhado de um brilho naquele olhar azul. – Eu me refiro à proteção que você dá a Kate.
- Seu irmão não se importa com você? É isso? – pergunta, indignado.
- Não! Ele se importa sim, e muito! É só que... Talvez, se ele fosse como você, eu não teria cometido alguns erros como os que cometi. – lamenta.
- Bom... – reflete. – Em matéria de erros, acho que Kate perde para mim. Tentei ensiná-la muita coisa e acabei me saindo o pior exemplo do mundo.
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A Estrada Partida
RomanceUma juventude repleta de sonhos acaba de ser corrompida com o fim de um primeiro amor. Gabriel, que pensara já ser um homem, se descobre apenas um menino solitário e frágil por trás de uma grande armadura física. O tempo, que deveria ser seu grande...