Naquela mesma tarde voltávamos para Nova York.
As despedidas foram festivas, Ruth insistira para que eu voltasse logo, com Armando lhe fazendo coro. E como em poucas vezes, eu me senti verdadeiramente querida.
Uma sensação de nostalgia me atingiu em cheio logo que deixamos a cidade, rumo ao aeroporto. Deixei meu olhar se perder pela janela, estrada a fora. Poncho estava no banco do carona, ao lado de Maite, que ainda ficaria alguns dias na casa dos pais (graças ao seu chove-não-molha incessante com Christian), enquanto eu ia sozinha no de trás.
Aqueles dias foram mágicos, mas a incerteza do que nos aguardaria em Nova York já começava a pesar.
Depois de nos despedirmos de Maite, embarcamos. Poncho, como sempre atencioso e carinhoso, fez de tudo para que eu me sentisse confortável. Vez ou outra puxava um assunto, fazia um carinho, dizia alguma bobeira que me fazia rir. Mas, ainda assim, meus pensamentos custavam a ficar ali.
Alfonso: no que você está pensando?
Sua voz me trouxe de volta à realidade.
Anahí: em nada demais - desconversei. Eu não queria enchê-lo com minhas inseguranças antes mesmo de estarmos de volta em casa. - Estava pensando sobre o nome do bebê. Nós precisamos escolhê-lo logo.
Sua primeira resposta foi um largo sorriso, em consentimento.
Alfonso: também acho. Ficar chamando de bebê, filho é meio impessoal demais.
Anahí: então nós precisamos pensar nisso - afirmei. - Mas que fique claro que a decisão final será minha. Eu tenho mais direitos, vide minha enorme barriga!
Ele riu, alto.
Alfonso: tudo bem. Contanto que não seja um nome de mau gosto.
Anahí: eu não tenho mau gosto!
Alfonso: é verdade... Eu sou o pai do seu filho - emendou, esnobe. - Seu gosto é excepcional.
Por Alfonso
Anahí: você é mesmo um estúpido prepotente! - falou resmungona. - Espero que meu filho não puxe esse lado obscuro da sua personalidade.
Eu sorri, apertando de leve seu nariz.
Alfonso: tudo bem. Contanto que ele tenha meus lindos olhos verdes.
Ela resmungou outra vez, mas em meio a uma risada. Eu enlacei-a pelos ombros.
Alfonso: na verdade, é mentira.
Anahí: o quê? - questionou, a cabeça recostada em meu peito.
Alfonso: eu acho que prefiro que ele tenha seus olhos - ela suspendeu o rosto e aquele azul ao qual eu me referia me atingiu em cheio. - E sua boca - toquei de leve seus lábios. - Seu sorriso - ela sorriu. - Acho que ele pode ser todo você - dei de ombros. - Eu não vou me importar.
Anahí: aí seria beleza demais pra uma única criança - foi sua vez de sacudir os ombros. - Você sabe.
Alfonso: claro - balancei a cabeça, rindo. - E quem era o prepotente aqui?
Sorrindo, ela voltou a aconchegar o rosto em meu peito.
Anahí: eu quero as suas covinhas.
Alfonso: mas elas são minhas - brinquei.
Anahí: você entendeu - resmungou. - Eu quero que ele tenha as suas covinhas quando sorri. - Sorri e fiquei observando enquanto ela pegava minha mão e olhava meus dedos. - Acho esse dedinho torto um charme também.
Minha gargalhada daquela vez foi alta.
Alfonso: você quer que nosso filho tenha um dedo torto?
Anahí: eu acho o seu bonitinho - balançou os ombros.
Alfonso: Anahí...
Anahí: tudo bem. Eu me contento só com as covinhas. - Me olhou. - Tudo bem pra você?
Girei os olhos, sorrindo.
Alfonso: tudo. Agora quanto aos nomes...
Anahí: eu estive pensando em Forrest...
Arregalei os olhos.
Alfonso: GUMP?
-
Calma, era brincadeira.
Para a minha sorte, seu gosto não era duvidoso àquele extremo e logo ela caiu na gargalhada, anunciado que, obviamente, estava brincando. Menos mal. Não que tenhamos chegado à alguma conclusão até que o avião pousasse e estivéssemos de volta à Nova York. Nós não chegamos. Percebi ao longo daquelas poucas horas de viagem que teríamos um sério problema quanto à escolha daquele nome.
Anahí: ah, não, eu quero algo curto - resmungou, não pela primeira vez, enquanto esperávamos o elevador parar em nosso andar. - Fácil de pronunciar... nada muito fora dos padrões como... Alfonso - zombou, mostrando a língua.
Alfonso: sim, claro - concordei, divertido. - Anahí é mesmo um nome bem dentro dos padrões.
Anahí: isso não vem ao caso - dispensou, com pouco caso.
Alfonso: claro que não - debochei, achando graça.
O elevador chegou e ela saiu, esquecida de dar prosseguimento à nossa conversa. A acompanhei de perto, minha mala e as dela em mãos. Vi quando ela parou, à meio caminho de seu apartamento, e a atmosfera mudou. Tentei não me alarmar com o olhar impreciso que ela me lançou antes de dar mais um passo, meio incerta.
Eu conhecia Anahí. Aquele não era um bom olhar.
Anahí: então... chegamos. - Voltou a falar ao parar em frente à sua porta. Eu a olhei, o cenho levemente franzido. - Acho que... eu... a gente se fala depois, não é? Sobre o nome e... bem, tudo.
Ela estava nervosa.
Alfonso: e você não vai me convidar pra entrar?
Surpresa, ela suspendeu uma das sobrancelhas perfeitamente moldadas. Eu dei de ombros, descontraído, tentando quebrar aquele clima estranhamente constrangedor que se formara entre a gente de uma hora para a outra. E, então, ela sorriu.
Anahí: não. Você vai pra sua casa, eu vou pra minha.
Alfonso: mas você precisa de alguém que carregue suas malas - suspendi os braços, mostrando-as. - Eu sou esse alguém.
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O Pecado Mora Ao Lado
Lãng mạnAlfonso sempre foi um playbozinho quando adolescente; no colégio, o mais popular, o mais bonito, o menos acessível, aquele com quem as meninas dariam tudo para serem vistas em companhia. Aquele que brincava com tudo e com todas; aquele que fazia apo...