Coisas ruins

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O que fazemos durante a hora de trabalho determina o que temos. O que fazemos nas horas de lazer determina o que somos.

-Charles Schulz.

Terça-Feira.

A aula que segue ao intervalo tem como professor um homem idoso, provavelmente na casa dos setenta anos, desses que não querem parar de trabalhar enquanto viverem. Infelizmente o mesmo não demonstra ter mais energia para comandar uma sala de aula, considerando que de todos os alunos da sala apenas três ficaram em silencio ao ver o homem entrar no local, o restante viu quem era e voltou a conversa habitual.

Eu e Lucas não estamos conversando, mas não por respeito ao homem e sim por uma falta de assunto terrível, talvez ele esperasse que eu tivesse ajudado ele a discutir com a professora na aula anterior e esteja decepcionado comigo, ou talvez esteja fazendo o que eu faço constantemente, revisando uma conversa mentalmente e mudando as palavras.

O fato é que mais um professor desistiu de ensinar a matéria e apenas começou a escrever nomes de coisas de geografia que muito pouco me interessam, nunca gostei de geografia e não vai ser agora que vou começar, nem vou me dar ao trabalho de copiar aquilo tudo que esta sendo escrito no quadro.

Lucas havia dito quando chegou que queria conversar comigo, ele tem assunto para conversar, porque não fala?

Abri meu caderno e comecei a fazer coisas que qualquer aluno já fez um dia, riscar a ultima folha do caderno com coisas que não fazem sentido nenhum, riscos aleatórios, frases que eu me lembro, trechos de musicas.

-Jonh você vai querer mesmo ir la na loja depois da aula? -Lucas perguntou com a voz baixa.

-Eu, sim, só não sei se vocês vão me querer lá. -Eu respondi.

-Porque não iríamos querer? -Perguntou.

-Nunca trabalhei na minha vida. -Eu disse envergonhado.

-Não faz mal. -Lucas disse com um sorriso fraco no rosto.

-Lucas o que você ia me falar no intervalo? -Perguntei sério.

-Ah, isso. Não era nada demais. -Lucas respondeu desviando o olhar.

-Você não se importa de irmos assim que a ultima aula acabar? -Lucas perguntou mudando de assunto.

-Não, sem problemas. -Respondi chateado por não obter uma resposta.

Em pensar que essa aula de geografia é dupla e que teremos que ficar em sala mais sem fazer nada, já me da um sono que me faz querer sair correndo para minha casa ou deitar no meio do corredor da escola e dormir até amanhã, eu já tinha me esquecido dessa proposta de quase entrevista que terei na loja da mãe do Lucas onde ele trabalha e onde quer que eu trabalhe junto.

Seria ótimo se fôssemos amigos e que não tivesse nenhuma espécie de interesse acontecendo entre nós, seria ótimo se não fosse ficar um clima pesado na loja com qualquer comentário que alguém fizesse a respeito de relacionamentos, seria ótimo se eu não sentisse que é uma tentativa de se aproximar mais e tentar me fazer rever pontos que eu já considero bem fechados na minha vida.

O que será que a mãe dele pensa a respeito disso, contratar alguém que não conhece e que não tem experiência nenhuma a pedido do filho, contratar alguém a pedido do filho que nem sequer conhece direito a outra pessoa, que no caso sou eu.

Minha ficha de experiências de emprego é terrível, teve uma vez que tentei seguir a profissão que estudei, eletricista, não deu certo depois de duas semanas eu fui dispensado por ter medo de altura, teve a vez que tentei telemarketing que não também não deu certo porque eu não sei vender cursos por telefone, e teve a vez que eu achei que ia dar certo, não deu também, meu amigo me indicou em uma vaga como atendente de restaurante, fui dispensado por não me adaptar em uma semana. Depois disso fiquei com medo de continuar tentando emprego e comecei a sabotar algumas chances que eu tinha e agora estou tendo outra chance e pensando seria mente em me sabotar outra vez.

A Trilha - Em Busca De Mim.Onde histórias criam vida. Descubra agora