Dúvidas

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Respirei fundo e parei em sua frente, minha mente era uma nuvem de perguntas que eu não poderia fazer agora, não aqui.
Ela não ergueu o olhar, então coloquei minhas mãos sobre a mesa em sua frente me inclinei
para começar a falar, quando ela ergueu seus olhos que encontraram os meus, vi um brilho em seu olhar, um alivio talvez.

- O que você fez? Me fala.- Perguntei.
- Nada - As palavras saíram ásperas de sua voz.
- Nada? Vai me dizer que estava apenas no lugar errado e na hora errada? - Disse com ironia.
- Exatamente - Disse ela com uma frieza que a muito tempo não via.
- Então por que tem suas digitais na vítima? - Disse abrindo as pastas com fotos da cena do crime, espalhando pela mesa. Eu sabia que era apenas mais uma de suas vítimas, ela não parou, nunca parou ...
Seus olhos abaixaram e ela não respondeu, meu sangue ferveu com sua frieza, bati com força na mesa com as duas mãos.
- Fale alguma coisa! - Disse em voz firme e alta e vi o susto surgir em seus olhos que se ergueram e logo abaixaram.
- Vai me bater também? Pois se for, ao menos me dê a chance de me defender... - Disse ela colocando as mãos algemadas encima da mesa, ainda com o olhar baixo, mas com um sorriso amargo no canto dos lábios, que se retraiu com dor, pois estava ferido.
Tive que resistir ao impulso de tocar o seu rosto, de querer cuidar. Meus Deus o que fizeram com ela?
Resolvi sair da sala antes que fizesse alguma bobagem, antes de sair olhei pra trás e ela pôde perceber que eu estava completamente decepcionada.
Entreguei meu relatório ao delegado, passei o dia com a nuvem de perguntas em minha mente, ela matou mais uma vez, mas por que me ligou na mesma noite? Perguntas sem respostas... Meu devaneio foi interrompido com uma mensagem no meu celular, era Cris dizendo que irá para minha casa hoje - Ah droga, ainda tem isso - meu coração já fez sua escolha, mas Cris tem me feito bem, tem estado presente, tem me dado uma vida normal, sem segredos. Mas não posso negar que todo aquele ar de mistério me atrai, não somente isso mas também porque ela fez com que eu conhecesse o mundo, algo realmente maravilhoso mais ao mesmo tempo sombrio.
São tantas coisas e dúvidas que estão acontecendo muito rápidas, tantas dúvidas que me mata principalmente a dúvida de que Tamires não tenha feito nada.
Não é que eu não acredite nela mas, a conheço muito bem pra ela dizer que não fez nada.
Impossível isso, não tem lógica ...

No final do dia fui para casa, Cris já estava lá.
- Me adiantei e fiz um jantar para nós duas - Disse-me ela com um lindo sorriso.
- Obrigada, estou mesmo morrendo de fome - Disse, mas minha mente ainda vagava por lugares sombrios, com perguntas intermináveis e perturbadoras... Mas não pude me dar o luxo de pensar com calma, Cris está aqui e quer minha atenção.
Passamos a noite juntas, ela dormiu, eu não consegui dormir direito, tive pesadelos durante toda noite, e era sempre a mesma imagem alguém a agredindo mesmo com ela desacordada e eu gritava em vão pois ninguém me ouvia, era como se eu fosse apenas um fantasma assistindo a tudo... Levantei por volta das 5 horas da manhã completamente sem sono, peguei a garrafa de whisky, que ironia era o seu favorito que ela esqueceu aqui em casa desde a última vez que esteve aqui - droga por que não consigo te tirar de mim Tamires?! - Sentei-me no chão da sala perto da janela e assisti enquanto o sol se levantava e me aquecia com seu calor.
Cris sentou-se do meu lado e tomou o copo da minha mão e disse:
_ Foi uma das melhores noites da minha vida - disse me olhando nos olhos
_ Por que? - Perguntei surpresa.
_ Porque estou com você - Isso só me confundiu mais.
Dei um sorriso e olhei para o nascer do sol que estava completamente maravilhoso

Meu celular despertou, hora de voltar para a delegacia, tomei um banho me arrumei e peguei um taxi - não porque sou policial, que posso ser acima da lei, ainda tem efeito do whisky em meu sangue - ao chegar na delegacia saio do carro e caminho em direção aos degraus da porta de entrada, foi como ver os raios do sol entrando pela minha janela esta manhã, ela estava linda, nem parecia a mesma de ontem sentada na mesa de interrogatório, não estava mais apenas com a camiseta surrada, estava com sua linda jaqueta de couro e óculos escuros descendo lentamente as escadas - meu Deus como ela consegue me entorpecer assim?! Deve ser o whisky... - de repente seu rosto se volta para onde estou, mas ela continua a seguir o seu caminho, olhou para traz mais uma vez e me lançou um sorriso meio amargo de adeus...
Para onde ela esta indo? Será que fugiu? Eu deveria fazer alguma coisa? Vou ve-la denovo?
Me apressei e entrei na delegacia, não disse nada esperei para ouvir os comentários. Ela havia sedo liberada por falta de provas e mesmo sendo a única testemunha, não se lembra de nada - bem é o que ela diz...- segui com meu trabalho o restante do dia. No fim da tarde voltei para casa, Cris ainda estava la, comemos e assistimos a um filme, mais tarde antes de dormir pedi para Cris levar o lixo para fora, eu estava realmente muito cansada, Cris desceu, dois minutos depois a campainha toca, Cris deve ter esquecido de levar a chave.
- Nossa você já levou o... - abri a porta, não era Cris, era Tamires parada a minha frente.
- Linh tem uma moto preta muito estranha parada em frente ao prédio... - Disse Cris terminando de subir as escadas, mas se interrompeu ao vê-la parada na porta.
Seus olhos se encontraram, nos olhos de Cris, duvidas, ciúmes talvez... Nos de Tamires, ciúmes, ódio, um olhar assassino...

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