A Trilha - Em Busca De Mim.

Dia dificil.

"Me mande mentalmente coisas boas. Estou tendo uns dias difíceis? mas nada, nada de grave. Dias escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade. Quando acordo, vejo que meus sonhos não passam disso, sonhos; e é assim que cada dia começa: desejando que não tivesse começado, desejando viver no mundo dos sonhos, ou transformar meu mundo real num lugar que eu possa viver, não sobreviver."

-Caio Fernando Abreu

Segunda-Feira

Esperei Theo terminar o café da manha dele com a paciência de quem não esta com a menor vontade de pisar fora de casa, se alguém me dissesse para voltar a dormir eu não hesitaria nem sequer um segundo antes de me jogar no primeiro lugar plano que estivesse livre, o chão por exemplo. Infelizmente ninguém me ofereceu isso. Theo demorou anos para terminar a segunda tigela de cereal, e assim que terminou decidiu que tinha que arrumar o cabelo que estava mais rebelde do que nunca.

Aproveitei a chance e fui dar uma orientada nos meus fios rebeldes também, mesmo que de nada fosse resolver considerando o animo que meu rosto emana e a cara de destruído que aparento ter, eu me daria uns cinquenta anos de idade pelo animo que estou e pela face. Infelizmente não domino a arte da maquiagem e mesmo que dominasse duvido que teria paciência para organizar essa bagunça que meu rosto se tornou.

Ainda não consegui deixar de pensar na vergonha que estou sentindo por ter sido ouvido fazendo coisas indevidas pela mãe do Theo, ela deve pensar que eu e ele temos mais do que deixamos transparecer quando ele me apresentou para ela, e se ela pensar que estamos namorando? Será que fizemos tanto barulho a ponto dela saber exatamente o que fizemos?

Theo não pareceu nem um pouco envergonhado por ter sido apanhado aprontando enquanto eu me jogaria no primeiro buraco que aparecesse na minha frente, mas ele já esta acostumado, já deve ter trazido muitos outros para cá, enquanto eu abri as portas do armário recentemente, eu sou o inexperiente daqui.

-Jonh se você não quiser ir pode ficar. -Theo disse me encarando parado na porta do banheiro enquanto eu me encarava no espelho. -Não vou te obrigar a ir. -Finalizou.

-Você tem razão, eu tenho que resolver isso agora. -Eu disse. -Mesmo que tenha que fazer isso com essa cara de derrotado.

-Então vamos. -Theo disse. -Você não quer se atrasar.

-Claro, estou super ansioso. -Eu disse me virando para ele.

Minha cara de destruído não tem solução alguma, na verdade duvido que qualquer pessoa habilidosa com maquiagem poderia corrigi-la e para ajudar meu cabelo decidiu que não quer cooperar comigo. Então lá vamos nós caminhando para guerra com uma aparência meio morta.

Saímos do apartamento e descemos pelo elevador, já no estacionamento sem dizer uma palavra entrei no meu carro, Theo entrou pelo lado do passageiro e se sentou também quieto. Liguei o carro e logo o coloquei em movimento rumo a escola, onde a batalha teria inicio em poucos minutos.

Estacionei o carro na primeira vaga que encontrei, uma vaga que felizmente se encontrava próxima ao portão de entrada do prédio da escola, desliguei o carro e pousei minhas mãos nervosas sobre minhas pernas que tremiam por causa do medo por antecipação do que aconteceria assim que meu olhar cruzasse com aquele par de olhos azuis.

O que eu estou pensando? Eu deveria ter ficado no apartamento mesmo, como posso acreditar que consigo lidar com isso sem terminar de me destruir por dentro? Eu não sou forte o bastante para isso, nunca fui, acho que esse é o motivo pelo qual nunca me aventurei por esses caminhos difíceis que são os relacionamentos amorosos, se eu tivesse me mantido do mesmo jeito não estaria nessa situação agora, mas fui tolo em me deixar levar por meus sentimentos.