22- Berserker

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O carro avançava pelos restos da cidade de São Paulo. As duas permaneciam em silêncio. Felizes por terem mais uma vez escapado com vida. Mas apreensivas perguntando-se até quando elas conseguiriam? Dia pós dia elas acordavam com a triste perspectiva de terminarem o dia como um mero cadáver reanimado. O que mais as perturbava não era a quase certa morte. O que para elas poderia ser um prêmio em um mundo caótico como este. O que lhes assombrava era a possibilidade de tornarem-se um vagante, um morto vivo.

Um morto vivo, apareceu abruptamente na frete do veículo e as duas o atingiram com violência. O impacto fez com que o decomposto corpo se partisse e lançasse uma camada de líquido corporal no para-brisas do carro. Por sorte as duas estavam de cinto de segurança. De outra forma estas teriam voado pelo vidro do carro, e encontrado um fim na avenida em que estavam.

- Você está bem? – Angeline perguntou a sua amiga.

Piscando os olhos Hana respondeu – Estou sim – Ela passou a mão sobe o cinto de segurança - Só estou um pouco dolorida. Mas vou sobreviver – Hana sorriu.

- Também estou inteira eu acho. Precisamos sair e limpar essa porcaria – Angeline apontou para o vidro imundo. Tomando por resto humanos.

As duas saíram. Angeline sentiu uma tontura e levou sua mão direita até sua testa. Hana correu em seu socorro.

- Ei, o que houve?

- Acho que deve ser por causa do impacto. Mas logo vou ficar melhor. Já passei por coisas piores e você sabe disso.

- Tem certeza? Posso Limpar sozinha.

- Sim, tenho certeza. E quem disse que eu vou limpar? – Angelina sorriu- Você limpa e eu fico de olho. Não quero morrer tão facilmente limpado a porcaria que aquele morto vivo fez.

Hana olhou a sua amiga em busca de algo que demonstrasse algum ferimento mais grave. Não encontrou e começou a limpar.

- Vamos. Não temos o dia todo.

- Sim senhora – Hana disse depois de pegar um trapo que encontrou no chão da avenida.

Angeline ficou atenta aos vultos que se aproximavam. E apressou sua amiga.

Hana terminou – Vamos disse a mulher.

Elas embarcaram no veículo e continuaram seu trajeto, o abrigo delas estava distante. Um novo deveria ser criado.

A moto de Angeline sempre havia lhes dado mobilidade e agilidade, agora sem o veículo elas estavam ainda mais vulneráveis.

Elas chegaram até a Rua da Consolação. À direita delas, prédios baixos pintados com grafites e com pichações eram o cenário. Foi quando o carro morreu, e com um engasgo estancou definitivamente. O mostrador do veículo ainda apresentava uma boa quantidade de combustível. Então o problema seria outro, e as duas sabiam que nenhuma delas poderiam trazer o carro ao funcionamento.

Hana e Angeline então saíram do carro, com suas mochilas em suas costas e com suas armas em mãos.

Não haviam sinais de mortos nos metros à frente. Mas mesmo assim elas cautelosamente avançaram pela Rua da consolação. Poucos metros antes de um prédio da Universidade Mackenzie elas começaram a ouvir gemidos e o som que se ouve quando alguém quebra um coco seco. Elas se entreolharam e decidiram ver o que se passava.

Elas ficaram estarrecidas, pois uma horda de mortos vivos estava avançando sobre um forte jovem, que com golpes vigorosos acertava as cabeças dos cadáveres que entraram em seu raio de ataque. O jovem possuía apenas uma barra de ferro, e cada golpe seu era desferido com força, a barra de metal parecia presa em suas mãos.

As duas ficaram apenas observando por alguns instantes a cena que estava diante delas.

Hana lembrou de haver lido, há alguns anos. Seriam eras? Sobre guerreiros antigos conhecidos como Berserkers, Elas eram tomados por tamanha fúria que eram capazes de derrotarem sozinhos um grande número de inimigos.

- Berserker – Ela falou – Angeline olhou assombrada para sua amiga, mas não entendeu o que ele havia falado.

- Veja – Hana falou – Ele está defendendo uma garota ! - Atrás do jovem uma, encostada na parede do local uma garota com certa de dez anos se escondia.

Angeline percebeu a presença da garota  e foi tomada por mais espanto.

- Precisamos ajuda-los! – Hana falou e correu em direção dos dois que estavam encurralados pelos mortos vivos sem esperar a ajuda de sua amiga.

Alguns dos mortos ouviram o grito de Hana e voltaram a atenção para as duas que estavam atrás deles.

Angeline seguiu sua amiga. A horda dividiu-se, parte continuou tentando atacar o jovem e a garota, e outra parte começou a caminhar em busca das duas mulheres.

Hana facilmente cravou sua picareta na cabeça da primeira morta que entrou em seu raio de ataque. Sua picareta entrou e saiu da cabeça decrepita em uma fração de segundos. Levando enfim a morta vida ao descanso final. O corpo caiu inerte.

Angelina decepou a cabeça de um morto vivo que tentou lhe atacar. Sua cabeça voou no ar antes de cair e rolar pelo chão fazendo uma careta medonha.

Elas continuaram a atacar. Novos mortos vinham e foram abatidos pelas duas. Enquanto o Berserker continuava seu ataque, guardando a vida da garota que estava atrás de si.

Eram cerca quinze mortos vivos, e eles foram mortos de vez pelas mulheres e pelo jovem desconhecido.

Depois que elas abateram os últimos mortos vivos que lhe atacaram  então puderam ver o estado do jovem. Sua camisa estava totalmente suada e tomada por sangue. As duas pensaram o pior. Mas depois que viram o jovem alto acalentar a garota perceberam que ele estava bem. O sangue em sua roupa era das criaturas que jaziam agora no chão.

- Você está bem? – Angeline ousou perguntar.

O jovem olhou para as duas ainda com a fúria em seus olhos. E um silêncio pairou no local em que estavam.

- Estou bem sim – Ele respondeu depois de alguns instantes – Obrigado - ele falou.

Ele possuía um sotaque diferente. Hana lembrou de haver conhecido alguém que falava daquela forma. Mas não lembrava quem, nem de onde era a pessoa.

Seus músculos que estavam tensos pelo ataque que ele realizava enfim se contraíram. Ele suspirou, largou a ensanguentada e torta barra de ferro no chão e levantou o delicado rosto da garota.

- Você está bem? – Ele perguntou

A menina o observou com grandes olhos azuis e anuiu que sim. Ele sorriu, ficou de pé e caminhou até as duas.

- Eu me chamo Matheus, e tenho uma dívida com vocês.

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