Concluindo.

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"Não seja desnecessariamente sobrecarregado pelo passado. Vá fechando os capítulos que você já leu; não há necessidade de ficar voltando e voltando de novo. E nunca julgue nada do passado pela nova perspectiva que está chegando, porque o novo é o novo, incomparavelmente novo e o antigo foi certo dentro de seu próprio contexto, e o novo é o certo dentro de seu próprio contexto, e os dois são incomparáveis. "

-Osho.

Acordei com um barulho de campainha. Levantei do sofá me sentindo uma porcaria, é incrível como me sinto mal quando tiro um cochilo a tarde, digo um cochilo pequeno, fico me sentindo mais cansado do que estava antes de dormir. E para ajudar ainda acordo com um barulho infernal de uma campainha escandalosa.

Abri a porta da sala sem enxergar muito bem o que eu estava fazendo. Demorou um pouco para meus olhos reconhecerem quem estava parado me encarando, e é alguém que eu não esperava mais ver.

Um par de olhos azuis me encaravam com certa timidez. Talvez ele esteja com vergonha por não ter ido me visitar no hospital nenhuma vez, ou talvez eu esteja confundindo tudo e não seja timidez e sim outra coisa que não sei decifrar.

-Oi. -Lucas disse.

Sim, ele está envergonhado e agora eu também estou, isso sim é um reencontro sem graça.

-Oi. -Respondi. -Quer entrar?

Dei licença para ele entrar e assim que ele o fez, fechei a porta novamente. O que será que fez ele mudar de ideia quanto a vir me ver? E como ele sabia que eu já estou em casa?

Andei até o sofá com ele me seguindo, nos sentamos e mergulhamos no silencio. É tão estranho quando você mergulha no silencio com uma pessoa com quem antes costumava ter muita conversa, é incomodo.

-Como você está? -Ele perguntou quebrando o incomodo silêncio.

-Ah, ótimo. -Respondi. -Recebi alta hoje.

-Ah... -Ele respondeu sem dizer muita coisa.

Eu esperava pelo menos que ele me dissesse como sabia que eu estaria em casa, não queria um simples "ah". Eu vou ter que ser mais direto se quiser descobrir alguma coisa. Quando fui começar a falar, ele resolveu falar também.

-Eu queria te pedir desculpas por não ter visitado você. -Ele disse.

-Não precisa. -Respondi. -Eu entendo porque você não foi.

-Eu sei que deveria ter ido. -Ele disse. -Mas eu ainda estava com raiva e com vergonha também, foi culpa minha vocês terem saído da festa naquela noite, se eu não tivesse discutido com ele e depois partido para briga, se eu tivesse aceitado a sua decisão sem surtar.... Você não teria quase perdido a vida.

-Você não tem culpa de nada. -Eu disse. -Ok, brigar não foi a coisa certa a se fazer, mas você estava de cabeça quente e surtou, não foi isso que me fez parar no hospital e não foi isso que quase me matou, foi um tiro que fez isso, um tiro executado por uma pessoa insana.

Eu não imaginei em nenhum momento que ele estaria se culpando pelos acontecimentos da noite, mesmo eu tendo me culpado por tudo, em nenhum momento eu considerei que a culpa fosse deles, e agora eu percebo que de fato a culpa não foi de ninguém exceto dos criminosos. Éramos apenas adolescentes recém-formados comemorando em uma festa, tínhamos problemas que foram aumentados durante a festa, mas a culpa não foi nossa por termos sido pegos do lado de fora da festa.

Ok, talvez não devêssemos ter saído da festa, principalmente por sabermos que existiam casos de assassinatos, no entanto, mantenho minha ideia de que a culpa não foi nossa e sim do Nate e daquele povo sem escrúpulos.

A Trilha - Em Busca De Mim.Onde histórias criam vida. Descubra agora