Capitulo 99

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Tenho medo do que quer que me possa ter acontecido. O pânico é grande e o meu calmante é a visão da rapariga ao meu lado. Ao mexer-me, Ana mexe-se também e dá sinais de querer acordar. Estaco imediatamente e ela volta á respiração calma e regular de outrora. Passo o polegar pela bochecha dela e sinto o seu calor corporal aquecer-me o coração. Quero voltar a ver os olhos dela e perceber se estou realmente neste mundo. As lágrimas que tenho nos olhos, são derramadas livremente á medida que o meu estado de espírito se vai afundando mais e mais. Preciso de um cigarro. Olho em volta para procurar a caixa esverdeada e não a encontro em lado nenhum. Não poderia fumar de qualquer maneira. Estou num hospital... Volto a deitar as costas no colchão e encaro o teto acastanhado. A luz proveniente das janelas é um mártir para os meus olhos cansados e está a piorar a dor que sinto. Fecho-os momentaneamente e ponho o braço em cima da cabeça para diminuir a intensidade da luz que neles embate. Ao fazê-lo toco com os dedos no braço dela. Sinto um arrepio percorrer-me a espinha e a sensação familiar que nunca me abandona, volta para me atingir em força no peito. A saudade que trago é imensa e parece que não a vejo á muito tempo mesmo. Um misto de sentimentos apodera-se de mim, e os soluços silenciosos doem. Também tenho o externo dorido. A respiração é dificultada pelo choro e pela dor e sinto o chão a desaparecer outra vez. Será que estou a ir de novo?!
-Calum?!- pergunta meio que a medo.
Não tenho forças para responder. Sinto a sua mão no meu braço e lentamente esta é puxada para baixo e retorna á posição inicial. Volta a chamar pelo meu nome e eu juro que tento lutar contra tudo para voltar ao normal mas não consigo. Permaneço na dormência durante mais alguns segundos até deixar de sentir o seu toque. Sinto os seus lábios nos meus e as lágrimas dela no meu rosto. Depois de se afastar consigo abrir finalmente os olhos e encaro o castanho que sempre me prendeu, desde o primeiro dia. Ela sorri e chora ao mesmo tempo. Quero abraçá-la mas não tenho forças. Consigo apenas tocar-lhe no rosto e limpar-lhe as lágrimas com o polegar.
-Não chores.- a minha voz sai fraca.
Ela chora ainda mais e não sei o que fazer para puder acalma-la. Tento puxá-la para um abraço e sem jeito lá o consigo fazer. Depois de se separar de mim, ela levanta a cama movível para poder ficar sentado. Agarra-me a mão quando se senta na cadeira de rodas?!
-O que é que aconteceu?!- pergunto.- Porque é que estás assim?!- as palavras custam a sair e as costelas doem-me.
-Houve um terramoto.- diz.- Eu pensei...eu pensei que tu tinhas...- não consegue acabar o que diz, mas também não precisa. Eu sei o que vai dizer. Beija-me os nós dos dedos e sinto-me vivo. Finalmente sei que não morri. Esta é a minha realidade. Reparo na mão dela. Tem o anel posto. Sorrio para comigo.
-Era suposto ter sido eu a pôr-te isso...-constato numa voz fraca. Ela olha para a mão e começa novamente a chorar.
-Não, por favor...-digo e tento levantar o torso da cama para a abraçar.
-Calum...-repreende. Bufo em exasperação.
-Só te queria abraçar.- digo cruzando os braços por cima do peito com demasiada força que a prevista. Ela sorri e revira os olhos. Agarra-se ao meu braço bom e abraça-o de forma desajeitada. Descruzo os braços ao fim de algum tempo e abraço-a num abraço apertado. Senti a falta disto, mas porque será?! Ainda ontem estive com ela.
-Conta-me o que aconteceu.- peço.
-Estiveste mais de uma semana a dormir.- diz e as lágrimas voltam a assombrar-lhe os olhos castanho claro. A realidade abate-se sobre mim. Estive a dormir mais de uma semana?! Então já sei de onde vem esta saudade que trago comigo desde que comecei a sentir-me vivo de novo.
-Eles encontraram-te...quase sem vida...- o sussurro que lhe sai dos lábios deixa-me perceber o desespero que ela sente.
-Não chores, por favor...-digo quase sem forças. Nunca na minha vida me doeu tanto ver uma pessoa a chorar como agora. Consigo sentir o que sente e isso meio que me deixa desconfortável. Ela contém a torrente por um momento e recomeça a contar-me o que aconteceu. Diz-me que estive em coma. Também menciona o seu sonho e como este se tornou realidade em tão pouco tempo.
-Eu não esperava Cal, não esperava mesmo! Fiquei assustada e ver-te...-recomeça a chorar mas controla-se e continua.- Ver-te naquele estado deu cabo de mim. Eu pensei que tinhas morrido...
Olho-a com amor e ternura. Percebo o que sente e isso dói. É como se fosse eu que estivesse no lugar dela. É como se eu tivesse passado pela dor de a perder outra vez. Preciso de a ter perto de mim, preciso de a abraçar com toda a força que ainda me resta. Quero que se sinta em casa e principalmente quero que sinta que a amo com tudo o que tenho e que de facto estou ali com ela e que não fui embora!

Distance ( Calum Hood fan fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora