21- Diário

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O viscoso sangue vermelho do homem chegou até o pé direito de Angeline. O odor férreo do sangue do homem se misturava aos demais odores da sala.

Céus como esse homem fede. Angeline pensou rapidamente.

Mais vidros quebraram.

- O que fazemos agora? - Hana perguntou.

Angeline Olhou para sua amiga e depois para o grupo de mortos vivos que tentavam entrar pela janela da sala. Depois olhou o corpo do homem.

Fazendo cara de nojo, Angeline se agachou e começou a freneticamente vasculhar os bolsos do homem que jazia no chão da sala.

Hana a observava.

Dentro de um dos bolsos do homem ela achou um caderno. Sua amiga Hana não achou que valesse algo. Mas mesmo assim Angeline achou por bem pegar o objeto. Ela vasculhou mais um pouco e encontrou um molho de chaves, e no meio dele haviam duas chaves de carro.

- Será que...? - Angelina falou para si.

- E aí, encontrou algo? - Hana falou com sua picareta em riste. A moça transpirava, seu sangue martelava seus ouvidos. E sua garganta estava seca.

- Temos uma chance - Angelina falou levantando em triunfo o molho de chaves. Ela colocou o caderno em sua mochila e ficou de pé.

- Vamos descer, Acho que essas chaves são dos dois carros que estão lá em baixo.

Hana anuiu.

Mais vidros quebraram, e um morto vivo caiu para dentro da sala, as duas correram do cômodo antes que o morto vivo vestido com imundas roupas sociais ficasse de pé.

Elas percorreram o corredor. Em uma curva uma morta viva quase arranha Angelina que seguia na dianteira.

A mulher com ensebados cabelos loiros estendeu sua mão em forma de garra e por poucos centímetros não alcançou o rosto de Angelina.

Angelina deu um passo para trás e com seu corpo cheio de adrenalina desferiu com golpe seco no braço da mulher cadáver que tentava lhe devorar.

O membro amputado da criatura caiu perto de Hana, que fez um muxoxo ao ver o braço fétido. Ela chutou o braço e observou Angelina enfiar o facão no olho da morta vida.

Depois de um espasmo a criatura já não era um perigo. As duas desceram um lance de escadas e chegaram até o local onde os dois carros estavam.

Olhando para a rua elas viram que cerca de cinquenta mortos vivos, coisas que um dia foram homens e mulheres estavam forçando a frágil estrutura de metal que as separava das duas mulheres. Alguns ainda mantinham suas estruturas corporais intactas, outras porém eram menos do que vultos do que um dia foram, lhes faltavam braços, orelhas, outros sequer possuíam olhos. Eles eram diferentes, só Deus sabe o que eles passaram na infecção. Mesmo diferentes uns dos outros uma coisa eles possuíam igualmente: o insaciável desejo por carne fresca. A presença das duas mulheres no estacionamento ligou nas criaturas o vil radar que indicava que eles saciariam sua fome.

Angelina foi até o carro mais próximo, pegou o molho de chaves. Escolheu uma delas e tentou colocar na fechadura do veículo. Suas mãos vacilaram e as chaves caíram no chão. Fazendo um estrondo metálico.

Os mortos vivos do outro lado da grade ficaram ainda mais ativos. Orbitas vazias de inteligência, mas cheias de desejo por sangue. Alguns farejavam o ar buscando as partículas que somente um corpo vivo pode emanar.

- Merda - Angeline falou.

- Acho que a grade ainda segura eles por mais uns minutos - Hana falou para sua preocupada amiga.

Angeline colocou a chave no lugar correto e a porta do veiculo abriu. Um sorriso de alivio surgiu em seus lábios

Hana também não conteve o pequeno momento de triunfo. Em um mundo onde tudo está ruindo, o menor dos feitos deve ser sempre comemorado.

Angeline sentou-se no banco do motorista, colocou a chave na ignição. E girou.

Sem perceber a mulher conteve sua respiração. Esperando o carro voltar a vida. Mas o sorriso de Angelina foi morrendo assim como o mundo em que elas agora estavam.

O carro recusou-se a voltar à vida.

Angeline, esmurrou o volante do carro. Hana chegou perto de sua amiga e pegou seu ombro.

- Ainda podemos tentar o outro carro - Hana disse, com meio sorriso no rosto.

Angelina havia escolhido esse carro pois ele aparentava estar em melhor estado do que o outro. Se esse carro não funcionou quais as chances do outro funcionar?

Mesmo sem já nenhum esperança, Angeline saiu do carro e foi até o seguinte. Fez o mesmo ritual, abriu aporta e sentou no banco do motorista.

Esse carro possuía um adesivo com uma sorridente careta presa no para-brisas. Angelina sorriu de volta para o simples pedaço de papel.

Ela colocou a chave na ignição, soltou um suspiro e olhou para Hana. Essa por sua vez passou sua picareta para a mão esquerda e lhe fez um sinal de positivo com a mão direita.

Angeline pegou a chave, fechou os olhos e girou a chave.

O carro deu uma tossida e volto à vida, depois de alguns meses sem uso.

- Uhuuuuu - Angeline gritou sem se importar com os mortos. Fazia tempo que ela não soltava um grito tão alto de alegria. Uma única gota caiu de seu olho direito.

Angelina saiu do carro e deu um abraço em sua amiga.

Elas ouviram gemidos vindos das escadas que elas desceram há pouco. Três mortos vivos estavam descendo. Um tropeçou e caiu. Os outros dois continuaram a descer.

- Vamos - Angelina falou.

As duas entraram no carro. Fecharam os vidros. Angelina estava no volante e manobrou o pequeno veículo.

Mesmo grata por estar com o carro agora Angeline não pôde deixar de sentir saudades de sua moto.

As duas ficaram de frente ara a grade que detinha os mortos vivos.

- Será que esse carro aguenta o impacto?

- Só saberemos se tentarmos - Angelina respondeu.

O carro avançou lentamente. A grade foi cedendo, os mortos foram empurrados para trás. Em determinado momento o carro já não avançava com a velocidade que Angeline lhe infundia.

- Se segura que vou acelerar.

Hana agarrou-se com força ao cinto de segurança que lhe segurava ao assento.

Angelina avançou. A grade rangeu e depois cedeu ao esforço do veiculo. Os mortos batiam nos vidros do carro. Por sorte a movimento da grade sendo empurrada afastou a maior parte dos mortos vivos e assim o carro pôde manobrar.

A frente do carro sofreu danos. Mas Angeline conseguiu distanciar-se da horda de mortos vivos.

- O carro não vai aguentar muito tempo - Angeline disse, e após olhar o marcador do combustível se lamentou por não ter pegado a gasolina do outro carro.

Angeline estava com sua mochila em seu colo. E depois de colocar ela em uma posição mais confortável, suas mãos passaram pela sua nova aquisição. E ela se perguntou o que será que há nesse caderno para que aquele louco o carregasse consigo?

Olhando para rua que se apresentava diante de se Angelina falou para Hana:

- Pegue aqui na minha mochila o caderno que eu peguei com aquele louco.

Hana pegou a mochila de sua amiga e tirou dela o caderno. O objeto possuía uma lustrosa capa vermelha. E suas capas eram fechadas por um tira elástica.

- Veja o que tem nessa coisa - Angelina falou.

Depois de folhear o caderno Hana disse:

- Acho que é um diário.

- Aquele louco tinha um diário? - Angelina disse incrédula - Que espécie de esquisitice aquele lunático registrou?

Hana não tirava os olhos das páginas.

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