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Alfonso: o que houve, anjo?

Levantando os olhos do prato intocado à sua frente, ela me encarou. E só encarou por longos segundos. Franzi o cenho. Desde que nos encontramos, depois que voltei da Companhia, ela estava estranha. Parecia em órbita, totalmente introspectiva e calada. Ainda não tinha tocado no prato de salada e respondia todas as minhas tentativas de iniciar uma conversa com monossílabos.

Algo havia acontecido, e quando ela desviou os olhos dos meus, daquele jeito que sempre fazia quando queria fugir de um assunto ou esconder alguma coisa, eu tive a certeza.

Alfonso: Anahí?

Anahí: não houve nada - finalmente respondeu, fingindo comer um pouco da salada. - E o problema na empresa? Resolvido?

Firmei o olhar no dela por mais tempo que o necessário, tentando dizer-lhe, talvez, que eu sabia que havia algo de errado em tudo aquilo e que suas tentativas de fugir do assunto não surtiriam efeito.

Alfonso: sim. Já está tudo dentro dos eixos - afirmei. - Diferente disto aqui.

Anahí: o quê?

Alfonso: você.

Anahí: eu não estou nos eixos? - tentou uma brincadeira, mas eu percebi que seu sorriso era forçado. - Também, com toda essa gordura acumulada, impossível que alguém fique no eixo, não acha?

Alfonso: sabe, eu te conheço... - ela mexeu na comida outra vez, desviando brevemente o olhar. Voltou a me encarar com a expressão um pouco mais decidida. - Nós já tivemos problemas demais ao longo de todo esse tempo para eu saber reconhecer quando algo não vai bem. E algo não vai bem neste momento - afirmei. - Me conta.

Ela franziu o cenho.

Anahí: não há o que contar, Poncho. Não seja paranoico, esse papel é meu e eu o desempenho muito bem, lembra? - mostrou a língua numa pequena careta. - Está tudo bem, eu só estou um pouco cansada.

Analisei-a demoradamente, como se buscasse o fio perdido em toda aquela história. Ela não se abalou.

Alfonso: o que você fez depois que eu saí?

Anahí: olhei umas coisas para o programa, vi uns e-mails...

Alfonso: você não ia passear com o Peg?

Anahí: fiquei com preguiça.

Alfonso: nesses e-mails que você viu... - tentei, sabendo que provavelmente não conseguiria arrancar-lhe nada. - Algo de errado?

Anahí: não - e aí, riu. - Poncho, pelo amor de Deus, está tudo bem!

Alfonso: por que algo me diz que não é verdade?

Anahí: deve ser porque realmente nada ficará bem se você continuar com essa cisma - ameaçou, com a expressão fechada. - Estou me irritando.

Alfonso: se houvesse algo, você me contaria, não é? - questionei, ignorando sua brincadeira com um pequeno sorriso. - Aquilo de confiança, de não deixar nada não dito para não causar problemas maiores depois... lembra?

Ela deixou o meio sorriso que forçara antes morrer. Bebeu um pouco do suco, calmamente, e me encarou.

Anahí: contaria, Poncho. Claro que contaria.

-

Por Anahi

"E era por isso que ela gostava daqueles abraços. Os apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que havia de mais bonito." Caio Fernando Abreu

O Pecado Mora Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora