A Estrada Partida

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Outubro de 2015

Os ombros do rapaz se movem mais rapidamente e uma respiração acelerada começa a se fazer ouvir, junto de soluços. Luna se aproxima por completo, mais que decidida, e o abraça fortemente. Permite-o recostar a cabeça contra seu ventre e sente os fortes braços envolverem sua cintura, puxando-a. Ali ela permanece, acariciando-o pacientemente na tentativa de trazer-lhe um pouco de conforto. A moça fecha os olhos e não consegue reprimir as primeiras lágrimas que começam a brotar-lhe, pois sabe que a dor dele é sua também. Não tivera a oportunidade de se encontrar com Bill mas, de alguma forma sentia que o conhecia e isso só fazia com que se emocionasse ainda mais. O rapaz permanece abraçando-a pela cintura e Luna sente que as mãos dele comprimem o tecido de sua blusa. Por mais que esteja chorando, é possível ver o quanto ele ainda se contém, pensa com pesar.

À medida que os minutos se passaram, Gabriel demonstrava recuperar o fôlego e sua respiração começara a se alongar. Permanecia envolvendo Luna em seu abraço mas agora relaxara as mãos e, ao sentir que suas lágrimas já haviam diminuído, permite-se erguer a cabeça. Encontra empatia no olhar da moça e sente que as mãos dela tocam seu rosto, enxugando o traço úmido que ali começava a secar.

Era como se finalmente recobrassem a consciência para só então olharem ao redor. Alguns rostos miravam-nos com tamanha pena e compreensão e Luna pôde ver aquela senhora elegante de olhos azuis petrificada, observando-a com os olhos marejados. Se havia ainda alguma dúvida de que aquela era a mãe de Gabriel, essa se fora, pois Kate estava bem ao lado da mulher, assistindo aos dois e chorando. Só então dá-se conta de como estão expostos ali, no meio de tantas pessoas.

- Quer sair daqui? – pergunta baixinho ao que vê o rapaz afirmar veemente com a cabeça.

Os dois deixam a sala de mãos dadas e a moça se vê sendo levada para um corredor largo. Percorrem boa extensão da casa e chegam a uma escada, próxima à porta aberta da cozinha. A moça sabe disso, pois vê alguém sair do cômodo com uma bandeja repleta de taças. Sobem os degraus em silêncio ainda e percorrem mais um corredor, até chegarem ao final dele, onde há uma porta branca. Gabriel abre-a e dá espaço a Luna, para que entre.

O quarto era espaçoso, porém minimalista. Havia apenas uma cama ali, um armário e uma escrivaninha. A janela era grande o suficiente para se ter uma boa vista do céu, ela pensa, e o violão dele estava depositado próximo a ela. Gostaria de poder analisar um pouquinho mais daquele espaço tão aconchegante e ao mesmo tempo vazio, mas precisa focar apenas naqueles olhos azuis tristes agora. Gabriel fica parado, indeciso e ainda tenso. Agora Luna pode observar o quão cansado ele está, a julgar pelas olheiras presentes em seu belo rosto e ao notar o quanto emagrecera.

- Você precisa dormir um pouco. – sugere. – Se quiser ficar sozinho, eu vou entender. Posso voltar numa outra hora. – completa, contrariando sua própria vontade. Tudo o que quer nesse momento é estar ao lado dele e garantir que não fique desamparado. Aguarda por uma resposta e, depois de poucos segundos, arrepende-se do que dissera. O rapaz voltara a chorar sob efeito de suas palavras e murmura.

- Eu não quero ficar sozinho. Não aguento mais ficar sozinho.

- Tudo bem. – apressa-se, abraçando-o. – Tudo bem. Não vai ficar. – garante. – Não vou te deixar sozinho. – conclui, sentindo o tecido por cima de seu ombro começar a umedecer com as lágrimas do rapaz. Dessa vez podia ter certeza do que estava dizendo. Não há nada nem ninguém a seu ver que possa afastá-la dele.

O sol começara a desaparecer timidamente, dando espaço a um tom azul profundo. Não há muitas nuvens ao redor, nem estrelas por enquanto. O que chama a atenção desde a janela é a imensa lua que já se pusera imponentemente, destacando-se por alguma razão aparentemente desconhecida.

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