A Trilha - Em Busca De Mim.

Desequilíbrio.

"Afinal de contas, pensava ele, aquele coração, tão volúvel e estouvado, não devia ser meu."

-Machado de Assis.

Domingo.

-Eu não quero ir nessa festa. -Eu disse deitado na cama do Theo.

-Mas vai, você já até se trocou. -Ele disse me encarando através do espelho enquanto arrumava o cabelo.

-Vai você, eu posso ficar aqui dormindo. -Eu disse.

Depois de muita luta consegui retornar as minhas raízes, a preguiça de sair me dominou novamente e me amarrou na cama.

-Ou você vai por vontade própria ou vai arrastado. -Theo disse.

Realmente voltamos as raízes, meus amigos sempre tiveram essa dificuldade para me tirar de casa, já ouvi inúmeras vezes essa mesma ameaça, mas a cama parece tão confortável que pensar em sair é a ultima coisa que passaria em meus pensamentos preguiçosos e sonolentos.

Ontem passei o dia inteiro no quarto com Theo e nem de perto foi tão ruim quanto pensei que seria, assistimos um único filme que ele tinha na gaveta, jogamos vídeo-game, perdi todas as vezes que joguei de inúmeras maneiras diferentes, para perder eu sou criativo, não repeti nenhuma vez a mesma derrota. A hora de dormir pensei que seria um momento problemático, mas não, ele não tinha nenhum colchão disponível na casa, por fim dormimos na mesma cama com uma barreira de travesseiros entre nós, para impedir qualquer ato insano de ambas as partes.

Hoje o dia foi igual, sem nenhuma novidade com exceção dessa festa que surgiu de uma hora para outra, não tive em nenhum momento chance de dizer que não iria, assim que o convite surgiu fui enfiado no chuveiro a pontapés e logo obrigado a trocar de roupa.

Um outro fato que vem de ontem é que depois de desligar o celular não falei com Lucas mais nenhuma vez, quero evitar discussões desnecessárias que sei que irão acontecer, apesar dele ser um garoto bom e muito legal, é um pouco possessivo comigo, principalmente quando Theo está envolvido. Como conseqüência por ter desligado o celular também não vi se Gilbert me respondeu e posso ter deixado ele preocupado por não ter respondido qualquer possível mensagem dele.

-Anda levanta da cama. -Theo disse se curvando sobre mim e me puxando pelos braços, eu resisti bravamente fazendo força contrária e com isso ele perdeu o equilíbrio e caiu em cima de mim.

-Se você queria um abraço era só pedir. -Ele disse me esmagando.

-Vamos. -Ele disse levantando rapidamente.

Levantei claramente contrariado. Não tem a menor condição de ir para uma festa depois de tudo o que aconteceu, mas la vou eu, deixando bem claro que estou indo totalmente a força para um lugar que não conheço, com mais pessoas que não conheço. A festa vai ser em uma praça, e vai ser totalmente ilegal já que o garoto não tem autorização para fazer a festa no lugar publico tão tarde, mas um motivo para ficar onde estou.

Saímos no meu carro para o tal parque, Theo foi dirigindo já que não conheço nem um palmo dessa cidade ainda, deve parecer vergonhoso alguém morar a algum tempo em uma cidade e ainda não conhecer quase nada além do caminho casa/escola, quer dizer agora nem esse caminho eu sei mais, já que casa é uma coisa que não tenho mais.

-.-

Chegamos na tal praça, estacionamos o carro em uma unica vaga vazia no meio de vários carros e fomos para a festa, o lugar quase não comportava a quantidade enorme de adolescentes que surgiam de todos os lados, não havia nenhum espaço vago no meio da mesma ou nas laterais então passamos nos espremendo entre os corpos das pessoas, claramente não é o meu lugar preferido para passar a noite.