A Trilha - Em Busca De Mim.

Entrevista profissional.

"Temos de fazer o melhor que podemos. Esta é a nossa sagrada responsabilidade humana."

-Albert Einstein

Terça-feira

Passei a maior parte dos últimos seis dias no hospital junto ao Lucas, ele vem se recuperando bem, no entanto o medico disse que ainda vai demorar algum tempo para ele receber alta. Ficamos a maior parte do tempo conversando sobre coisas aleatórias e evitando assuntos difíceis como o assassinato, não quero fazer ele reviver as coisas que viu, mesmo que eu esteja curioso para saber detalhes, não vou cobrar isso dele, se um dia ele quiser falar estarei aqui, até lá...

Theo não parece muito feliz com o que vem acontecendo e eu não o culpo por isso, estávamos nos aproximando bastante e então nos afastamos um pouco por conta do que aconteceu com Lucas. Ele disse que entende o que eu sinto por Lucas, mas que isso não torna mais fácil para ele aceitar, e eu entendo completamente.

Deve estar sendo muito difícil para ele depois de tudo o que aconteceu entre nós, dormir no mesmo quarto que eu, próximo demais de mim e saber que estou pensando em outro e que não vou retribuir o que ele sente, me sinto culpado por ter deixado as coisas irem longe demais.

Lucas quase sempre diz estar bem, mas as pessoas que realmente se aproximaram dele, assim como eu fiz, puderam reparar que não passa de um fingimento, o único momento em que ele não conseguiu disfarçar muito bem foi no dia do enterro de George, ele desabou completamente ao saber que não poderia ver o amigo uma ultima vez, e também se culpa por não ter conseguido salvar o mesmo, ainda que ele tenha quase morrido para tentar faze-lo.

Não achei certo ir ao enterro, nunca fui próximo dele, muito pelo contrario, eu odiava ele completamente, seria no mínimo muito errado da minha parte dar as caras por lá, então passei o dia confortando Lucas. Apenas liguei para Anna para ver como ela estava antes de ir para o hospital no dia, ela disse que apesar da dor que sentia, estava tudo bem, então me acalmei um pouco mais com minha decisão de não ir.

Depois do que aconteceu com George e Lucas eu abri mais meus olhos para as noticias dos jornais, nunca fui muito de ler noticias ou de assistir jornais, depois que comecei a fazer notei que cada vez mais o numero assassinatos a pessoas homossexuais vem crescendo, e não é de hoje que acontecem, alias nessa cidade já ocorreram diversos casos nesse ano, George foi apenas mais um que sofreu com o preconceito.

O mais difícil de acreditar é que nunca conseguem pegar o criminoso, é inacreditável que o assassino sempre saia impune enquanto os familiares do assassinados sofrem com o luto e a perda de entes queridos. É vergonhoso viver em condições como essa, e não parece que os policiais estão se empenhando para descobrir quem é esse assassino.

No jornal de ontem, passou mais uma noticia, dessa vez de um jovem que estava desaparecido, na ultima vez em que foi visto pela familia ele se dirigia para uma festa com dois amigos, já fazem três dias que a festa acabou e o garoto ainda não foi encontrado, a repórter perguntou para familia se o garoto apresentava algum comportamento estranho, e tudo o que a familia disse foi: Ele é um ótimo menino. Coincidentemente, se é que existe alguma coincidência nesse mundo, a festa que o garoto foi freqüentar era em uma boate LGBT.

Mudando de assunto, estive pensando em uma coisa que Geoffrey disse, sobre não querer deixar as coisas como estão com meus pais, se tem uma coisa que aprendi nesses dias é que a vida pode acabar rápido demais, e isso realmente me fez pensar se eu quero morrer deixando meus problemas para trás, mas apesar de desejar resolver as coisas, não tenho coragem de ir atrás, é quase como se estivesse caminhando em uma corda bamba prestes a estourar e tivesse uma certeza incontestável de que eu vou cair, a corda bamba é a linha tênue que segura meu mundo se ela estourar tudo acaba.