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A máscara branca. A garota misteriosa da festa em Chicago, aquela que perturbara minha mente por um bom tempo. Até Ana, ou como diabos ela se chamasse, aparecer. Contendo uma risada amarga, de escárnio com minha própria idiotice, levantei, desistindo de achar a maldita cueca perdida. Quem se importava com aquilo? Definitivamente, aquele não era o meu maior dilema no momento. Em dois movimentos, vesti a calça e voltei a perambular pelo quarto. O barulho do chuveiro ainda era audível, mas nem um pouco reconfortante. Vasculhei tudo com os olhos, cada pequena coisa que pudesse me levar à algum lugar seguro. O cheque mate. O ponto sem volta em que eu não pudesse mais negar o que era óbvio. E por mais que tudo levasse a uma mesma estúpida e absurda conclusão, eu precisava de algo como aquilo. Ou então continuaria relegando tudo o que acontecia à algum devaneio fora de hora de uma mente insana; a minha.

Larguei a máscara sobre a cama e segui para o armário embutido, escancarando duas portas de uma vez. Roupas, acessórios, bugigangas femininas infindas. Tudo na mais perfeita ordem. Corri os dedos pelas roupas, nada revelador. Fechei as portas e parti para as outras duas. Eram gavetas com lingeries, maquiagens e coisas pequenas. Porém, na prateleira de cima, algo chamou minha atenção.

Um envelope branco destoava do ambiente. Peguei-o e, sem me importar com o errado daquela situação, abri. Dentro haviam duas passagens, ironicamente da minha Companhia Aérea, com destino ao Colorado, para o dia seguinte. Contudo o que prendeu minha atenção e fez com que meu estomago revirasse ruidosamente, num giro completo, foi o nome que encabeçava o bilhete.

Estava feito. Meu ponto sem volta havia sido encontrado.

Anahí Giovanna Puente Portilla.

Eu precisei ofegar por três vezes, repetidamente, para fazer com que o ar me chegasse aos pulmões. Se antes estava confuso, atordoado, desesperado, agora eu estava em choque. Meus olhos fitavam sem ver o nome rebuscado na passagem aérea. Eu não sentia nada. Era um vazio de sensações tão absurdamente estranho quanto aterrorizador. Meus dedos tremiam, e isso eu conseguia sentir. Anahí. Com que objetivo tudo aquilo... Deus, interrompi o fluxo de pensamentos, como eu não a reconheci?!

Anahí: o que você pensa que está fazendo mexendo em minhas coisas?

O som de sua voz me fez quase dar um pulo, assustado. Eu não havia ouvido o chuveiro desligar, nem a porta se abrir. Para falar a verdade, eu não fazia ideia do tempo que tinha ficado ali, olhando aquela passagem, aturdido - se um minuto ou meia hora. Apesar do tom imperativo, eu não me virei de imediato. Ao invés disso, tentei mais uma vez, em vão, controlar a respiração.

Em seguida, girei o corpo, lentamente, e meu olhar encontrou o dela.

"Mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado." (Caio Fernando Abreu)

Parada a poucos passos de onde eu estava, ela me olhava, o cenho franzido em ultraje. Mais uma vez eu precisei conter a risada amargamente irônica que insistia em querer escapar de minha garganta. Eu era o único ali com o direito de ostentar aquela expressão.

No this isn't what I wanted,

Eu sei que isso não era o que eu queria

Never thought it'd come this far,

Nunca pensei que isso chegaria tão longe

Thinkin' back to where we started

Apenas pensando em voltar pra onde nós começamos

And how we lost all that we are

E como perdemos o que nós erámos.

Porém, antes que eu pudesse espantar toda aquela sensação de torpor que me impedia de falar, questionar ou, simplesmente, agir, os olhos dela - aquele azul tão profundo e tão ironicamente conhecido -, pareceu se alarmar com o que encontrou nos meus. Sua atenção voltou-se para as minhas mãos, ou melhor, para o que havia preso entre elas. O papel com a logomarca da CHR Air Lines, agora amassado entre meus dedos, fez com que seus olhos se arregalassem e o ar sumisse. Estávamos na mesma situação, exceto pelo fato de que ela me devia uma explicação.

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora