A Trilha - Em Busca De Mim.

Quem eu seria?

Se eu tivesse tomado um atalho, uma rua estreita qualquer, que tipo de pessoa eu teria me tornado? Não sei. Mas gostaria muito de saber. Pelo retrovisor, vejo todas as pessoas que eu poderia ter sido e não fui.

-O Teatro Mágico.

Quinta-Feira

A noite passada ainda passa na minha mente mesmo após as varias horas antes de dormir, as varias horas que passei analisando os acontecidos da noite, vergonha é algo que não posso pensar em não ter, agi como uma criança que nunca bebeu na vida e nem sei o motivo de ter perdido o controle, tudo bem que fazia tempo que não bebia nada alcoólico e isso contribuiu para que eu ficasse bêbado mais rápido, mas ainda assim nunca perdi o controle dos meus atos, normalmente eu teria recusado a bebida do George vendo como eu já estava.

George, nunca odiei tanto uma pessoa a primeira vista, aqueles cabelos gordurosos e ensebados e aquela pele cheia de buracos e aquela voz falsa tentando enganar qualquer um que se aproxima dele, não entendo como Lucas pode gostar dele e não entendo como Ana que apesar de ter quase matado um garoto asfixiado com a língua, como Ana pode ser irmã dele.

Em falar na Ana me sinto mal só de ter pensado mal dela, quando obviamente ela queria evitar que eu passasse mais vergonha do que já estava passando, talvez eu fizesse um strip e ficasse marcado como o menino sem roupa se não fosse por ela e Clara, de quem também pensei mal.

Beber traz aquela sensação de liberdade no momento mas quando o efeito passa os destroços daquilo que fizemos enquanto estávamos bêbados ficam nas lembranças. É ainda pior quando você esteve livre como uma mola maluca dançante. Se não fosse por aquela praga daquele menino espinhento eu teria ficado sóbrio mais rápido e não teria dado tanto trabalho para Lucas.

Lucas, o garoto que mesmo com raiva de mim, eu imagino pelo menos que ele tenha ficado com raiva de mim, eu certamente fiquei com muito raiva de mim mesmo, enfim mesmo assim ficou cuidando de mim, não deixou que eu entrasse em casa cambaleando, me levou para um lugar vazio e mágico para esperar que eu ficasse sóbrio novamente.

Me sinto mal pelo ataque que dei sobre George, não sei como foi acontecer e nem o motivo de ter acontecido, sei apenas que pareceu bem ciumento, mas eu não posso sentir ciúmes de um amigo, ou posso?

Admiro ele por não ter passado em cima de mim com o carro na hora que eu cai no chão, não sei se teria feito o mesmo se estivesse com raiva.

O pior ainda é pensar que hoje ainda não é sábado, sinto saudade do final de semana dormindo o dia inteiro, e como ainda é quinta feira eu tenho aula, e mesmo que a vontade de ficar em casa seja enorme, irei já que estou pronto para ir.

A dor de cabeça que martela meu cérebro não vai permitir nenhuma espécie de barulho ou voz hoje e o monstro que vive em meu estômago não vai aceitar espécie alguma de comida, meu esôfago tampouco, ainda mais depois de ter sofrido com o vomito durante a madrugada.

Por sorte isso não ocorreu enquanto eu estava com Lucas, quando estávamos nos... quando estávamos juntos, tentei me bater varias vezes por não ter me prevenido contra vômitos, iria ser nojento, por sorte aconteceu assim que cheguei em meu quarto sozinho, Lucas até insistiu em me levar para o quarto já que teria escadas, mas eu achei melhor não e ainda bem por isso.

Logo que acordei iniciei uma limpeza no chão do quarto e depois de limpo tentei comer alguma coisa, mas não consegui por não sentir o gosto de nada, além disso nunca senti minha garganta tã seca, parece ate que eu estava no deserto correndo uma maratona, preciso lembrar de não beber nunca mais.

Minha mãe como sempre não me fez pergunta alguma, agradeço por isso, não consigo mentir bem para ela, tenho crises de gagueira e começo a suar em bicas, logo ela sempre sabe que estou mentindo, fui salvo novamente. Felizmente ela se lembrou de deixar dinheiro para o filho desempregado, junto a um bilhete que dizia que meu pai ligou ontem quando eu não estava. Grande coisa.