60- Inimigo em comum

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Sobreviventes do Rio de Janeiro

André se comprimiu contra um pequeno vão que existia no estreito caminho. Vareta fez o mesmo do lado oposto alguns metros à frente. Seus oponentes foram implacáveis desferindo uma saraiva de projéteis contra os dois homens. Balas traçantes voavam no estreito caminho, pedaços de alvenaria levantavam voo.

Um disparou atingiu o concreto que ficava poucos metros acima da cabeça de André. Os destroços da parede caíram sobre ele e irritaram seus olhos. Ele xingou-se por ter sido tão estúpido.

- AHHHH – Vareta gritou, quando um disparou acertou seu braço. O homem falou um palavrão com toda força que ainda possuía após sentir a queimação em seu braço em seguida o calor do sangue escorreu pelo seu membro.

André nada pôde fazer a não ser tentar se fundir com o concreto na esperança de escapar dos disparos.

Foram poucos os minutos de ataque, porém os ouvidos de André já protestavam sobre o forte barulho, sua cabeça doía, seu cérebro parecia ter dobrado de tamanho dentro de seu crânio.

É o fim - Ele pensou pesaroso. A lembrança de Lúcia tornava tudo ainda pior. Estava tudo acabado. Suas forças já o deixavam. Vareta também já estava entregue. Seus olhares se encontraram e sem dizer nenhuma palavra eles decidiram revidar o ataque. O ângulo, entretanto em que estavam não lhes permitia um ataque protegido. Eles teriam que expor seus corpos aos disparos dos seus inimigos. Não havia outra coisa a fazer, era isso ou esperar que um dos disparos partisse a cabeça deles.

Assim que eles colocaram seus fuzis em riste. Os disparos contra eles terminaram. Eles se olharam sem entender o que se passava. Os homens que estavam na parte elevada dos degraus gritavam sem parar.

- Mas que diabo tá acontecendo?- Vareta perguntou. Nada fazia sentido na mente do criminoso.

- Morremos?- André falou.

Os tiros recomeçaram, os dois atiraram para cima sem perceber que os disparos que os inimigos estavam desferindo não eram contra eles. Mas contra quem seria?

- O que a gente faz?- Vareta perguntou.

- Não temos mais outra escolha. Vamos subir – André respondeu.

Os disparos continuaram, entretanto, ficavam mais distantes.

- Por que eles estão fugindo?- André perguntou.

- Alguns dos nossos devem ter conseguido chegar antes da gente.

Quando saíram do lance de escadas eles viram três corpos estirados no chão. Ao lado deles quatro mortos-vivos se banqueteavam com suas carnes. Uma pequena horda se arrastava atrás dos outros homens que fugiam em desespero. 

- Safados – Vareta falou depois de falar um palavrão. – O tiro deles trouxe esses malditos até aqui.

- Não acho que seja esse o caso – André falou.- Foi muito dificultoso nos chegarmos até aqui, como então eles poderiam ter conseguido?

Vareta não respondeu. Pois neste momento dois dos mortos vivos se dirigiram até onde os dois estavam. André disparou contra eles, suas cabeças explodiram em pequenos pedaços pegajosos. Lama preta voou por alguns segundos. Vareta atirou contra os dois que haviam ficado sobre os corpos dos inimigos.

- Será que tem mais deles?- Vareta perguntou.

- É possível. Lembra daquela armadilha que nós vimos quando a gente estava subindo o morro? É possível que eles tenham algo parecido aqui em cima também. Algum lugar em que ele tenha mortos-vivos presos.

- Então eles que soltaram esses aqui?- Vareta falou apontado com o fuzil para os corpos enfim inertes das criaturas.

- É possível.

- Mas eles atacaram os próprios homens deles.

- Não seria a primeira vez que um líder sacrifica a vida de seus homens para preservar a sua.

Vareta recebeu com espanto as palavras de André.

- Que merda cara.

- Não poderia descrever isso de forma mais exata- André falou olhando sua volta- Temos que continuar. Não sei quantos dos caras  que estavam nos atacando ainda continuam vivos, talvez eles consigam dar um fim nos mortos-vivos que perseguiram eles. Se isso acontecer, eles voltarão para terminar o que começaram.

Vareta olhou para a direção que os homens haviam fugido. Estava escuro e ele podia ouvir alguns disparos espaçados. Os mortos-vivos estavam sendo derrotados, ou então os homens estavam já quase todos mortos.

- Como tá seu braço cara?- André perguntou.

- Não foi nada – Vareta falou olhando o traçado que a bala deixou em seu braço. Pra sua sorte o projétil não penetrou o membro, somente deixou um caminho fundo sobre a tez negra do homem - Pensei que estaria morto uma hora dessas - Ele abriu um largo sorriso de dentes tortos e amarelos. – Então estou no lucro.

O local onde estavam era uma via larga ladeada por pequenas construções de alvenaria em ambos os lados. Se fossem para a direita, seguiriam o caminho dos homens que haviam fugido, se fossem para a esquerda chegariam até o casarão do chefe do morro.

- Quantos pentes você ainda tem? – André perguntou.

- Só mais três, sem contar as balas que ainda tenho no fuzil.

- Tenho só mais dois - André disse pesaroso – Mas terá que ser o suficiente.

Os dois homens se esgueiraram sobre as sombras das construções da via. O morro estava em silêncio. Tudo parecia calmo ali, tão plácido como o recuo que o mar dar antes de desferir um tsunami contra a terra firme.

Uma mulher gritou de dentro de alguma das construções que existiam em volta, os dois se entreolharam espantados. André enfim pensou no destino que esperaria as pessoas após a morte do líder delas e lamentou-se pelo que estava fazendo.

Estou virando alguém como esses criminosos?

André sentiu enfim o cansaço abater seu corpo, a adrenalina que havia lhe impulsionado até ali estava se evanescendo. Todos os dias que ele passou naquele quarto fétido estavam cobrando seu preço. Ele parou e escorou-se contra uma parede sem reboco. Vareta ia mais a frente e só depois notou que seu parceiro havia ficado para trás.

- O que tá acontecendo cara? – Ele falou aos sussurros.

- N-nada não. Só preciso parar um pouco. Mas estou bem.

- Tem certeza? – Vareta perguntou, voltando para perto de André.

- Seu braço está sangrando – André falou apontando para o ferimento do homem.

- Mas que droga.

- Calma, ai – André disse, colocando seu fuzil pendurado em seu ombro. – Deixa eu colocar uma faixa aí senão é capaz de você acabar desmaiando quando eu mais precisar da sua ajuda- André remexeu em sua mochila, cortou um pedaço de tecido e colocou sobre o fino braço do homem – Acho que será o suficiente.

- Valeu cara-

- Tá tudo bem. Vamos, já estou um pouco melhor.

- Shh – Vareta falou quando duas sombras apareceram na encruzilhada à frente.

The Walking Dead Sobreviventes do BrasilOnde histórias criam vida. Descubra agora