O dia amanheceu nublado, mas não tinha cara de que iria chover. Passei pelo quarto de Anahí, mas ela não estava lá. Estranhei, passava pouco das nove da manhã. Desci as escadas, procurando-a. Mamãe estava na cozinha, supervisionando os preparativos para mais tarde. Dei-lhe um beijo na bochecha, parabenizei-a pelo aniversário e perguntei por Anahí. Ela não sabia, a tinha visto há algum tempo, mas não sabia para onde tinha ido depois de tomar um copo de suco como café da manhã. Franzi o cenho. Maite não estava em casa, tinha ido ao centro da cidade buscar seu vestido. Voltei para a sala e olhei em volta. Um ventinho fresco entrava pela janela, balançando as cortinas. Caminhei até lá, e então a vi. Aninhada em uma das cadeiras da varanda, Anahí olhava para o nada. Parecia desligada, outra vez perdida em seus próprios pensamentos. A chamei, ela não ouviu. Rumando para a porta, fui até ela.
Alfonso: bom dia.
Com um breve estremecer assustado, ela me encarou.
Anahí: bom dia.
Alfonso: estive te procurando por toda a casa - comentei, parando à sua frente. - Não sabia que você tinha o hábito de acordar cedo mesmo quando não há necessidade.
Anahí: e eu não tenho - deu de ombros. - Mas não consegui dormir direito. Já estava rolando na cama, resolvi descer.
Enruguei a testa, preocupado.
Alfonso: sentiu alguma coisa?
Anahí: não. O bebê está bem.
Olhei-a em silêncio por alguns segundos. Ela não revidou meu olhar, ao invés disso, voltou a encarar a imensidão vazia à sua frente.
Estava abatida. Alguma coisa havia acontecido.
Alfonso: e você? - perguntei, sentando-me ao seu lado. - Você está bem?
Ela me olhou. E olhou. Então suspirou.
Anahí: está tudo bem, Poncho. Não precisa se preocupar.
Alfonso: eu me preocupo - dei de ombros, meio sem jeito ao confessar minha preocupação constante e demasiada.
Com um pequeno sorriso, ela levou uma das mãos até minha perna e a acariciou de leve.
Anahí: eu sei - afirmou. - Mas não precisa, eu estou bem.
Bem... bem frágil. Eu podia ver as marcas fundas embaixo de seus olhos. O sorriso era fraco e a voz não tinha toda aquela energia que lhe era habitual. Ela estava tudo, menos bem.
E eu tinha uma vaga ideia do que poderia ter ocasionado aquilo.
Contendo um suspiro, peguei sua mão.
Alfonso: vem comigo - levantei, puxando-a comigo. Ela levantou também, confusa. - Eu quero te mostrar uma coisa.
Anahí: o que é?
Alfonso: algo que você precisa ver.
Sem mais explicações, levei-a até meu quarto. Carreguei-a até minhas lembranças.
Eu não sabia se aquilo era o certo a fazer, mas sabia que precisava. Por mim, por nós dois, por aquele bebê que estava chegando.
Há algum tempo eu tinha desistido de tentar fazê-la entender, ou, se não, quem sabe ao menos perdoar meus erros do passado. Ela não queria ouvir, e eu tinha realmente cansado de insistir. Eu havia desistido. Mas então veio aquela gravidez, a reaproximação (quase) amigável...
E agora aquela viagem.
Se algo precisava ser resolvido entre nós (e precisava), aquele seria o lugar ideal. Ali estava o nosso passado, naquela cama estavam todas as lembranças da primeira vez em que realmente ficamos juntos. Naquela cidade estava o começo e o fim de uma relação que tinha tudo para dar certo, não fosse minha imaturidade e um punhado de mal entendidos.
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O Pecado Mora Ao Lado
RomanceAlfonso sempre foi um playbozinho quando adolescente; no colégio, o mais popular, o mais bonito, o menos acessível, aquele com quem as meninas dariam tudo para serem vistas em companhia. Aquele que brincava com tudo e com todas; aquele que fazia apo...