15- Sob a chuva

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Hana estava exasperada.

Depois que se distanciou alguns metros de seu veículo ela percebeu que havia deixado a porta dele aberta. Um motociclista veio com velocidade e bateu com toda força. Hana viu a cena atônita.

Por sorte o homem não se feriu com gravidade e fechou a porte lançando pragas. E com movimentos trôpegos pôs-se sobre sua moto novamente e passou ao lado de Hana. Ele nem ao menos a observou.

O clima quente do fim da tarde não impediu que uma forte chuva caísse sobre a cidade de São Paulo. E ela trouxe mais uma preocupação para Hana.

Ela teve que diminuir sua marcha, pois mais pessoas deixavam seus carros. E a chuva e o medo às impedia de se locomoverem com mais velocidade.

A mente dela estava um torvelino de emoções. Sem compreender o que realmente estava passado sobre a ponte. Sua única vontade era de se distanciar o máximo que pudesse da via.

Sempre passando por ali de carro ela não notava o tamanho que a estrutura possuía e já estava começando a sentir o cansaço causado pela longa caminhada.

Sua roupa estava totalmente molhada agora. Seus pés chapinhavam a água que já se acumulava no asfalto da ponte.

A chuva cobriu rapidamente as últimas luzes do sol daquele dia, e as luzes da cidade já estavam ligadas.

A visão de Hana ficava turva por vezes pela junção da água em seus olhos e da luz que os portes emanavam.

Mesmo com tantas pessoas correndo e andando ao seu lado, ela se sentiu só.

Ela tirou uma mecha de cabelo que lhe cobria a visão e mesmo já fatigada decidiu correr novamente.

Correu alguns metros, mas seus sapatos lhe traíram e com a ajuda da água do asfalto lhe levaram ao chão. Hana conseguiu cair sobre o braço esquerdo. Em uma posição que não lhe trouxe graves consequências.

- Droga! – Ela reclamou.

Uma pequena mancha vermelha cresceu no seu cotovelo. Nada grave. Mas não deixava de ser um incomodo.

Uma jovem loira a levantou, Hana agradeceu. A moça meneou a cabeça, entretanto, deixou a presença de Hana rapidamente.

Ela olhou o causador de sua queda e os tirou de seus pés, e começou nova corrida em direção à saída da ponte.

A ladeira que levava para fora da ponte já estava a poucos metros de Hana, ela tomou ânimo para apressar o passo ainda mais. Agora, porém, tomando mais cuidado para não tomar mais um tombo.

De sapados nas mãos, e correndo sob a chuva, Hana conseguiu depois de momentos que lhe pareceram uma eternidade sair da ponte. Ela pensava que fora dela ela poderia encontrar proteção.

Fora da estrutura, o caminho era menos obstruído por veículos. O que estava à frente de Hana, porém era um crescente grupo de pessoas aterrorizadas.

Mulheres choravam. Homens tentavam acalmá-las.

A via à direita de onde ela estava ainda possuía um fluxo constante de veículos. Alheios talvez, Hana pensou, ao que estava acontecendo onde ela esta estava minutos atrás.

Uma viatura veio na contramão da avenida e as pessoas abriram caminho para o veículo passar. Hana pensou que a polícia traria um fim àquela confusão e decidiu sentar-se sobre os blocos de concreto que flanqueavam a saída da ponte. Outras pessoas imitaram seu gesto e descasaram.

A chuva persistia ainda mais forte.

A viatura não ficou longe do grupo que Hana estava, pois carros estavam parados na entrada da ponte. Quatro policiais saíram do veículo.

A viatura lançava suas luzes sob a chuva, e as gotas d'água eram iluminadas por ela. Formando um cenário que trouxe preocupação em Hana.

Poucas pessoas decidiram continuar a se distanciar da ponte. Elas ficaram observando o que aconteceria após a chegada da polícia.

Algumas pessoas começaram a conversar, sobre que havia acontecido. Uma mulher vestindo roupa de academia e com um ferimento no braço tentou explicar o que se passava, mas a chuva impedia que as conversas fluíssem com normalidade, era necessário aumentar a voz uma oitava acima para se fazerem entender. Fato que terminou por inibir as pessoas de conversarem mais. E a mulher desistiu de contar o que havia acontecido com ela.

Hana apenas observava as pessoas.

A atenção dela se voltou novamente para a ação dos policias.

Da ponte ninguém mais veio se juntar ao grupo de Hana.

Os policiais após alguns minutos sumiram da visão de Hana.

Então os disparos começaram. Hana e as demais pessoas se assustaram.

Primeiro ela ouviu um único disparo, seguido de um momento de silêncio. Como se alguém estivesse esperando por algo.

Os disparos então se tornaram contínuos, e mesmo sob forte chuva eram audíveis por Hana.

- Deus, o que está havendo lá?- Ela pensou.

Mais disparos.

Hana levou sua mão direita à boca em gesto de espanto, seus sapados já estavam esquecidos ao lado de seus pés. Mais um pouco e eles seriam levados pela corrente de água que se formava ao lado dos blocos de concreto que serviam de banco para Hana.

Algumas pessoas se levantaram dos blocos e ficaram observando a saída da ponte.

Hana achou entranho nenhum outro carro de polícia vir para o local. Mas ela ouvia ao longe a sirenes vindas de todas as direções da cidade.

Os disparos ficaram frenéticos. E depois de um tempo cessaram.

As pessoas viram um vulto andando rapidamente sobre a ponte. Vindo na direção eles. Era um dos policias. Sua blusa estava coberta de sangue, ele segurava um de seus braços. Quando ele chegou mais perto Hana viu a expressão de horror no rosto do homem.

Atrás dela um homem gritou.

A mulher com roupa de ginastica estava mordendo o pescoço do homem que tentava acalmá-la minutos antes.

O Policial ferido gritou para as pessoas:

- Fujam! Fujam daqui! Aqui não é... - Ele foi interrompido, por um homem que o agarrou por trás e cravo seus dentes em seus ombros.

O policial veio ao chão e o homem rasgou nacos da pele do policial.

As pessoas ficaram novamente em pânico, e correram em todas as direções. Hana pensou em pular as estruturas de concreto, mas desistiu logo depois, pois um homem pulou na via e foi atropelado por um carro que veio em alta velocidade. O corpo do homem subiu três metros e foi parar do outra lada da via.

Ela decidiu seguir em frente. Passou ao largo da mulher com roupa de ginastica e viu a vida se desprendo do homem atacado. Em baixo dele a água da chuva estava tingida de carmesim.

Hana não acreditava em tudo o que estava passando.

Uma das pessoas que fugia da ponte uma mulher, decidiu subir em umas das torres de alta tensão que corriam à esquerda da via, Hana viu o que a mulher pretendia fazer e gritou.

- Não faça isso!

Mas a mulher apenas olhou para trás, com os olhos cheios de pavor e correu em direção da estrutura metálica.

Hana, correu, sem tirar os olhos da mulher, ela viu que a mulher já estava em uma boa altura. Mas aconteceu com a mulher o que Hana temia, a chuva deixou a estrutura escorregadia, a mulher perdeu o equilíbrio, e começou cair, Ela viu que a cabeça da mulher bateu na ferragem da torre depois seu corpo caiu sobre a grama com um baque surto.

Hana não ajudou a mulher, nada havia para ser feito por ela. Mesmo não tendo conhecimentos médicos Hana percebeu que a queda da mulher havia sido letal.

Uma forte luz iluminou Hana, ela se virou para a fonte da luz, era uma moto, pilotada por uma jovem de cabelos vermelhos.

- Ei, suba rápido – A jovem falou.

Hana não pensou, apenas subiu na garupa da moto da jovem, e juntas rapidamente se distanciaram de vez da ponte.

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