Sobreviventes de Belém
Paulo não mais aparentava dor, a chuva já diminuía sua intensidade, Kára abriu algumas das janelas do veículo para que o ar pudesse circular melhor.
Todo tempo que Paulo ficou aos cuidados de Tomás a moça ficou alerta a cada um dos movimentos que o jovem realizava.
Tomás a princípio ficou incomodado com o comportamento de Kára, mas por fim rendeu-se a sensação ruim de se estar vigiado. Ela deveria no fim das contas ter muitos motivos para suspeitar das pessoas.
Kára deu mais alguns comprimidos para Tomás assim com instruções para que ele agisse a dosagem dos medicamentos. Poucas palavras, mas o jovem percebeu que aos poucos estava passando a ganhar a confiança dela, pelo menos era essa a esperança que ele nutria.
O que eu farei agora?
Tomás e Paulo já não estavam tão distantes do destino que haviam traçado, porém o acidente de Paulo mudava a perspectiva de tudo. Como chegaria lá sem serem devorados? Paulo nem mesmo seria capaz de caminhar direito por um bom tempo. Seus recursos também não iriam durar por muito tempo, logo Tomás deveria sair em busca de algo para que pudessem comer. Kará poderia ajuda-lo?
- Você fez tudo isso só para ajudar seu amigo a encontrar a família dele?- Kára perguntou lançando seu olhar ferino a Tomás.
- Depois de ir até a casa dele, nós combinamos que também iríamos em seguida até a minha casa.
Kára ficou calada analisando o que Tomás havia dito.
- E você? Não me respondeu está abrigada aqui por perto?
- Por acaso você vai falando tudo sobre sua vida a qualquer um que aparece?- Kára disse em rodeios.
Tomás sorriu.
- Não, esse não é meu costume- Tomás falou.- às vezes acho que as normas sociais que usávamos antes da epidemia ainda estão em uso.
- Se faz isso é porque é um estúpido. E está vivo apenas por um milagre.
- Não tive muito contato com pessoas depois da epidemia. Paulo foi uma exceção. Antes dele as pessoas com que me aliei, se é que posso dizer isso delas, só fizerem bobagem e tiveram uma morte rápida
- Você teve contato com muitas pessoas? – Tomás continuou.
- Infelizmente sim- O semblante de Kára decaiu.
- Seu contato com elas foi tão ruim assim?
- Mais do que você pode imaginar.
Silêncio.
- Acho que tudo isso que nós estamos vivendo aconteceu pois já estávamos podres a muito tempo – Kára disse olhando as últimas gotas de chuva que ainda caiam.
- Acho que sim também- Tomás completou.
- Vocês tem pelo menos um fio de esperança em que ainda podem se segurar. Pra mim toda minha antiga vida já não existe.
Ela perdeu a família dela toda?
- Mas nosso fio é fino e mais frágil do que podemos pensar- Tomás falou soturno.- Quando chegarmos em nossas casas e não encontramos nada, não sei o que poderei fazer.
- É estranho, mas a única coisa que tenho agora nessa vida é meu amigo Paulo. E veja o estado dele. Ele é a única certeza que eu tenho.
Ela tem alguém?
-Sabe de algum lugar que Paulo e eu possamos nos abrigar até que ele se recupere?
- Se voltarmos alguns metros podemos ficar em uma loja de matérias de construção. Não é um local elevado, porém pelo menos a estrutura do local está ainda intacta e existem muitas fermentas que podemos obter.
Ela vai conosco?
- Acho uma boa opção.
A chuva passou totalmente, perto do ônibus Kára olhou para fora e não viu nenhum morto vivo.
- O que aconteceu?- Paulo disse ainda maio zonzo ao despertar.
- Você atropelou um maldito morto vivo- Tomás falou.
- É, acho que lembro agora.- Paulo disse pegando sua perna direita- Onde estamos?
- Estamos perto de onde você caiu. Dentro de um dos ônibus.
Paulo olhou em volta e deve-se ao perceber a figura de Kára alguns metros à frente olhando-o com curiosidade.
- Tem certeza que eu não morri? – Paulo disse olhando para Tomás.
- Se for o caso morremos juntos então.
Os homens sorriram, o esforço fez a perna de Paulo protestar.
- Pensei que você que fosse cair quando te vi andando todo duro sobre a bicicleta e no fim eu quem me dei mal.
- Isso que dá ser confiante demais- Tomás disse.
- Quem é ela- Paulo perguntou.
- Eu sou Kára- A jovem respondeu antecipando-se a Tomás que ficou de boca aberta sem emitir som algum.
- Ela nos ajudou- Tomás disse- inclusive você não está pior porquê ela nos cedeu alguns dos seus medicamentos.
- Muito obrigado Kára- Paulo disse.
- Dói muito?- Kára perguntou apontando para a perna de Paulo.
- Está passando eu acho.
- Consegue andar?
- Acho que sim- Paulo segurou-se em dois bancos e fez esforço para erguer-se. O esforço fez sua perla latejar de dor. Mas ele não desistiu.
- Vai com calma – Tomás falou. Mas Paulo Já estava de pé com o rosto suado.
- Acho que você vai conseguir chegar até lá.
- Onde?- Paulo perguntou para Tomás.
- Kará propôs que a gente fique um tempo em uma loja de matérias de construção que fica mais para trás de onde estamos. O que você acha?
- Acho boa a ideia, principalmente pois do jeito que estou não vou conseguir correr nem de um morto vivo sem as duas pernas.
Paulo e Tomás sorriram, Kará apenas inclinou levemente seu lábio.
Já é um começo. Tomás pensou.
- Acho que podemos improvisar uma muleta pra você.- Kára disse, a jovem passou por Paulo foi até o mecanismo das portas e abriu uma delas e saiu.
- Volto Já.- Ela disse saindo sem olhar para trás.
- Que sorte ela encontrar ela não?- Paulo falou.
- Ela que nos encontrou. E sim, uma baita sorte.- Tomás olhou a jovem andar lentamente entre os veículos parados até que ela sai de vista. O jovem temeu, mas poucos segundos depois ela veio com alguns pedaços de madeira.
- Acho que por hora isso deve bastar.- Kára falou- Quando chegarmos na loja poderemos fazer uma muleta melhor.
Kára cortou um uma pequena serra que possuía uma das madeiras que trouxera, em seguida a deu para Paulo.
- Não ficou como queria, mas enfim.
- Obrigado- Paulo disse. E se perguntou quantas vezes mais agradeceria a jovem.
Tomás observava tudo com fascínio em seu olhar.
- Vamos?- Kará disse depois de Paulo testar sua muleta improvisada.
- Vamos!- Paulo e Tomás falaram em uníssono.
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The Walking Dead Sobreviventes do Brasil
FanficA epidemia de mortos vivos se alastra por todo mundo. E no Brasil dia após dia a sociedade está em declínio, as instituições governamentais ruíram. Neste fanfic apresento a luta pela sobrevivência em cidades brasileiras.