Outubro de 2015
- Ele nem sequer me ligou. – Luna observa, ainda deitada em seu quarto. Louis permanecia ao lado dela, tentando animá-la com suas piadas infames e comentários sarcásticos, mas suas tentativas não estavam surtindo tanto efeito como deveriam. Talvez porque a moça não conseguia prestar atenção nelas suficientemente.
- Deve estar arrasado como você. Vamos lá... Você conhece o ogrinho melhor do que eu. Sabe que ele não é do tipo que vai te ligar desesperadamente.
- Eu sei. – é claro que sabia e por isso sofria ainda mais. Porque tinha certeza de que o rapaz tentaria respeitar o espaço dela, a ponto de se manter distante.
- Mas me diga uma coisa.
- O que?
- Se ele te ligar, você vai atender?
- Não! – vira-se repentinamente para o amigo. – De jeito nenhum.
- E por que?
- Porque eu não posso cair no jogo dele mais uma vez.
- E que jogo é esse, afinal de contas? O que foi que o Gabriel fez pra te deixar desse jeito?
- Lembra de quando o Tom falou da Sara?
- Claro. Ele tava todo bravinho, com aqueles músculos tensos e a mandíbula bem trincada, uma delícia...
- Pois bem. – interrompe-o. – Eu encontrei o pingente do qual ele tinha falado, ontem à noite.
- Meu Deus! Onde?
- No armário do Gabriel.
- E o que ele fez?
- Jogou pela janela.
Louis parece raciocinar por alguns segundos, revelando confusão em seu olhar.
- Mas então você deveria estar feliz!
- E eu estava! – choraminga. – Até essa tarde, quando voltei para o apartamento dele e dei de cara com a peça na mesa da sala.
- Ah, não. – resmunga, inconformado.
- Ele nunca vai esquecê-la, Louis.
- Mas qual foi a explicação dele?
- A explicação? – não consegue evitar uma risada sarcástica. – A explicação é que Clair deixou ali.
- Clair?! – a voz aumenta algumas oitavas. – E o que essa menina tem a ver com tudo isso?
- Eu não sei. A essa hora já não conseguia ouvir mais nada do que ele tinha pra me dizer.
- Gatinha... Tem certeza de que não quer ouvi-lo? Quero dizer... Tem muita coisa que precisa ser esclarecida nessa história. Talvez ele realmente tenha uma boa desculpa pra tudo o que aconteceu.
- Acho que não, Lou.
- Pensa bem. Ele tá tão apaixonado por você. Ou vai me dizer que acha que tudo foi fingimento?
- Não sei. – sente a voz falhar. – Quando a gente ficava junto, só nós dois, parecia que nada era mais importante do que isso. Ele me conquistou cada vez mais, com o jeito de me olhar, de me beijar... Parecia tão verdadeiro comigo. Eu pensava que havia encontrado um homem diferente de todos os outros, sabe. Tudo que acontecia entre a gente era, de alguma forma, especial. Gabriel se esforçava pra que fosse.
- E ainda assim você tem a coragem de me dizer que não quer ouvir a versão dele?
Neste momento, a resposta "sim" fica travada em sua garganta. Relembrando cada detalhe do que vivera nas últimas horas, antes da briga, percebe que não era tão fácil assim acreditar que seu rapaz de olhos azuis brincara com ela. Ele não é assim, pensa. No entanto, dizer que é capaz de ouvi-lo tão precocemente, seria um blefe. Não há como olhar nos olhos dele e ser firme o bastante para evitá-lo ou dizer que está tudo acabado, reconhece. Mal se separaram e já sentia uma saudade imensa daquele sorriso tímido, assim como da mania que tinha de massagear as têmporas e a carinha de emburrado que fazia quando estava com ciúmes. Esquecer-se de Gabriel seria uma das tarefas mais difíceis que poderia efetuar em sua vida e chegar a essa conclusão estava começando a desesperá-la.
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A Estrada Partida
RomanceUma juventude repleta de sonhos acaba de ser corrompida com o fim de um primeiro amor. Gabriel, que pensara já ser um homem, se descobre apenas um menino solitário e frágil por trás de uma grande armadura física. O tempo, que deveria ser seu grande...