Capítulo 22
Eu estava de olhos arregalados, creio que se alguém me ver agora irá com certeza rir da minha expressão. Eu não sabia exatamente o que fazer, Pie também não pois estava imóvel ainda.
- Pie?- Balanço seu ombro.
- Marie!- Ela responde.
Nos entreolhamos e então ela se movimentou pegando um bilhete que estava em cima de uma pequena cadeirinha de bebê que se coloca no carro.
- Vou ler- Ela disse. Então ela abriu a carta dando uma olhada primeiro. Logo sua voz começou a sair, ecoando por toda a casa silenciosa.
"Me desculpem primeiramente por fazer isso com vocês, mas eu não tinha a quem recorrer. Estou em uma situação pavorosa, perdi minha casa, meu companheiro, perdi tudo e não quero que essa criança perca nada. Não tenho condições mas sei que vocês cuidaram melhor do bebê do que eu poderia cuidar. Vocês não me conhece, pode ser que não fiquem com o bebê, mas cuidem dele como se fosse de vocês apenas isso que peço. Me perdoem mas era necessário. Atenciosamente, uma amiga."
Eu olhei para Pie que estava parada me olhando com o bilhete na mão, então com dificuldade eu me agachei e levantei um pequeno manto e uma linda surpresa, um pequeno anjo dormia tranquilo, mal sabendo o que estava acontecendo.
- É um bebê- Digo baixo para não acorda-lo.
- O que fazemos?- Ela se abaixa ao meu lado.
- Não sei mas temos que tirar ele daqui antes que alguém nos veja- Digo e pego a cadeirinha.
Entro em meu apartamento e coloco a cadeirinha em cima da mesa de centro, sentando no sofá, Pietra sentou ao meu lado.
- Quem será que é a mãe?- Ela pergunta.
- Não faço idéia!- Respondo.
- Quem estava grávida aqui?
Olho para Pietra.
- Como vou saber? Quase não saio pra fora de casa- Digo.
Então o silêncio reina.
- Seja quem for pediu que cuidássemos do bebê primeiro e depois entregasse as autoridades- Digo quebrando o silêncio.
- Melhor fazer isso agora- Ela pega o celular já discando o número da polícia.
Ouvimos um pequeno barulho, seguido por eles gemidos, olhamos para o bebê que abriu os olhos, revelando um lindo tom de azul céu. Então como mágica o bebê abriu um lindo sorriso banguela, fazendo uma mágica dentro de mim, e despertando um desejo estranho.
- Não faz isso- Tomo o celular de Pietra que estava vidrada no bebê.
Eu me levanto e retiro o bebê da cadeirinha, ele aparentava ter cinco meses, por já estar mais duro.
- Oi bebê- Digo afinando a voz.
Então ele soltou um gritinho seguido por uma risada.
- Ele sorriu pra mim- Digo abobada.
Então Pietra se levanta e fica ao meu lado para olhar melhor o bebê.
- Qual o sexo?- Ela pergunta.
- Não sei- Digo. Em seguida um barulho estranho, um pequeno estralo. - Vamos descobrir agora, ele fez uma surpresa em sua fralda- Digo rindo.
Caminhamos até meu quarto, coloco o bebê na cama e retiro seu macacão, abro sua fralda.
- Está vendo?- Pergunto olhando Pie.
- Ótimo, temos um menino na casa!
Aparentemente ele estava feliz, e não estava estranhando quem são essas duas loucas que estão paradas olhando sua intimidade.
- Vá até a farmácia, traga pomada, fraldas, e lenços umedecidos- Peço.
- Você não está pensando em ficar com isso, está?- Ela aponta pro bebê.
- Pietra vai agora- Ordeno.
Ela olha pro bebê que solta um enorme sorriso para ela, então dada por vencida, ela sai do quarto.
- Quem será sua mamãe?- Pergunto olhando para ele.
Então passo a mão pelo seu rostinho, capturo sua mão, em resposta ele aperta um dos meus dedos. Algo dentro de mim desperta, sinto meus olhos queimarem, um nó na garganta, e enfim posso dizer, eu estava chorando.
- Marie?- Ouço me gritarem.
- Aqui- Respondo.
Logo a porta se abre, Alicia fica paralisada ao meu lado encarando o bebê.
- Que porra é essa?- Ela grita.
O bebê da um leve pulo, eu coloco minhas mãos por cima de seu peito para acalma-lo.
- Alicia não grita- A repreendo.
- Marie de quem você roubou?
Solto um riso.
- Longa história, explico assim que a Pietra chegar com as coisas!- Digo.
Minutos depois Pietra chega com uma sacola com tudo que eu pedi.
- Não sabia qual o tamanho então trouxe os quatro que tinha na farmácia- Ela diz sem fôlego.
Pego o lenço e limpo ele, pego uma fralda e não deu certo.
- RN não é- Dispenso a fralda. Coloco outra. - Não é P- Retiro outro pacote do caminho. Enfim coloco a tamanho M, e deu certo.
- Que bebê grande- Diz Alicia.
- E gordinho- Não consigo evitar um sorriso entre meu argumento.
Coloco a fralda e coloco o macacão surrado, logo escuto um pequeno barulho, e o bebê fica sério.
- Ele vai chorar- Alicia olha pra mim.
- Ele está doente?- Pergunta Pie.
- Não, ele só está com fome- Presumo.
- Não temos mamadeira nem leite- Diz Alicia.
- Vamos ao mercado agora- Digo. - Quem vai comigo?
As duas se olham.
- Tudo bem vou sozinha, mas olhem o bebê- Digo.
- Eu vou!- As duas dispara.
Eu solto uma risada e capturo uma blusa qualquer, coloco um short e um tênis.
- Melhor nos irmos, você voltou hoje do hospital- Pietra diz.
Até isso eu tinha esquecido, esqueci até da dor. Como o ditado popular diz "Um bebê é uma cura."
- Tudo bem eu fico com ele- Digo indo até o bebê.
- Melhor não pegar- Alicia diz.
Reviro os olhos.
- Não estou com doença, apenas dores na costela, eu agüento um bebê!- Resmungo. Então eu o capturo da cama e deixo ele deitado em meus braços. Ele estava sério me olhando.
- Vamos Alicia- Pie chama.
Eu faço uma pequena lista de tudo que um bebê precisa, o resto compraremos depois. Elas se vai me deixando sozinha com o bebê, que por incrível que pareça não está chorando de fome.
- Oi rapaz- Digo fazendo voz engraçada.
Ele solta um sorriso. Já sei do que ele gosta.
- Agora eu sou sua mamãe- Digo.
Essas palavras ecoam em minha mente, mamãe, é isso, o sentimento estranho é meu instinto materno. - Sou Marie, vou cuidar de você até acharmos um lugar para você ficar, espero que nós se dermos bem- Completo.
Logo meu celular toca, ando devagar até a sala, com muito cuidado para não cairmos. Capturo o celular em cima do sofá e noto que é o de Pietra.
- Alo- Atendo.
- Oi, acho que liguei pro celular errado, te acordei?- Ouço a voz de Aline.
- Não, eu estava acordada- Olho pro bebê que começa a tocar no meu rosto.
O toque de sua mão pequena em meu rosto faz meu coração acelerar, e novamente estou chorando.
- Marie? Você está aí?
- Desculpa eu...- Paro de falar.
- Está chorando? O que aconteceu?
- Vem pra minha casa agora- Peço.
- Está tudo bem?- Ouço um barulho ao fundo, ela está em pânico.
- Calma eu estou ótima, só preciso lhe mostrar algo- Digo olhando o bebê.
- Já estou a caminho- Ela diz e desliga.
Jogo o celular no sofá e me sento, sentando o bebê segurando sua coluna.
- Céus você é lindo- Digo.
Então ele começa a chorar, eu não sabia o que fazer, eu levantei com ele depressa então senti uma fisgada na costela, me fazendo sentar de novo.
- Calma bebê, por favor não chora!
Eu estava quase chorando junto com ele. Então faço força e me levanto, caminho até a janela e inclino meu braço para fazê-lo olhar para fora.
- Olha, é ali que eu costumo ir quando acordo para comprar leite com café- Digo apontando. Ele para de chorar, e fica atento me ouvindo. -Pena que você só pode beber leite, ou eu iria até lá comprar algo para você beber!
Então começo andar pela casa mostrando cada canto para ele, que está bem atento a tudo. Logo a campainha toca, torço para ser Pietra. Volto para a sala, e abro a porta, e como imaginei, Aline fica perplexa me olhando com um bebê em meus braços.
- Que coisa é essa?- Ela pergunta.
- Um bebê- Digo rindo.
- De onde tirou isso? Garanto que você não estava grávida, e sei que a Pietra não tem o que é necessário para te engravidar!
Eu solto um riso.
- Entra, para eu te explicar- Peço.
Ela entra, então toma o bebê de meus braços, eu senti uma pontada de ciúmes.
Ciúmes? Por um bebê que acabou de chegar?- Penso.
- Ele tem olhos iguais da Pietra- Ela diz brincando com ele.
- Tem mesmo- Sorrio.
- Como foi isso?
Então fomos para a sala e sentamos no sofá e conto a história toda e em seguida mostro o bilhete.
- Você vai cuidar dele ne?- Ela me encara.
- Eu quero mas a Pie não quer, ela quer levá-lo para a polícia- Digo desanimada.
- Não vamos deixar!- Aline diz.
Eu olho para ela e vejo a animação em seus olhos, ela estava tão feliz quanto eu.
- Eu quero pelo menos fazer o que a mãe dele pediu, cuidar dele antes de levar para as autoridades!- Digo me levantando.
Caminho até a cozinha e pego dois comprimidos, pego um copo d'água e bebo. E volto novamente para sala.
- Já escolheu um nome?
Penso por alguns instante.
- Thaigo- Respondo.
Ela me olha e ri, e o bebê sorri.
- Ele gostou- Ela diz perplexa.
Então escutamos um barulho e logo ouvimos as vozes de Alicia e Pietra.
- Chegamos- Alicia diz.
- Certeza que ele é um menino? Comprei algumas coisas azul- Diz Pietra.
- Certeza, eu vi o piupiu dele- Solto um riso.
Então eu me levanto e vou até a cozinha, abro o leite e coloco a mamadeira dentro de um caneco para ferver. Logo ouço passos, então Pie me abraça por trás.
- Vamos levá-lo para a polícia, ou a um orfanato, lá é melhor!
- Não melhor não- Digo.
- Isso é uma enrascada!
- Eu sei- Suspiro.
- Vamos?
Me viro ficando de frente para ela.
- Sei que o que a mãe dele fez foi errado, e sei que isso e uma enrascada, mas eu quero fazer conforme pede a carta, cuidar dele!- Digo com lágrimas nos olhos.
- Marie Louise Kay, você está chorando por um bebê?- Ela pergunta secando minha lágrimas.
- Foi um cisco. E não me chame de Louise- Digo virando pro fogão.
Retiro a mamadeira e coloco debaixo de água gelada. Coloco uma medida de leite e esquento, pego uma colhe e mexo colocando no meu pulso, estava ótimo. Despejo o leite na mamadeira e tampo. Nos duas voltamos para a sala e sorrimos ao ver Aline e Alicia babando no bebê.
- Me da ele, mama está pronto- Digo.
Eu sento no sofá e seguro o bebê deitado, com a cabeça alguns graus inclinada, deixando ele quase sentado.
- Como sabe o que fazer com um bebê?- Pergunta Alicia.
- Não sei eu apenas sei. Vejo em filmes- Respondo dando de ombros.
- Ela tem instinto de mãe- Diz Aline.
- A mãe dele é horrível, ter deixado o próprio filho na porta de alguém- Diz Pietra.
- Ainda bem que foi aqui, imagina se esse alguém simplesmente olha e deixa o bebê pro lado de fora? Ou joga ele no lixo igual passa no jornal?!- Digo sentindo um arrepio na espinha.
- Nos metemos em uma enrascada enorme- Pietra coloca a mão na cabeça.
- Eu sei mas só vamos ficar com ele por pouco tempo, até ele estar bem cuidado- Digo.
- Ou para sempre- Aline diz.
Vejo Pietra dando um soco no braço de Aline, pelo visto ela não quer um bebê.
- Pronto, ele estava com fome- Digo olhando para a mamadeira vazia.
Coloco ele de pé em meu colo dando leves batidas em suas costa.
- Pra que isso?- Pergunta Pietra.
- Arrotar, ou ele pode gorfa!- Respondo.
Então noto que ele dormiu, me levanto e caminho até meu quarto colocando ele em minha cama. Dos lados encho de travesseiros para que ele não caia. Então caminho até a sala mas antes paro perto da parede para ouvir a conversa.
- Eu sinceramente não gosto de crianças, desde que aconteceu isso eu não consigo gostar de criança!- Ouço Pietra dizer.
- Vai contar a Marie?- Pergunta Aline.
- Não agora, ela também tem segredos e não contou a mim, então não contarei esse a ela!- Pietra responde.
- Ela não vai dar o bebê agora- Alicia declara.
- Vou persuadir ela a fazer isso logo, essa criança vai acabar tirando ela de mim também!
Também? O que ela quis dizer com isso?- penso.
Então eu entro na sala e elas me olham, solto um sorriso fraco.
- Ele dormiu- Digo.
- Já contou a Pietra o nome dele?- Pergunta Aline.
- Já deu um nome?- Pergunta Pie.
- Já, se chama Thaigo- Sorrio.
Todos sorriem, porém Pietra não o faz, fica apenas me encarando.
- Bom meninas eu já vou, amanhã tenho uma entrevista- Aline diz.
- Boa sorte- Sorrio a abraçando.
Então ela se despede e vai embora.
- Meninas eu vou dormir, se precisar de ajuda com o bebê pode chamar- Avisa Alicia.
Então ela se vai me deixando sozinha com a Pietra. Eu fico olhando ela por alguns minutos, penso em dizer várias coisas, mas não o faço, apenas me viro e saio andando.
- Marie...
Me viro para olhá-la, ela vem até minha direção e segura no meu braço.
- Vamos levar o bebê amanhã?- Ela pede.
- Eu sei que você não gosta de crianças por causa de algo do seu passado que você só vai me contar, quando eu lhe contar o meu- Digo. Ela arregala os olhos surpresa. -Mas eu vou fazer o que meu coração manda e o que a carta pede!
- Você vai se apegar á ele, você até deu um nome e nem se passou dias!
- Você acha que vou te largar para dar atenção á ele, mas não vou. Queria cuidar dele junto com você, mas sei que você não quer, então faço sozinha!- Puxo meu braço com força.
- Marie...- A corto.
- Se quiser me ajudar pode ficar, o quanto quiser, mas se não, já sabe o caminho da porta!- Digo ríspida.
Caminho até meu quarto deixando ela plantada na sala sozinha. O jogo virou, ela que um dia fez isso comigo, agora é minha vez. Abro a porta do quarto e vejo o bebê na mesma posição, entro no banheiro e tomo um breve banho, coloco meu pijama e solto meu cabelo. Arrumo a cama e me deito ao lado do bebê, que se mexe e vira pro meu lado deixando sua pequena mão perto de minha barriga. Eu me inclino e planto um beijo em sua cabeça com pouco cabelos de cor indefinida. Então passo meu braço por ele e assim adormeço.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas Amor
Romance"No mundo em que vivemos existe amor, e rótulos. No mundo em que somos rotulados não podemos ter amor. Mas quando é para ser, acontece."