Mas pelo visto, ela não entendeu. Vez ou outra comemorava um ponto por engano, e sempre ria quando percebia a besteira que havia feito. Aliás, apesar de totalmente fora de ambiente, ela parecia se divertir. De vez em quando eu desviava a atenção do jogo e fixava meu olhar nela, no seu sorriso animado e nas caretas que sempre fazia quando o batedores se jogavam no chão da última base, levantando poeira, como se aquilo fosse a coisa mais nojenta e sem sentido do mundo. Podia parecer piegas, e até mesmo descondizente com minha filosofia de vida no que diza respeito à relacionamentos, mas poucas vezes eu havia me divertido tanto com uma mulher sem ter no mesmo ambiente uma cama e nenhuma roupa. Ana Nicholls era alguém bem mais especial do que eu esperava que fosse.
Anahí: estamos ganhando! - comemorou quando o jogador do Red Sox errou a terceira bola seguida e ganhamos o quarto inning. - Caramba, isso até que é divertido.
Alfonso: doçura, nós não perdemos pros Red Sox em casa desde 1918 - comentei com um meio sorriso esnobe. - Quer cachorro-quente? - perguntei ao ver o vendedor passar ali no corredor.
Ela fez que sim com um gesto de cabeça e eu chamei o vendedor. Em minutos estávamos cada um com um super hot dog nas mãos, embora aquilo quase me tenha feito ter uma indigestão quando vi os Yankees perdendo o inning seguinte. Estávamos empatados e o jogo estava terminando.
Anahí: ei, vire aqui - eu desviei a atenção do campo, terminando de engolir o último pedaço do cachorro-quente, e a olhei. Porém, antes que eu pudesse perguntar o que queria, ela aproximou o rosto e lambeu o canto esquerdo de meus lábios, naturalmente. - Mostarda. Eu adoro.
Não consegui responder por alguns bons segundos, surpreso, e realmente devia estar parecendo bem idiota ali, olhando para ela mudo, que, por sua vez, me sorria inocente. Por sorte, o momento de mudez surpresa passou logo e minha garganta liberou uma risada alta, ao mesmo tempo em que minhas mãos puxavam-na pela cintura para mais perto e eu terminava o que ela havia começado como uma provocação.
Anahí: diga que nós não estamos aparecendo no telão, nosso beijo para todo o estádio ver, daquele jeito bem clichê dos filmes água com açúcar - murmurou, ainda de olhos fechados e com a testa colada à minha, quando nos separamos do beijo. Eu sorri e levantei os olhos, procurando o telão.
Alfonso: não, pode ficar tranquila. Passamos por essa incólumes.
Sorrindo, ela abriu os olhos e olhou em volta.
Anahí: ótimo. Muito bom - passou a mão nos lábios vermelhos pelo beijo. - Para melhorar, só precisamos ganhar.
Por Anahi
Mas nós não ganhamos. Para a completa frustração e revolta de Poncho, que viera o caminho inteiro do estádio até o apartamento resmungando contra o 'maldito último rebatedor de merda' dos Yankees, que perdera as três bolas a que tinha direito e, com isso, o jogo. Depois de quase um século, éramos derrotados em casa. E ele achou uma boa explicação para aquele grande absurdo, é claro.
Alfonso: você é pé frio, Nicholls. Não há o que se discutir - resmungou num muxoxo, enquanto esperávamos o elevador subir e parar em nosso andar.
Anahí: e agora a culpa é minha, que maravilha - sorri condescendente, enfiando uma mão sob seu braço direito e me apoiando nele.
Alfonso: anjo, os Red Sox sempre perdem e, justamente quando te levo ao jogo, eles ganham. Tem alguma outra explicação? - brincou.
Ri, apertando-lhe o braço, confortante.
Anahí: vamos, Poncho, foi só um jogo.
Alfonso: foi um jogo contra os Red Sox. E nós perdemos.
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O Pecado Mora Ao Lado
Roman d'amourAlfonso sempre foi um playbozinho quando adolescente; no colégio, o mais popular, o mais bonito, o menos acessível, aquele com quem as meninas dariam tudo para serem vistas em companhia. Aquele que brincava com tudo e com todas; aquele que fazia apo...