O Escudo

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Outubro de 2015

- Estamos nos afastando bastante do campus pelo visto. – Luna admira a paisagem, curiosa. A estrada é estreita e o anoitecer se manifesta no tom arroxeado do céu. Dos dois lados do caminho há apenas árvores e "tapetes" de flores, de variadas cores.

- É uma área privada. – Gabriel explica tranquilamente, enquanto dirige. Nunca agradeceria o bastante a Andrew por emprestar-lhe o carro. – Um condomínio, pelo que pesquisei. Não faz muito tempo que começaram a construí-lo, então imagino que esses espaços estejam vagos ainda.

- Deve ser como um sonho viver aqui. – seus olhos brilham. O céu naquela região era extremamente estrelado e quase não se via nuvens ali. O cenário quase negro parece bastante iluminado paradoxalmente, e a brisa fresca vai de encontro aos seus cabelos enquanto o carro percorre o trajeto a uma velocidade razoável.

Gabriel sorri ao perceber a paixão nos olhos da moça. Imagina ter acertado em cheio na escolha que fizera e, por isso, reduz mais a velocidade do veículo a fim de que ela possa ver cada detalhe do cenário que os rodeia.

- Mas é aqui que vamos descer? – Luna sorri, ansiosa.

- Sim. – ri. – Já estamos quase chegando.

- Como conseguiu descobrir esse bairro?

- Andei pesquisando. Estive aqui mais cedo e pude escolher com cuidado o lugar onde parar.

Ouvi-lo dizer, ainda que com simples palavras, que se preocupara em escolher o lugar certo para levá-la a fazia sentir-se finalmente no conto de fadas que tanto idealizara ao longo dos anos. 

- Mas como vamos entrar?

- Não se preocupe. – ele coloca a mão sobre a dela, ainda concentrado no caminho que estava fazendo, e a leva à boca, depositando-lhe um beijo rápido. – Por trás do condomínio, à direita, ainda há uma paisagem igualzinha a essa.

O rapaz havia tentado cuidar do pequeno "porém", quando oferecera um pouco de sua economia para convencer o segurança a deixá-lo entrar, horas antes. Entretanto, aquilo não fora o suficiente mas, ao sentir pena do "garoto apaixonado", o segurança resolveu ajudá-lo com aquela preciosa informação. A área privatizada era menor que todo aquele espaço natural, portanto, não faltaria lugar para que levasse a "namorada", argumentou. Gabriel percorreu as redondezas até encontrar um ponto certo e, de certa forma seguro, por ainda estar próximo ao condomínio.

- Estamos quase chegando. – ele anuncia tentando conter a inquietação. Suas mãos estão frias e úmidas. Sente tanto medo de cometer algum erro, que se tropeçasse em uma pedra ao sair do carro já iria se desculpar com Luna pelo "desastre".

O carro sai da estrada e entra em uma espécie de campo. Não é mais possível ver com clareza o tom esverdeado do gramado, mas as flores ainda são fáceis de serem percebidas. Gabriel continua a dirigir até o instante em que ambos já não conseguem mais ver o limite do campo. A estrada desapareceu de vista e um dos muros do condomínio está cada vez maior diante dos olhos deles.

- Chegamos. – conclui, satisfeito, estacionando embaixo de uma árvore. Ele coloca as mãos sobre as próprias pernas, respirando fundo. – Se importa de esperar um pouco?

- Não. – responde, confusa

- É só que... Preciso arrumar tudo antes.

- Como assim? – fita-o, intrigada.

- Apenas me espere, ok? – seu sorriso é tímido e imediatamente ele deixa o carro, caminhando até o porta malas, de onde tira uma grande cesta, sobre a qual equilibra uma caixa.

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