A Trilha - Em Busca De Mim.

A vida segue com a Problemática filosófica

"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem."

-Millôr Fernandes.

Quinta-feira.

Foca no exame, foca no exame. Quem dera fosse fácil assim.

Ontem o resto da tarde foi terrível em níveis que até então eram desconhecidos, o fato é que eu nunca tinha passado por algo assim, houveram mais umas mil mensagens de Lucas tentando inutilmente conversar, eu não sei se quero conversar e não sei se quero saber a verdade, então passei a tarde inteira ignorando mensagens me controlando para não agarrar o celular e fervorosamente digitar respostas que eu com toda certeza do universo me arrependeria depois de ter enviado.

Afinal de contas o que nós tínhamos se não amizade? Eu não deveria me importar com essas coisas agora, não me mudei para essa cidade para me apaixonar antes da faculdade, alias me apaixonar é algo que nunca esteve nos meus planos desde que me entendo como gente, então é isso, bola para frente.

Uma coisa que ainda me intriga sobre ontem é o sonho que tive a tarde, o sonho que me fez acordar sem entender nada do que tinha acontecido, porque Theo surgiu na minha mente assim, conversei tão pouco com ele e mesmo que o que ele me contou tenha sido crucial para minha fuga da escola, não tenho nenhum outro motivo para sonhar com ele, as vezes acho que meu cérebro tá de patifaria comigo, onde já se viu?

Theo, não sei nem como não o tinha reparado ainda dentro da sala, ele deve fazer parte dos que não recebem atenção nenhuma por não se socializar, por que depois de tanto tempo quieto ele resolveu falar comigo para abrir meus olhos? Se o que me disse for verdade, pode não ser.

Eu não tenho o direito de ficar pensando nessas coisas, os exames estão chegando e eu quero ir para faculdade, mas é impossível não pensar, deve ter mais motivos para esse Theo me contar essas coisas do que minha eu posso pensar, eu preciso esclarecer isso com ele.

"Os exames" Meu pensamento grita desesperado.

-Os exames vão ter que esperar. -Respondi para mim mesmo.

Que diabos de pessoa conversa com o próprio pensamento?

Sai correndo de casa, demorei um pouco mais do que deveria para comer e quando olhei o relógio já estava me atrasando, tá, o problema não foi só comer e sim criar coragem para sair de casa sabendo da enchente de perguntas que vou ter que responder, criar coragem para lidar com uma situação que não estou acostumado.

Cheguei na escola e como eu esperava, quase atrasado, por poucos minutos não perdi a viagem inteira. Ao entrar na sala tive que unir toda minha maturidade para não dar meia volta e voltar para casa, Lucas claramente estava melhor da sua crise de vômito e estava sentado no lugar dele que foi ocupado ontem por Theo que por sua vez esta sentado no fundo da sala ao lado de uma garota um pouco gótica.

Caminhei até a mesa como uma vaca indo para o abate tendo ataques de tremedeira. Me sentei com toda concentração do mundo para não errar a cadeira e cair de bunda no chão e sem nenhum contato com o mundo exterior comecei a retirar meu material da mochila.

-Jonh, tá tudo bem? -Lucas perguntou cautelosamente.

-Tá. -Respondi.

Virei meu olhar em sua direção, e la estavam os olhos azuis com uma camada extra de duvida em sua composição. Malditos olhos azuis hipnóticos que insistem em me fazer ficar preso a eles, o que eu tenho com olho e qual o motivo da fixação?

Quebrando a hipnose voltei minha concentração para meu caderno.

Eu deveria perguntar logo para ele, tirar essas duvidas e deixar tudo claro. Eu devo.